Esportes

São Caetano vai bem; São
Bernardo é decepcionante

DANIEL LIMA - 07/02/2017

Futebol não é arena para sentenças definitivas, pelo menos enquanto o apito final do campeonato não chega, mas é possível especular sobre o futuro do São Caetano e do São Bernardo no Campeonato Paulista. Depois de três jogos, sete pontos ganhos e um dos quatro primeiros postos na classificação da Série B, que garantiria passagem à etapa decisiva, o São Caetano não deixa dúvidas de que não provocará surpresa. Já o São Bernardo, após estrear na Série A com derrota de três a dois diante do Novorizontino, no Interior, abre as portas à desconfiança de que pode sofrer um bocado e flertar com o rebaixamento.  

Sobraram ao São Caetano no empate de zero a zero de ontem à noite em Campinas contra o forte Guarani qualidades como equilíbrio, humildade, determinação e empenho. O resultado só poderia ser mesmo positivo. Já o São Bernardo diante do Novorizontino foi um time aparvalhado, taticamente sofrível e tecnicamente aquém do imaginado. Uma distância quilométrica coloca o São Caetano na linha de um horizonte mais positivamente previsível. O São Bernardo precisa melhorar muito para ficar mais ou menos. 

O zero a zero em Campinas foi um jogo muito mais qualificado que o três a dois que o Novorizontino impôs dois dias antes ao São Bernardo. Nem sempre onde reluzem gols têm-se o ouro da competência. Jogos com muitos gols podem ser inesquecíveis como também a expressão mais evidente do espirito peladeiro. No caso de Novorizontino e São Bernardo, os gols, quase todos, foram construídos sem arte, frutos de erros individuais. 

Veterano supera jovem 

O técnico Luiz Carlos Martins, que beira os 60 anos, demonstrou muito mais competência no empate em Campinas (e nos quatro pontos anteriores que somou) do que o jovem português Sérgio Vieira na derrota do São Bernardo em Novo Horizonte. 

Um exemplo claro dessa diferença: quando se viu apertado no segundo tempo do jogo com o Guarani, que voltou com duas mudanças no meio de campo e se tornou mais rápido e insinuante, Luiz Carlos Martins sacou um meia-atacante, Alex Francisco, que não estava bem, e colocou Carlão, de características semelhantes mas com a função de reforçar a marcação do lado direito da defesa, por onde o Guarani ameaçava chegar ao gol. 

Com isso, resolveu o desconforto e o experiente Marcinho, que entrou no intervalo para incomodar o São Caetano, perdeu a liberdade de movimentos. O São Caetano diluiu a força ofensiva do Guarani num jogo tão milimetricamente marcado, cuidadoso, que não houve uma grande oportunidade de gol para qualquer uma das equipes. Ruim para quem transmite jogos pela TV. Gente que idolatra gol contra porque, afinal, é sempre gol. 

Forçando a barra

Já o técnico do São Bernardo, Sérgio Vieira, cometeu a bobagem de forçar a barra quando o jogo estava empatado de dois a dois e o Novorizontino tinha o controle tático, pressionando o sistema defensivo do adversário. Ao retirar de campo o volante Túlio, substituindo-o pelo meia-atacante Felipe Matheus, o São Bernardo rebaixou o nível de proteção da defesa sem melhora compensatória no ataque, e por isso acabou derrotado. 

Adotar a saída de um volante de contenção numa situação em que tudo indicava que o recomendável era fechar o cerco e privilegiar contragolpes como melhor iniciativa custou caro. Sérgio Vieira entendeu que poderia voltar do Interior com três pontos (ele disse isso antes de o jogo começar) e ficou sem nada. Um ponto fora de casa numa competição tão curta pode ser fatal. 

Festival de erros 

Mas não foi apenas por cona disso que Luiz Carlos Martins tem um peso muito mais importante à estabilidade de atuação do São Caetano em relação às vulnerabilidades do São Bernardo. O chamado Tigre foi um festival de lançamentos longos em Novo Horizonte. Poucas infiltrações centrais, poucas triangulações, pouca compactação, pouca intensidade. 

Tudo isso é muito preocupante, considerando-se que a Série A do Paulista é decidida principalmente nesses quesitos. O São Bernardo do ano passado caia pelas tabelas e só se acertou com a contratação do técnico Sérgio Soares, especialista no jogo de aproximações, de infiltrações, de criatividade ofensiva.

Verdade seja dita que o São Caetano não é um primor nesses quesitos. O técnico Luiz Carlos Martins é metódico na preparação. Contra o Guarani viram-se mais acertos de passes e de posicionamento do que no jogo anterior no Estádio Anacleto Campanella, contra o Votuporanguense. Ali houve descuidos que quase custaram caro, embora a equipe tenha, na maior parte do jogo, controlado o adversário. 

Um time de resultados 

O São Caetano de Luiz Carlos Martins não é um time para ser admirado. É um time para ser respeitado pelo gerenciamento de emoções. E deve obter melhores resultados nesta temporada, quem sabe o esperado acesso à Série A, porque conta com um banco de reservas de melhor nível do que anteriormente. 

Se o único gol sofrido em três jogos na Série B do Paulista projeta que o São Caetano será uma experiência defensiva reiteradamente vitoriosa em nova temporada, como nas duas anteriores, os três gols sofridos pelo São Bernardo no único jogo que disputou na Série A insinuam que há carências que exigem mudanças drásticas. 

O time de Sérgio Vieira dá espaços demais aos adversários. Falta principalmente comprometimento sem a bola. Não fosse o brilho individual de Walterson, com passagem pelo Santos na temporada passada, o São Bernardo também teria sido um deserto de emoções ofensivas. O veterano Edno, escalado como falso centroavante, não tem mobilidade para desgastar os zagueiros adversários e muito menos arranque para infiltrações rápidas. Vive da experiência da boa colocação, mas numa competição do nível da Série A o peso dessa característica é muito menor do que se pretende vender. 

Ainda de forma especulativa, porque futebol permite essa flexibilidade, não está fora de cogitação troca de posições entre essas duas equipes da região na próxima temporada. Ou seja, o São Bernardo ocupando uma das 16 vagas da Série B e o São Caetano uma das 16 vagas da Série A. 

A premissa a essa avaliação é simples, não simplória: o São Caetano aperfeiçoa a cada temporada o conceito de tornar-se fortaleza defensiva com melhora gradativa no sistema ofensivo, enquanto o São Bernardo parece que ficou a fazer turismo na fase de preparação ao campeonato, tal o estado de flacidez defensiva e esqualidez ofensiva. 



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