Para saber até que ponto o São Caetano poderá chegar à decisão da Copa Paulista e garantir uma vaga na Série D do Campeonato Brasileiro do ano que vem é preciso responder à pergunta do título. Mas antes é indispensável entender o sentido da indagação. O questionamento tem muito mais a ver com o comportamento da equipe no primeiro jogo do mata-mata da semifinal de sábado no Estádio Anacleto Campanella do que propriamente com o resultado de zero a zero. É verdade que o placar favorece grandemente o time do Interior no jogo de volta, mas isso não é tudo.
Insiste-se na pergunta: qual São Caetano vai decidir a vaga? Se for o time do segundo tempo, dificilmente deixará de comemorar classificação à decisão. Se for o dos primeiros 20 minutos, adeus viola. Se for dos últimos 25 minutos do primeiro tempo, terá sérias complicações. Agora as explicações que justificam a origem do título.
Primeiros 20 minutos
O São Caetano dos primeiros 20 minutos sofreu desconforto demais com a força de um adversário compacto e envolvente. A Ferroviária parecia uma máquina de triturar adversários. Explorava com rapidez e inteligência as beiradas dos campos e avançava pelo meio com bola ou sem bola como se fosse um pelotão aniquilador. O São Caetano não replicava a densidade ofensiva e defensiva. Parecia que havia dois jogadores a mais com a camisa grená. Estava ali diante dos olhos dos torcedores o time capaz de produzir os melhores 20 minutos da competição.
Equilíbrio em seguida
Daí em diante até o final do primeiro tempo o São Caetano foi se ajeitando taticamente. Acertou a marcação pelas laterais e os dois meias de articulação (Norton e Paulinho) passaram a acompanhar mais de aperto o avanço dos meio-campistas adversários. Aos poucos, também, os lançamentos contínuos e óbvios perderam a rotina que não surpreende em favor de mais trocas de passes mais verticais.
Os laterais Grafite e Bruno Recife continuaram a ser explorados e já não se descuidavam mais da marcação. Coletivamente o São Caetano se acertou e terminou o primeiro tempo sugerindo que a diferença que o separava da Ferroviária, time de melhor campanha, já não era tão elástica a ponto de tornar obrigação a necessidade de vitória por dois gols de diferença em casa para ter condições de voltar classificado do Interior.
Domínio completo
No segundo tempo só deu São Caetano. A Ferroviária já não reproduzia a conexão e a intensidade de atacar e defender em bloco. O São Caetano passou a contar mais com Paulinho como desbravador dos espaços por dentro do campo, reforçando a tática intensamente explorada de atacar pelas laterais. À direita Grafite saiu contundido. Entrou Paulo Santos, um meio-campo treinado para ocupar a extremidade. Quanto mais o relógio corria mais o São Caetano dominava. Tanto que perdeu pelo menos três grandes oportunidades de gols. A Ferroviária já não detinha a posse de bola. Só lhe restou recuar para sustentar o resultado. Nem mesmo ameaçou nos contragolpes porque o São Caetano encurtava os espaços com o avanço dos zagueiros e impedia qualquer tentativa de lançamento.
O resultado numérico foi injusto para o São Caetano, mas o recado que a equipe deixou à crítica e aos torcedores foi objetivamente claro: mesmo sem a vantagem no placar é possível que, se repetir o empenho, a determinação e as virtudes coletivas e individuais do segundo tempo, dificilmente deixará Araraquara sem festejar.
Produção elevada
Mas é justamente esse o grande desafio. Se não reproduzir durante a maior parte do jogo em Araraquara os 45 minutos do segundo tempo do Estádio Anacleto Campanella as possibilidades de sucesso do São Caetano serão escassas. A Ferroviária é um time muito bem organizado, dinâmico, contundente nas investidas e não oferece muitas oportunidades ao adversário porque joga em blocos compactados. O que lhe falta, entretanto, o São Caetano tem de sobra, e isso pesou bastante no primeiro jogo: experiência.
O São Caetano tem média de idade mais elevada. Maturidade costuma fazer diferença em jogos decisivos. Desde que prevaleça sobre a vitalidade e a velocidade da juventude que a Ferroviária tem de sobra. Nos primeiros 20 minutos o São Caetano sofreu para resistir à Ferroviária porque não interrompeu o circuito de mobilização contínua dos jogadores adversários. O time do Interior não pode se sentir dono do jogo como o fez naquele período no Estádio Anacleto Campanella. Seria fatal ao São Caetano num estádio que deverá estar coalhado de torcedores. Quebrar o ritmo de jogo da Ferroviária é questão de sobrevivência.
Rescaldos emocionais
Também não se podem desprezar os rescaldos emocionais do jogo de sábado. Os jogadores da Ferroviária deixaram o campo mais satisfeitos com o empate fora de casa, mas isso é apenas uma parte da verdade. A outra é que esses mesmos jogadores sentiram provavelmente pela primeira vez numa competição em que só foram derrotados uma única vez (para o rival Catanduvense, fora de casa, quando o jogo nada valia) que encontraram um adversário que os empurrou defesa adentro para sustentar o placar.
Ou seja: o empate só se tornará vantagem de fato se a Ferroviária vencer o jogo de volta do mata-mata. Caso de repetição da igualdade, a decisão será na cobrança de penalidades máximas. Muito provável tanto em Araraquara quanto em Rio Claro, onde o time da casa perdeu como visitante para o XV de Piracicaba por um a zero e precisa de dois gols de diferença para ir automaticamente à finalíssima.
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