Esportes

Presidente do São Caetano cai
na real ou apenas ganha tempo?

DANIEL LIMA - 18/11/2016

Depois de criar um ambiente de pânico no São Caetano nesta semana, quando ameaçou demitir jogadores e comissão técnica, o presidente Nairo Ferreira volta atrás e, com alguma serenidade, afirma que a equipe que acabou de perder a classificação para a fase final da Copa Paulista deverá passar por mudanças pontuais, mantendo o técnico Luiz Carlos Martins. Nada mais sensato. Só se espera que Nairo Ferreira não esteja a dissimular ação que adotaria o gradualismo temporal para radicalismo decisório. Ou seja: aplique supostas maldades em conta-gotas.

Ao jornal ABCD Maior de hoje o dirigente diz que deve existir alguma coisa que explique e justifique os fracassos – todos na reta de chegada -- do São Caetano nas quatro últimas competições de que participou. Talvez seja aconselhável ao presidente observar mais atentamente quem o cerca no comando do futebol, fora da órbita da comissão técnica cujo treinador é um profissional com limitações como tantos outros, mas nem por isso descartável sem que se apresente alternativa muito bem fundamentada.

Nairo Ferreira deveria, por exemplo, explicar aos torcedores do São Caetano as razões que levaram a diretoria a protelar a cirurgia no joelho do centroavante Jô. Desde o começo da temporada esse fazedor de gols acusa problemas sérios. Poderia ter passado por intervenção cirúrgica que o habilitaria a disputar a Copa Paulista sem os mesmos atropelos da Série B do Campeonato Paulista. Nas duas competições o São Caetano praticamente não contou com Jô nas melhores condições técnicas e físicas. Praticamente ficou de fora de todos os jogos decisivos.

Jô é um atacante acima da média na Série B do Paulista e também na Copa Paulista. Mas está muito aquém do necessário por causa do joelho em pandarecos. Com Jô inteiro o São Caetano provavelmente teria se classificado à final da Copa Paulista.

Time mais forte

A permanência do técnico Luiz Carlos Martins foi colocada em xeque dois dias depois da derrota nas penalidades máximas para a Ferroviária, em reportagem do Diário do Grande ABC. A expectativa de demissão da comissão técnica foi neutralizada dois dias depois. Provavelmente Nairo Ferreira tenha descoberto que a sensatez ainda é a melhor companhia para quem tem a responsabilidade de pensar no amanhã quando o hoje não seguiu o desenho planejado.

A verdade é que a demissão de Luiz Carlos Martins -- e dos demais integrantes da comissão técnica -- seria uma barbeiragem do presidente. Se a decisão fosse tomada após a desclassificação diante do Santo André na Serie B do Paulista, haveria motivos de sobra. O São Caetano repetira ali os mesmos erros das derrotas anteriores na Série B do ano passado e na Série D do Campeonato Brasileiro. Ou seja: um time programado para não perder e com excesso de frieza nada recomendável quando as rodadas decisivas exigem condimentos diferentes, de vitalidade emocional.

Já nesta Copa Paulista a equipe foi diferente. Foi mais bem estruturada taticamente e fez do emocional arma importante, porque na dose certa. O jogo com a Ferroviária em Araraquara foi uma prova dos avanços da equipe. O adversário, dono do melhor ataque do campeonato, foi inteiramente neutralizado no que faz de melhor – a farra de criação e penetração pelas laterais que culminam em sequência de gols.

Modelo bem acabado

Que o São Caetano precisa passar por processo de contratações e demissões de jogadores é natural, inclusive para a redução da idade média do elenco. Não há time perfeito e, portanto, não se dispensam reparos e aperfeiçoamentos. Daí, entretanto, ao desmantelamento brandido por Nairo Ferreira na primeira entrevista, vai uma grande diferença.

Ainda mais que já está à porta a Série B do Paulista, competição de tiro curto e na qual o coletivismo costuma fazer a diferença ante equipes individualmente mais fortes. O Santo André é prova disso. Subiu com um time que flertou com o ridículo e até mesmo com o rebaixamento durante uma parte da competição. Até que encontrou em Toninho Cecílio e numa comissão técnica atenta à fórmula tática do sucesso com simplicidade e muita entrega física.

O São Caetano de Luiz Carlos Martins já tem um modelo bem acabado de competências que, tão verdadeiras são, o levaram aos primeiros postos classificatórios nas quatro últimas competições. A regularidade está expressa nas estatísticas. Trata-se de virtude ainda predominante numa equipe com baixo viés de produtividade ofensiva.

A equipe que Martins escalou na Copa Paulista jamais foi defensivista no sentido de que abriu mão do ataque. A equipe ainda não obteve o equilíbrio entre produtividade do sistema defensivo e do sistema ofensivo, mas está muito mais próxima desse encontro das águas do que em outras competições. Ou seja: o São Caetano da Copa Paulista foi um time mais maduro e mais maleável taticamente que o São Caetano das três competições anteriores.

Também não se pode esquecer – e esse ponto é valiosíssimo a qualquer análise – que o São Caetano passa a cada disputa por novo figurino de investimentos. O emagrecimento mais que natural do orçamento segue à risca o grau de importância das competições para quem chegou ao topo da hierarquia do futebol brasileiro. Os custos foram reestruturados e as adaptações técnico-táticas tiveram de ser executadas. Tudo sob o controle de Luiz Carlos Martins e integrantes da comissão técnica.

O São Caetano ainda vive adaptação típica de rico rebaixado à classe média baixa. Só não pode cair na contradição de exigir que o grau de cobrança tenha vínculo com o passado. Não se pode manter numa escola privada concorridíssima um filho de classe média. Nairo Ferreira possivelmente ainda não se tenha dado conta disso. E tampouco de que, nas fases decisivas, as equipes que disputaram a Copa Paulista se provaram mais qualificadas que os primeiros colocados da Série B do Campeonato Paulista deste ano. Nada mais lógico diante da perspectiva de chegar à Série D do Campeonato Brasileiro do ano que vem.



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