O Imponderável Futebol Clube não entrou em campo ontem à noite no Estádio Primeiro de Maio como explicação à vitória de dois a um do São Bernardo contra o São Bento de Sorocaba pela Série A do Campeonato Paulista. Uma derrota iminente foi transformada em triunfo dramático simplesmente porque o bom senso prevaleceu.
O técnico português Sérgio Vieira deixou de dormir no banco de reservas e retirou gradualmente da equipe três jogadores de baixo rendimento. Seus substitutos por menos que fizessem fariam mais, e como fizeram bastante, a vitória demorou para sair mas saiu, com o veterano Edno assumindo ares de herói.
A exemplo do jogo de estreia contra o Novorizontino, no Interior, o técnico Sérgio Vieira escalou equivocadamente a equipe. Mas desta vez não cometeu o haraquiri de achar que poderia ganhar três pontos quando o adversário dominava o jogo, como foi o caso do Novorizontino, e com isso, abriu as portas para a derrota.
Contra o São Bento foi diametralmente diferente: o time do Interior dava sinais de cansaço físico e mental por ter decidido (e perdido) passagem à próxima fase da Copa do Brasil, ao sofrer gol do Paraná nos descontos, quarta-feira à noite. Era, portanto, hora do São Bernardo soltar as amarras. E foi o que fez. Edno marcou o gol da vitória aos 46 minutos do segundo tempo, mas poderia ter feito antes, quando teve duas oportunidades aos 38 e 43 minutos.
Mudando o roteiro
As entradas de Alyson, Marcinho e Patrick Vieira nos lugares dos lentos, pouco combativos, pouco ágeis e pouco interessados Felipe Mateus, Rodolfo e Rafael Costa a partir dos 15 minutos do segundo tempo deram a força, a efetividade, a intensidade e a agressividade de que o São Bernardo tanto precisava.
É possível que não falte quem afirme que o técnico português decidiu o jogo com as mudanças e por isso mesmo o cubra de elogios. Bobagem pura. O que se pergunta é como, diante do exemplo do fracasso da equipe em Novorizonte, Sérgio Vieira insistiu em escalar mais uma vez jogadores de baixo rendimento técnico e coletivo.
O São Bernardo ganhou do São Bento, portanto, por causa do terço final do jogo em que dominou o adversário. Um domínio a partir de um meio de campo que até então se submetia ao controle do adversário. E também porque Edno achou o espaço de que tanto carecia para mostrar que pode ser útil à equipe.
Até que as mudanças fossem feitas Edno era um falso centroavante que voltava para criar espaços às costas, atraindo os zagueiros de área, quando não os volantes. O problema é que ninguém penetrava para aproveitar. Com as mudanças e um meio de campo mais rápido e insinuante, Edno se meteu entre os zagueiros, como centroavante de verdade. Usou toda a experiência para desestabilizar os zagueiros. O gol foi consequência da união de técnica e posicionamento.
O São Bernardo teve a sorte de começar ganhando. Em menos de dois minutos o atacante Walterson surpreendeu o goleiro com uma cabeçada em cruzamento de Eduardo. Walterson estava fora da pequena área, longe dos zagueiros, e o desvio alcançou o ângulo de um goleiro que demorou a entender a trajetória da bola. Não tardou para o São Bento empatar: aos 12 minutos uma triangulação rápida que envolveu totalmente a defesa do São Bernardo terminou com o centroavante Magrão balançando a rede.
Tempos bem diferentes
O primeiro tempo foi todo do São Bento. Havia maior ocupação de espaços pelo meio e pelas laterais. Clebson atuava com liberdade total porque apenas Vinicius Kiss, um volante desajeitado, cuidava da proteção à zaga. Os laterais do São Bento atacavam sem grandes atropelos e Morais, o articulador da equipe, sobrava sempre livre. Ou seja: o São Bernardo não existia como sistema defensivo integrado e atacava precariamente. Exagerava nos lançamentos e tornava as jogadas de aproximação uma raridade.
O segundo tempo começou com um São Bernardo menos desligado na combatividade, mas estava na cara que com pelo menos três jogadores aquém de qualquer expectativa seria impossível resistir mesmo a um São Bento que já dava sinais de cansaço. Foi aí que o técnico português acordou e botou fogo na equipe. As alterações de Sérgio Vieira foram melhores que a do técnico do São Bento, Paulo Roberto dos Santos.
Talvez a melhor lição que o São Bernardo tenha retirado dos dois primeiros jogos da Série A do Campeonato Paulista é que o futebol de lançamentos em excesso, troca de passes laterais, malemolência na tentativa de aproximar os setores e descuidos na marcação é um convite ao rebaixamento. Sair do estádio como estrela principal de uma vitória improvável faz de Edno esperança de novos gols, mas para isso o time precisa colaborar. Como colaborou nos 30 minutos finais.
Tudo indica que o clássico de domingo contra o Santo André poderá ser um divisor de águas no São Bernardo. Caso Sérgio Vieira insista em escalar um time lento e de baixa inspiração, é possível que não tenha a repetição do desfecho contra o São Bento. Na Série A os adversários não costumam oferecer uma segunda oportunidade ao sucesso.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André