Não adianta tentar tapar o sol da realidade com a peneira da enganação: o Santo André que está entre as 16 equipes mais importantes do principal campeonato estadual do Pais vai jogar para fugir do rebaixamento. Verdade posta, o melhor é comemorar o empate de um a um ontem à noite no Estádio Moisés Lucarelli, em Campinas, diante do Red Bull.
Foi o segundo jogo do Santo André na competição, depois de empatar também de um a um com o Ituano no Estádio Bruno Daniel. A diferença é que desta vez o Santo André jogou mais harmoniosamente. Não acumulou tantas falhas individuais e coletivas. Ou seja: deu um sopro de que pode seguir na Série A do Campeonato Paulista. Mas terá dificuldades, muitas dificuldades.
Para começar, e diferentemente do empate com o Ituano, desta vez o Santo André merecia os três pontos. Só foi submetido ao controle do time mandante nos primeiros 15 minutos do primeiro tempo. Bastou acertar a marcação defensiva, principalmente à direita, por onde trafegava leve e solto o lateral-esquerdo do Red Bull, e tudo se simplificou.
Quando o primeiro tempo terminou o Santo André já era melhor em campo. No segundo foi pronunciadamente melhor que um adversário convertido ao contragolpe.
As melhoras da equipe
O que melhorou no Santo André de um jogo para outro? Primeiro, o coletivo. Houve mais compactação entre os setores. O técnico Toninho Cecílio parece estar conseguindo dar sentido de homogeneidade na ocupação de espaços. Não sobra gramado para o adversário se organizar no meio de campo. Parece pouco, mas essa é uma qualidade rara entre as equipes brasileiras. Mesmo com naturais dificuldades de detecção dessa característica quando se assiste a um jogo pela TV, no caso de ontem à noite, o Santo André não deixou dúvidas. Foi um time mais próximo entre os setores de defesa, meio de campo e ataque.
Até mesmo a teimosia de Toninho Cecílio em escalar novamente os centroavantes Henan e Edmilson teve efeitos menos nocivos ontem do que no domingo. Desta feita, Henan jogou mais aberto, principalmente pela extremidade direita, de onde, inclusive, fez um cruzamento que por pouco Edmilson não completou, numa das melhores oportunidades do Santo André.
Com dois centroavantes outra vez escalados, o Santo André reservou a Edmilson a função mais centralizada. No fundo, o que se viu foi um centroavante (Henan) jogando como atacante aberto e Edmilson na função tradicional de camisa nove, embora vestisse a sete. O time ganhou mais velocidade e opções pelas extremas com as mudanças no terço final do jogo de ontem. Como diante do Ituano. E daí saiu o gol de empate.
Pênalti desnecessário
Também foi melhor a atuação do meio-campista Fernando Neto. Desta vez ele cuidou mais da subida do lateral-direito adversário, errou menos passes, fechou pelo meio para reforçar a marcação dos volantes Baraka e Dudu Vieira e, no final, fez o gol de empate ao completar um cruzamento de Claudinho, que entrara pouco antes.
Não fosse a precipitada intervenção do lateral-esquerdo Paulinho, que cometeu um pênalti marcado com rigor pelo árbitro, o Santo André poderia ter saído de Campinas com três pontos. O gol, no começo do segundo tempo, resultou de uma das raras vezes em que Branquinho, ex-Santo André e muito longe do melhor rendimento, recebeu livre na entrada de área e fez um passe em diagonal para a penetração de Misael.
O deslocamento de Misael à direita do ataque do Red Bull no segundo tempo, depois de bem marcado no primeiro quando atuou à esquerda, parecia complicar a vida defensiva do Santo André. Mas o lance da penalidade máxima foi apenas um desastre passageiro. O Santo André soube fechar os espaços com aplicação defensiva.
O técnico Toninho Cecílio vai precisar quebrar a cabeça para dar ao Santo André o equilíbrio necessário para fugir das duas últimas colocações na classificação geral, que redundará em rebaixamento. O sistema defensivo é acentuadamente melhor que o sistema ofensivo. Ou seja: o Santo André defende melhor do que ataca.
O que precisa melhorar
Dudu Vieira ainda não se soltou como segundo volante com mobilidade e agilidade, Eduardo Ramos precisa dar mais ritmo à equipe com maior participação na posse e distribuição de bola, Edmilson está visivelmente com baixa mobilidade entre os zagueiros, e os laterais Cicinho e Paulinho ainda erram demais nos cruzamentos. Melhorias individuais vão dar mais confiança e acentuarão o rendimento coletivo integrado.
Algo que parece não estar fora do lugar no Santo André é o condicionamento físico. No jogo de ontem foi visível a vantagem em relação ao adversário. Tanto que o time de Toninho Cecílio manteve o controle da bola por mais tempo. A equipe da região pareceu estar em estágio superior a Red Bull.
Se for confirmada essa avaliação, o empate de ontem à noite não pode ser desprezado, porque foi fora de casa e também porque lança a perspectiva de que entre os maiores favoritos ao rebaixamento numa competição dificílima, o Ramalhão está menos cotado do que o Red Bull.
Falta saber quem seria o segundo time a dar mais tranquilidade ao Santo André no quesito de risco de queda à Série B da temporada 2018. O São Bernardo do primeiro jogo, derrotado pelo Novorizontino, no Interior, parece bastante cotado. O jogo do final de semana diante do São Bento de Sorocaba poderá clarear o horizonte.
Já o Santo André enfrenta o Corinthians em Itaquera certo de que qualquer ponto é valiosíssimo mas, como se trata de um jogo perdível, não custa para azeitar a maquinaria tática para enfrentamentos menos indigestos na sequência da competição.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André