Quem estreia na Série A do Campeonato Paulista tendo como perspectiva principal a ameaça de rebaixamento e -- mesmo jogando em casa -- não supera um adversário praticamente do mesmo nível, certamente só teria de lamentar o resultado. Foi o caso do Santo André na manhã de sábado no Estádio Bruno Daniel. Mas o sentimento de perder dois pontos em casa também se mistura à satisfação de ter somado pelo menos um no empate de um a um com o Ituano. É esse equilíbrio contraditório que mostra o desequilíbrio da atuação de uma equipe que voltou à principal divisão do Estadual após seis temporadas na Série B.
O Santo André atuou aquém do esperado, mesmo considerando o pouco tempo para se construir técnica e taticamente porque não conta com calendário nacional para manter um grupo em atividade durante toda a temporada. O que não é caso do Ituano, que disputa pela 15ª vez seguida a Série A do Estadual.
Ao Ituano faltou mais ambição durante dois terços do jogo para definir o placar. Como só fez um a zero nesse período, concedeu a oportunidade que saltava à vista para o Santo André reagir. As substituições do técnico Toninho Cecílio deram o que faltava desde o primeiro minuto do jogo – a opção de arremetidas pelas laterais, utilizando-se de jogadores de maior mobilidade e velocidade, sem depender excessivamente apenas dos próprios laterais, cada vez mais bem marcados.
Nenhum centroavante
O erro crasso do técnico Toninho Cecílio foi escalar dois centroavantes de uma vez. Mais que isso: Henan e Edmilson ficaram isolados à frente, mas, incrivelmente, longe da grande área. Edmilson e Henan, de características antagônicas, embora centroavantes, posicionaram-se como meias-atacantes ofensivos, avançados, atrás de um armador da qualidade de Eduardo Ramos e de três volantes – Baraka, Dudu Vieira e Fernando Neto.
Os laterais Cicinho e Paulinho tinham ordens para avançar, para compensar um meio de campo mais restritivo nos movimentos. Apenas Dudu Vieira fazia a transição ao ataque em velocidade e com qualidade, embora os espaços fossem raros. Havia mais fluência pela extremidade direita, com vários jogadores procurando aproximar-se do lateral Cicinho. Pela esquerda, o lateral Paulinho vivia solitário.
Esse Santo André com poucas opções de adensamento ofensivo foi presa fácil de um Ituano que durante todo o primeiro tempo teve mais posse de bola e se movimentou muito mais no campo ofensivo. Mas às duas equipes faltava intensidade. Além disso, a compactação entre os setores inexistia. Prevaleceram aglomerados de jogadores do meio de campo para trás. O Ituano era menos dispersivo, mas a cautela tolhia movimentos mais integrados.
Uma cabeçada de Henan aos 46 minutos foi o único lance agudo do Santo André no primeiro tempo, após cruzamento da linha de fundo. Muito pouco e muito explicativo: a equipe não se movia com engenharia. Mas teve sorte porque, além de jogar preocupado em garantir um ponto, o Ituano deixou de explorar a lateral-direita sempre sem marcação. O dispersivo Fernando Neto recuava como terceiro volante por dentro e deixava o corredor livre.
Um gol anunciado
Estava tão na cara que a lateral-direita era o caminho da alegria do Ituano que bastou explorá-la, no começo do segundo tempo, para nascer a jogada que terminou no gol do centroavante Ronaldo, andreense que passou a infância e a juventude torcendo pelo Ramalhão nas arquibancadas como integrante de uma torcida organizada. Ronaldo comemorou comedidamente o gol contra o clube do coração.
O Santo André só melhorou quando o técnico substituiu o improdutivo Fernando Neto e em seguida o desnecessário Henan e o cansado Eduardo Ramos. Entraram jogadores mais jovens e mais atrevidos, casos de Deivid, Claudinho e Elton Luiz. Esse último praticamente não participou do jogo porque, em seguida à entrada, sofreu contusão e deixou o gramado.
O gol de empate do Santo André aos 38 minutos mostrou que um centroavante-centroavante sempre faz falta, mas que dois centroavantes-centroavantes escalados num mesmo time em circunstâncias normais geralmente dão péssimo resultado. Quando ficou apenas com Edmilson centralizado, o ataque do Santo André ganhou uma referência. E foi com essa referência que protegeu a bola na entrada da área e abriu um passe para a penetração de Cicinho: o cruzamento do lateral pegou Deivid deslocado em diagonal à entrada da pequena área e o cabeceio foi fatal, enquanto Edmilson puxava a marcação de um zagueiro também ao ocupar a pequena área. Simples assim.
Muito a fazer
O Santo André agora controlador do jogo poderia ter vencido em cima da hora se Claudinho não finalizasse tão mal. Seria um resultado injusto porque nenhuma das duas equipes merecia os três pontos. O Santo André por demorar a encaixar uma equipe com cara de mandante contra adversário de porte semelhante, e o Ituano para aprender que nem sempre um ponto fora de casa é um bom negócio, principalmente quando o adversário pede para perder.
Mas o resultado não pode esconder as verdades que deixou transparecer. O Santo André é um grupo de jogadores em busca de pelo menos uma tática que inspire a confiança de que não vai voltar à Série B. Já o Ituano, bem mais compacto, envolvente e moderno, porque formado há mais tempo, deve ser um time bem mais indigesto quando a coragem de jogar em casa certamente imporá ritmo mais intenso a cada iniciativa de ataque.
Total de 985 matérias | Página 1
05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André