Esportes

Que lição o São Caetano deve
tirar de nova derrota decisiva?

DANIEL LIMA - 14/11/2016

O São Caetano vai ficar pelo segundo ano consecutivo, em 2017, fora do circuito nacional do futebol brasileiro. A oportunidade de disputar a Série D do ano que vem foi-se nas cobranças de penalidades máximas em Araraquara, na decisão da vaga à final da Copa Paulista, depois de empate de um a um no tempo regulamentar. Daniel Costa perdeu a possibilidade da vitória por cinco a quatro na primeira série de cobranças e Sandoval errou na primeira cobrança alternada. Agora a Ferroviária decidirá o título com o XV de Piracicaba, vencedor do duelo como visitante em Rio Claro, por dois a um.

Ao contrário das outras três vezes em que deixou a certeza de que não estava preparado taticamente para chegar ao objetivo traçado, o São Caetano desta Copa Paulista e, sobretudo da fase de mata-mata, deve ser respeitado como um grupo que precisa de poucos reparos para disputar com sucesso a Série B do Campeonato Paulista do ano que vem.

O técnico Luiz Carlos Martins dirigiu uma equipe que, no agregado dos dois jogos com a Ferroviária, esteve muito mais próxima da vitória. Penalidades máximas não são uma loteria, mas nem sempre refletem as diferenças entre as equipes.

O São Caetano foi muito superior à Ferroviária no jogo disputado no Estádio Anacleto Campanella, quando o zero a zero não saiu do placar. Principalmente no segundo tempo o time de Luiz Carlos Martins encaixotou o adversário. Já no jogo da volta, sábado em Araraquara, a Ferroviária foi levemente superior. Mas nada que sequer lembrasse o domínio tático do São Caetano no primeiro jogo.

Aliás, o controle tático do jogo em Araraquara foi praticamente inteiro do São Caetano, com pequenos descuidos aqui e ali. O grande nó que imobilizou uma Ferroviária acostumada a golear em Araraquara foi utilizado também em São Caetano, principalmente no segundo tempo: a marcação severa, obstinada, nas laterais do campo, por onde a Ferroviária manda e desmanda com tabelinhas e triangulações em alta velocidade para cruzamentos fatais em direção à grande área.

Erros individuais

A perspectiva de que o jogo de volta poderia ter o mesmo placar do primeiro confronto só não se confirmou porque dois zagueiros resolveram dar mais emoção ao confronto. Luan rebateu mal um cruzamento rasteiro de Bruno Recife e a bola caiu do jeito que o centroavante Naôh poderia sonhar, no interior da grande área. Não foi preciso um chute mais que razoavelmente forte mas bem colocado para o São Caetano abrir o placar logo no começo da disputa.

O resultado encaminhava o São Caetano à classificação com base no retrospecto na competição: em nenhum dos jogos anteriores a equipe sofreu gol de empate após sair na frente no placar, dentro ou fora de casa. Faltou combinar com o lateral Grafite que, aos 35 minutos, deu de presente um recuo de bola ao atacante Elder Santana. Bastou o atacante da Ferroviária correr em direção ao gol e bater na bola de lambada em vez de um chute seco, como seria o normal. O goleiro Paes imaginou o contrário e caiu antes de a bola quicar e enganá-lo. Uma falha técnica na finalização converteu-se no gol de empate.

O São Caetano foi mais uma vez mais eficiente no sistema defensivo do que no sistema ofensivo, mas é preciso relativizar a diferença. A Ferroviária jamais abandonou a cautela de diminuir os riscos de contragolpes que o São Caetano produz com eficiência. Foram poucas as vezes em que o time mandante de sábado se deixou levar pelo entusiasmo da torcida. Por isso atacou com menos volúpia, mas sempre esbarrou num adversário monolítico. As oportunidades de gols, por isso, foram raras.

Corrigindo nas derrotas

O que mais dói para quem imaginava ver o São Caetano de volta ao circuito nacional é que o desfecho das penalidades máximas foi cruel com um time que merecia ter derrotado um adversário competente nos 180 minutos dos dois jogos, sobretudo por causa do desequilíbrio total do segundo tempo em São Caetano. A crueldade se caracterizou na forma da derrota nas penalidades: Daniel Costa foi o último batedor do circuito inicial de cinco cobranças. Se marcasse estava tudo decidido, porque a Ferroviária errara uma cobrança. O goleiro desviou no reflexo com os pés um chute mal batido no meio do gol. Depois, diante da barulheira da torcida, Sandoval fez o que era esperado para um jogador abalado emocionalmente: bateu um novo pênalti quase que indicando ao goleiro da Ferroviária o destino da bola. A defesa não poderia ter sido mais fácil.

O intervalo que separa o fim da Copa Paulista e o início do Campeonato Paulista da Série B é oportuno para o São Caetano refletir sobre 2017. O desafio de acabar com a série de derrotas traumatizantes deve mover o planejamento que certamente valorizará os ativos do atual grupo de jogadores.

Depois de morrer na praia na Série D do Campeonato Brasileiro do ano passado e nas duas últimas disputas da Série B do Paulista, além do tropeço final na Copa Paulista, o São Caetano provavelmente aprendeu uma lição dolorosa do futebol: não se joga fora um aprendizado valioso.

Há vencedores circunstanciais que não se sustentam no tempo, enquanto há perdedores persistentes que constroem novos caminhos mais sólidos. Pode ser esse o caso do São Caetano. 



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