Esportes

Potencial de rebaixamento no
Paulista é maior na Série A

DANIEL LIMA - 26/01/2017

Responda sem pestanejar: em termos teóricos, o maior risco de rebaixamento das equipes da região está na Série A que contará com 16 participantes e duas degolas programadas ou na Série B que contará com 20 participantes e seis degolados? Ora, isso é pergunta que se faça? É claro que é menos incômodo a ameaça representada por duas vagas de rebaixamento entre 16 participantes do que seis vagas entre 20. Errado. 

Também imaginava assim num primeiro instante, mas reformulei as contas. As possibilidades mais incisivas de cair envolvem o Santo André e o São Bernardo, que jogam pela Série A, do que o São Caetano e o Água Santa de Diadema, inscritos na Série B. 

Convém aos dirigentes e comissões técnicas prestarem atenção aos malabarismos aritméticos. Nem tudo que parece é de fato quando se trata de disputa esportiva. Há diferenciações que impõem reviravoltas em avaliações apressadas. 

O que quero dizer é que o rebaixamento deve preocupar muito mais o Santo André e o São Bernardo do que o São Caetano e o Água Santa. Pelo menos em termos de potencialidade. Aritmeticamente, seis rebaixados entre 20 participantes da Série B significa muito mais risco que dois rebaixados entre 16 participantes. Basta dividir seis por 20, que resulta em 30% de taxa de risco, e dois por 16, que resulta em taxa de risco de 12,5%. Mas quem disse que futebol é ciência exata, ou que a Série A e a Série B são irmãos siameses? 

Grandes não caem 

Primeiro, uma avaliação sobre a Série A do Campeonato Paulista. Em sã consciência, ninguém acredita, salvo catástrofe, que qualquer um dos quatro grandes clubes venha a flertar com a disputa da Série B no ano que vem. Portanto, de 16 participantes, quatro já estão automaticamente eliminados do grupo de rebaixáveis.  Sobram, portanto, 12 equipes para duas vagas de queda. 

Quando se verifica que são poucas as equipes da Série A que não disputaram no ano passado uma das divisões do circuito do Campeonato Brasileiro e que, portanto, já carregam massa de organização sistêmica, o peso maior dos cuidados com o rebaixamento se concentra em quem vem de competições domésticas -- casos de Santo André, São Bernardo, Mirassol, Ferroviária e Linense. Seriam, portanto, essas cinco equipes as mais vigiadas entre si para fugir dos dois últimos lugares. É impossível olhar apenas para o próprio umbigo de resultados quando o cadafalso do rebaixamento está no horizonte do encerramento da primeira etapa de disputas. 

Também a Ponte Preta de Campinas deve ser retirada do bloco de possíveis rebaixados na Série A do Campeonato Paulista. Quem está na Série A do Campeonato Brasileiro raramente fragiliza a estrutura que alimenta engrenagem muito acima de equipes de igual ou menor porte sem o mesmo requisito. 

O peso relativo de potencial de imunidade a rebaixamento das equipes que disputam a Série A do Campeonato Paulista está sincronizado com a divisão que ocupa na esfera nacional. Há desgaste na medida em que se desce na hierarquia nacional. Nada, entretanto, se compara ao enfraquecimento de quem não constou de divisão alguma no ano passado. 

É verdade que a garantia antecipada de disputar a Série D do Brasileiro no segundo semestre deste ano, caso do São Bernardo, ajuda na formação do elenco, com o esticamento dos contratos dos jogadores e da comissão técnica, mas não é a mesma coisa em relação a quem já vem de sucessivas disputas nacionais. Experiência em competições nacionais é item de primeira necessidade na hora da onça da busca de resultados beber água. 

Já na Série B do Campeonato Paulista, dos 20 integrantes apenas três estão garantidos numa das três principais divisões nacionais. O Oeste de Itápolis e o Guarani de Campinas vão disputar a Série B, enquanto o Bragantino jogará pela Série C, após ser rebaixado na temporada passada. O XV de Piracicaba garantiu vaga na Série D do Campeonato Brasileiro com a conquista da Copa Paulista.

Série D é a primeira escala rumo à nacionalização de fato. Entretanto, a disputa da Série D do Campeonato Brasileiro pode ser breve e rebaixa automaticamente à esfera estadual a equipe que não obtiver o acesso imediato à Série C. O Botafogo de Ribeirão Preto alcançou sucesso em 2015. Por isso não precisará mais da Série A do Campeonato Paulista como trampolim ao circuito nacional. 

Equipes que disputam a Série D do Campeonato Brasileiro em consequência de classificação estadual, portanto, têm obrigação imediata de assegurar vaga na Série C. É subir ou descer. São Caetano e Santo André sofreram rebaixamentos seguidos e hoje lutam para voltar a frequentar o circuito nacional. 

Disputar a Série B do Campeonato Paulista tendo vaga numa das três primeiras divisões do Campeonato Brasileiro é uma vantagem em relação aos demais participantes. Entretanto, essas equipes não usufruem da mesma proporcionalidade de favoritismo das equipes grandes do futebol paulista que estão na Série A do Campeonato Brasileiro.  

As restrições orçamentárias são patentes na Série B do Campeonato Paulista mesmo para quem está numa das três primeiras séries do Brasileiro. Na Série B, a cota de participação determinada pela Federação Paulista de Futebol é muito inferior à reservada às equipes menos graduadas da Série A. Os valores são pelo menos cinco vezes maiores que os das equipes pequenas e médias da principal divisão do Estado. 

Com o dinheiro da FPF, os times pequenos da Série A alcançam proximidade entre receita e despesa durante toda a competição. Na Série B do Paulista há notório descasamento, mesmo com investimentos bem inferiores. As folhas salariais das equipes da Série B estão muito aquém da média de equipes semelhantes da Série A. 

O resumo da ópera do desenho de probabilidade de rebaixamentos na Série A e na Série B do Campeonato Paulista é que o desequilíbrio explícito das grandes equipes paulistas que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro em relação às demais equipes da Série A do Campeonato Paulista sustenta uma blindagem quase inviolável. 

Já na Série B do Campeonato Paulista, por mais que os times que integram a Série B e a Série C do Campeonato Brasileiro pareçam mais consistentes que os demais inscritos, a história tem provado que a diferença é bem menos expressiva. 

Guarani de Campinas disputou a Série B do Paulista do ano passado e não passou à etapa de mata-mata -- ou seja, não ficou entre os oito primeiros. Já o Bragantino, então integrante da Série B do Brasileiro, fracassou na primeira rodada de mata-mata, após ficar em segundo lugar na fase de classificação, atrás apenas do São Caetano. O Oeste disputou a Série A Paulista em 2016 e foi rebaixado à Série B deste ano. 

Também deve ser observado um ponto que parece igualmente portentoso à avaliação de riscos de rebaixamento quando se comparam a Série A e a Série B do Campeonato Paulista. Na Série A serão apenas 12 rodadas na fase de classificação, enquanto na Série B serão 19 datas reservadas à definição da primeira etapa. 

Tropeçar nas primeiras cinco rodadas da Série A pode ser fatal para quem naturalmente carrega o ônus de constar da lista de prováveis rebaixados. Já na Série B sempre é possível reagir e dar uma reviravolta após as cinco primeiras rodadas, por exemplo. Tanto quanto entrar em parafuso e deixar o grupo dos primeiros colocados rumo à queda. 

Além do número de integrantes e da fórmula de disputa, a Série A e a Série B do Campeonato Paulista contrastam também na grade dos classificados à fase seguinte. Na Série A, os quatro grandes e a Ponte Preta muito dificilmente deixarão de se classificar entre os dois primeiros de cada um dos quatro grupos de quatro equipes da fase classificatória.  

E entre os três que completarão a lista de classificados há equipes mais favoritas que outras. Tanto que na distribuição dos agrupamentos a Federação Paulista articulou sorteio dirigido priorizando medidor que leva em conta o peso performático das equipes nos últimos anos, estratégia que elimina grau de sobreposição de forças assemelhadas.

Já na Série B, qualquer aposta que pretenda definir os quatro primeiros colocados que disputarão a etapa seguinte com direito a duas vagas na Série A do Paulista do ano que vem não passará mesmo de aposta. Até prova em contrário, há pelo menos 10 equipes com forças semelhantes, embora umas tenham mais peso histórico que outras. Mas, embora esse fator seja importante, não é uma sentença fatal. Afinal, peso histórico é uma. E peso performático, como o que pauta a Série A do Paulista, é outra. 

São Caetano e Água Santa deverão disputar os primeiros quatro postos na classificação, mas poucos se arriscariam a afirmar que estão livres da ameaça de rebaixamento. Sem bichos papões típicos da Série A do Paulista, as equipes da Série B podem tudo até que a bola comece a rolar e, por volta da oitava rodada, já se terá coreografia classificatória que tanto pode ser conservadora, alinhada à tradição das equipes, ou revolucionária, questionadora dessa mesma tradição. Está aí a Portuguesa de Desportos, no passado listada entre os cinco grandes do futebol paulista, a constar da lista de concorrentes ao acesso – e também ao rebaixamento. 



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