Derrotar o Corinthians por dois a zero em pleno Itaquerão é muito mais que uma marca histórica para um Santo André que havia 28 anos não sabia o que era superar o tradicional adversário. Mais que o legado à posteridade, porque time pequeno quando ganha de grande não esquece jamais, é o significado do resultado no presente.
E o presente é claro: quem soma pontos, sobretudo três pontos, contra adversários de grande porte na Série A do Campeonato Paulista carrega vantagem imensa ante concorrentes do mesmo tamanho que lutam principalmente contra o rebaixamento.
Entretanto, convém ao Santo André não se exceder na confiança de que já encaixou o melhor sistema tático e que isso o credenciaria até mesmo a chegar à fase semifinal da competição, agora que lidera o grupo. Basta lembrar o Água Santa de Diadema que goleou o Palmeiras ano passado e quando terminou a fase de classificação estava entre os quatro rebaixados.
A diferença a resguardar entre o Água Santa rebaixado na temporada passada e o Santo André que corre riscos naturais de queda neste ano é que o técnico Toninho Cecílio sabe dar estrutura tática à equipe e o Santo André tem muito mais tradição em grandes competições. O time de Toninho Cecílio joga com inteligência e reconhecimento de limitações técnicas que impelem à simplicidade tática. Já o Água Santa da Série A do Paulista do ano passado era um time peladeiro egresso de divisões inferiores onde a tradição é mais respiração que talento. O Água Santa era tão peladeiro e de jogadas facilmente contornadas que bastou a sequência do campeonato para entrar em parafuso, até ser defenestrado.
Inferioridade é melhor trunfo
O que os jogadores do Santo André não podem esquecer é a razão dos três pontos conquistados contra uma equipe que dificilmente perderá tantos pontos diante de outros pequenos. O toque de mestre foi entender que a inferioridade o tornou mais forte e que precisa ser repetida em situações análogas.
O time de Toninho Cecílio fez um jogo sofrível na estreia contra o Ituano, melhorou em Campinas contra o Red Bull e subiu assustadoramente no Itaquerão, inclusive por conta da motivação especial de enfrentar uma grande equipe. Se sustentar consolidado esquema de marcação e melhorar ofensivamente, o rebaixamento não o atormentará.
Toninho Cecílio mandou a campo contra o Corinthians um time não muito diferente dos dois jogos anteriores. Deu mais força ofensiva e de marcação ao ataque com a escolha do rápido Deivid, retirando da escalação um dos titulares (Henam) escalado erroneamente nos dois jogos anteriores. O time passou a contar com uma opção de saída rápida pela extremidade esquerda e não deu liberdade aos avanços de Fagner. Do outro lado, para impedir que o também lateral Moisés sobrecarregasse a marcação, escalou o terceiro volante Dudu para lhe seguir os passos.
Sem liberdade pelas laterais, com dois volantes pouco criativos e os meias bem vigiados a ponto de Rodriguinho desaparecer, o Santo André amordaçou o Corinthians. Jô ficou isolado. Mas a diferença técnica sempre pode pesar. O Corinthians estava melhor quando o Santo André fez um a zero com Edmilson após cobrança de falta, no primeiro tempo. E fez dois a zero com o jovem e rápido Claudinho no terço final do segundo tempo em rápido contragolpe. Claudinho substituíra pouco antes o cansado Edmilson.
Apertando o cerco
Foi um gol num momento decisivo. Toninho Cecílio já fizera tudo que era possível para impedir que a pressão adversária ganhasse a forma de penetração. Escalou na reta final do jogo um terceiro zagueiro (Diogo Borges) ao retirar o cansado Deivid e, antes disso, na volta para o segundo tempo, substituiu o sempre vulnerável marcador Paulinho por Diogo Orlando, que reforçou ainda mais a marcação no meio de campo enquanto Fernando Neto era deslocado à lateral.
A entrada de Kazim para formar com Jô um ataque aéreo do Corinthians não deu o resultado que Fábio Carille imaginava. O Santo André errava pouco nas rebatidas aéreas, embora permitisse levantamentos demais.
O Corinthians também voltou diferente no segundo tempo, com Guilherme no lugar do segundo volante Fellipe Bastos. Foi uma tentativa de o técnico Fábio Carille dar mais ofensividade à equipe. Tudo inútil. O Santo André seguia marcando forte -- embora agora menos ostensivamente, menos agressivamente, menos avançado como se viu no primeiro tempo.
O Corinthians teve mais espaço para avançar, mas sem poder de infiltração por dentro, explorou à exaustão os levantamentos na área. O goleiro Zé Carlos não foi ameaçado de forma contundente uma única vez. O Corinthians se tornou um time previsível demais, neutralizado por um Santo André redutor de espaços centrais.
O clássico de domingo contra o São Bernardo no Estádio Bruno Daniel poderá encaminhar de vez a perspectiva do Santo André na Série A do Campeonato Paulista. Há três opções na trajetória da equipe. A primeira é fugir mesmo do rebaixamento. A segunda é acumular pontos suficientes para garantir uma vaga na Série D do Campeonato Brasileiro desta temporada. E a terceira, melhor de todas, assegurar vaga na semifinal do campeonato.
Contar com três alternativas neste momento, mesmo que precárias no caso da vaga na Série D e da presença na etapa decisiva da Série A do Paulista, é o desdobramento natural da vitória contra o Corinthians. Um resultado que não teve nada de fortuito: o Santo André foi uma equipe organizada para explorar as falhas do adversário. E o fez com precisão, sem ser brilhante como o Red Bull na manhã de domingo contra o Santos, mas, com a vantagem de que ganhou três pontos ao invés de chorar uma derrota.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André