Esportes

Como São Caetano pode vencer
a Ferroviária e chegar à decisão?

DANIEL LIMA - 31/10/2016

A pergunta que precisa ser respondida sobre o jogo entre São Caetano e Ferroviária de Araraquara neste final de semana no Estádio Anacleto Campanella pela semifinal da Copa Paulista (que garante vaga à Série D do Campeonato Brasileiro do ano que vem) é a seguinte: olhando-se o confronto pelo lado da região, como o time de Luiz Carlos Martins poderá chegar à vantagem ao final dos dois jogos de mata-mata? 

Vou tentar responder, mas sem deixar de chamar a atenção dos leitores ao risco que isso implica. É mais exercício de chutometria do que de análise acurada. Mas acho que devo especular. A avaliação servirá, no mínimo, para enquadrar os dois jogos numa perspectiva de referencias. 

Só peço que não me cobrem pelas afirmativas que vão seguir porque, repito, trata-se simplesmente de especulação tática e técnica, sem aprofundamento suficiente para dar aos leitores a garantia de que estou seguro de que não haveria atropelos. O jogo do final de semana na região poderá aprofundar ou minimizar minhas observações. 

Vou ser breve porque, ao contrário do São Caetano, que conheço bem tanto individual como coletivamente, a Ferroviária me é bastante estranha. Via a equipe em campo apenas nas imagens de computador que captou a transmissão ao vivo no site da Federação Paulista de Futebol, no empate de um a um com o Nacional, na Capital. Foi o primeiro jogo das quartas de final. No final de semana tivemos o segundo, em Araraquara, e a Ferroviária venceu por dois a um. Enquanto isso, depois de vencer o Bragantino no Interior por um a zero, o São Caetano repetiu o resultado diante de sua torcida. 

Juventude e mobilidade

Sei que é muita pretensão tentar definir a Ferroviária por menos de 90 minutos, mas vamos em frente. Trata-se de um time jovem que faz da velocidade, da troca rápida de passes, dos ataques com muita mobilidade e dos contragolpes a base de lançamentos em diagonal o conjunto do arsenal ofensivo. Tem, portanto mais densidade na ocupação de espaços gerais do gramado do que São Caetano, que é um time mais lento, mais programado, mais racional. Isto mesmo: o São Caetano é a racionalidade em forma de time de futebol, enquanto a Ferroviária é a emoção, a transpiração, o quase voluntarismo. 

Ora, diante disso, está claro, mais que claro, claríssimo, que há uma vereda a ser explorada pelo São Caetano: utilizar a experiência da maioria de seus jogadores, como o fez nos confrontos com o Bragantino, por exemplo, para desestabilizar o adversário. O que poderia definir esse confronto da semifinal da Copa Paulista seria a inteligência emocional do grupo. Se o São Caetano aplicar nos dois jogos seu padrão de jogo mais vagaroso, mais pensado, mais cirúrgico, opondo-se portanto à velocidade, à movimentação e à resistência física da Ferroviária, a classificação à decisão provavelmente contra o Rio Claro estará garantida.

Não me peçam avaliação individual da Ferroviária porque a visão de jogo e, principalmente, de apenas um jogo a que assisti do time de Araraquara não permite tamanha coragem ou estupidez. Minha preocupação naquele Nacional versus Ferroviária foi o conjunto do time da Ferroviária. Gostei do que vi como coletivo, mas o buraco me pareceu estar no desequilíbrio entre a procura do gol e os cuidados defensivos. 

O São Caetano é o inverso dessa moeda, porque se excede no defensivismo em detrimento da ofensividade. Se contar com o centroavante Jô, sempre emperrado fisicamente, pode compensar essa dicotomia, mesmo sem deixar de ser mais defensivo. 

Comparando os números 

Chegara eu a essas alturas do texto quando decidi tomar uma providência que deveria ter tomado bem antes, muito antes de começar a escrever. Fui aos números das duas equipes no campeonato. Querem saber? Foi ótimo que tenha negligenciado a consulta, porque nada do que escrevi acima está desfocado. Muito ao contrário: está de acordo com minha especulação. 

A numeralha indica que a Ferroviária tem desempenho levemente superior ao São Caetano, mas a diferença é escassa a ponto de sugerir que a equipe da região atuaria como coadjuvante.  E mesmo assim, convém lembrar, que nada deve ser visto com rigidez teórica. As duas equipes enfrentaram adversários distintos ao longo da competição. Quem garante que os confrontos da Ferroviária tiveram como antagonistas equipes mais bem preparadas do que os confrontos do São Caetano? Dispensando-se essas peculiaridades, o que temos é exatamente o seguinte:

A Ferroviária disputou 20 partidas nas três fases já encerradas. Ganhou 47 pontos. São 78,33% de aproveitamento. O São Caetano disputou 18 jogos, acumulou 42 pontos e chegou ao índice de aproveitamento de 77,77%. São as duas melhores equipes do campeonato, mas se enfrentarão na semifinal porque a Federação Paulista de Futebol cometeu uma barbaridade regulamentar.

As comparações entre os dois semifinalistas não se encerraram. A Ferroviária conta com sistema ofensivo mais efetivo que o do São Caetano, ao marcar 45 gols em 20 jogos. Média de 2, 25 gols por jogo. O São Caetano marcou 29 gols em 18 jogos, média de 1, 61 por jogo. O sistema defensivo do São Caetano é mais efetivo: sofreu sete gols em 18 jogos, o que significa média de 0,38 por jogo. A Ferroviária sofreu 10 gols em 20 jogos, média de 0,50% por jogo. 

Nota-se, a favor do São Caetano, que a maturidade do elenco parece já estar fazendo a diferença. Nos últimos oito jogos das duas fases anteriores (oitavas de final e quartas de final), o São Caetano sofreu quatro gols. A Ferroviária sofreu oito igualmente nos últimos oito jogos. Nada, nada, é o dobro. 

Acho que o caminho das pedras é o São Caetano explorar o contraponto da juventude que o adversário lhe oferece: a possibilidade de instabilidade emocional. Neutralizar a Ferroviária no que tem de melhor – a imensa capacidade de multiplicar espaços ofensivos, que a estatística só confirma – é uma arma que tem tudo a ver com o controle tático dos dois jogos, que, por sua vez, depende do estado da alma de cada grupo de jogadores. 

Trata-se, como se vê, de um confronto em que a inteligência emocional parece mais apropriada aos objetivos do São Caetano do que as virtudes técnicas e táticas. Vamos conferir.

O outro jogo da semifinal entre Rio Claro e XV de Piracicaba dificilmente deixará margem a dúvidas: o time de Sérgio Guedes passara sem dificuldades adicionais às previstas de uma fase de mata-mata. O time de Sérgio Guedes é o Rio Claro.



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