Esportes

São Caetano frio como sempre.
E agora também contundente

DANIEL LIMA - 14/02/2017

O São Caetano derrotou de virada o Velo de Rio Claro ontem à noite no Estádio Anacleto Campanella por 3 a 1 e assumiu a liderança da Série B do Campeonato Paulista. São 13 pontos em 15 disputados, dois acima do vice-líder, o Água Santa de Diadema. Somente os quatro primeiros classificados entre os 20 concorrentes disputam a fase decisiva que classificará campeão e vice à Série A do ano que vem. O que mais se pergunta é como um time incapaz de empolgar a torcida e a crítica alcança tanta eficiência? 

A resposta é simples, convicta para quem assistiu a quatro dos cinco jogos do São Caetano até agora: há mais veneno do que parece para explicar o sucesso do time de Luiz Carlos Martins. Entenda-se veneno como metáfora. O que o São Caetano tem mesmo é um coquetel de virtudes discretíssimas que faz a diferença. 

Não é hora de revelar todos os pontos positivos do São Caetano após cinco jogos, mas alguns aspectos explicam a superioridade dentro de campo. Vejam alguns aspectos:

a. Segurança defensiva como resultado do cumprimento rigoroso das funções táticas de cada jogador.

b. Entendimento de que cada jogo tem pelo menos 90 minutos regulamentares e que por isso mesmo não adianta desgastar-se em determinados períodos sem antever o que vem pela frente.

c. Algumas funções táticas diversionistas confundem os adversários.

d. Um batalhão de pelo menos metade do elenco titular tem elevada estatura e oferece vantagens defensivas e ofensivas numa competição em que a bola rola rente ao gramado com menos intensidade do que na Série A do Paulista, por exemplo.

e. Um sistema ofensivo que aparentemente depende demais da subida dos laterais mas que, surpresa, ganha alternativas em determinadas situações do jogo e surpreende quem imagina contar com antídotos. 

f. Um cobrador de falta respeitável – o lateral Alex Reinaldo – e pelo menos mais um – Francisco Alex -- para levar pânico ao gol adversário. 

g. Um ritmo de jogo aparentemente burocrático, de bolas longas, de viradas de jogo, de abuso na tentativa de fazer do grandalhão centroavante Lincom ponto de referência a penetrações de terceiros na área adversária, mas tudo isso também vira algo surpreendente com triangulações pelas laterais e pelo meio quando tudo parece se encaminhar para uma mesmice. 

h. Uma grande revelação nesse começo de campeonato, caso de Paulo Vinícius, meio de campo que tanto ajuda na marcação atuando como segundo volante como arma e prepara os contragolpes ao conduzir a bola em alta velocidade e infiltrar-se zagueiros adentro com talento para coordenar tempo e espaço, além de finalizações precisas.

i. Um banco de reservas que conta com dois jogadores ofensivos prontos para superar eventuais dificuldades dos titulares: Ermínio é um segundo atacante com facilidade para jogar pelas extremas, de onde parte em alta velocidade e finaliza geralmente com precisão; e Carlão é um meia de armação e atacante que tem a frieza necessária nas finalizações e também se engaja na marcação quando o adversário decide sair para o ataque. 

j. Um técnico que conhece a fundo cada jogador porque está há mais de duas temporadas no comando de um grupo que passa por alterações na medida em que eventuais contratados não preenchem os requisitos desejados. Luiz Carlos Martins parece ter alcançado nesta temporada o equilíbrio de que tanto precisava: o São Caetano segue marcando muito bem, mas desta feita conta com opções no ataque à prova de aridez de emoções que realmente contam no balanço final – a capacidade de fazer gols.

Time vai evoluir 

São essas 10 razões que explicam o desempenho do São Caetano na Série B do Campeonato Paulista. Poderiam ser listadas outras virtudes, mas esse conjunto tem peso preponderante. 

Isso tudo não quer dizer que o São Caetano é um time acabado e que, portanto, não terá evolução na competição. Acredita-se que os raros momentos em que a equipe empolga a torcida com troca rápida de passes verticalizados e triangulações tanto laterais quanto centrais vão se tornar mais constantes. É assim que funciona o futebol entre equipes com ambição e organização. 

Talvez seja possível ver até o final da Série B do Campeonato Paulista um São Caetano que convença mais críticos e torcedores de que é melhor do que parece. Ser melhor do que parece tem várias interpretações. Uma das quais, por exemplo, foi exercitada ontem à noite. O Velo acreditou que poderia surpreender o mandante quando fez um a zero e mesmo depois de sofrer o gol de empate no minuto seguinte. E se deu bem até os 30 minutos, quando sustentou um jogo equilibrado. Depois é que vieram os problemas.

Dizer que o Velo recuou e por isso levou o São Caetano a dominar o jogo é confundir consequência com causa. O que determinou a mudança de comportamento das duas equipes é que o São Caetano não se excedeu no empenho físico além da conta a ponto de faltarem pernas e fôlego até o apito final. É um time emocionalmente preparado para não se impressionar com lampejos do adversário. 

Diferente do Velo que correu demais, marcou demais, encurtou demais os espaços nos 30 minutos em que o jogo foi pau a pau inclusive no placar. Depois é que tudo se consumou. O São Caetano tem mais resistência para não oscilar durante todo o jogo no rendimento tático. O Velo sentiu o peso do desgaste e foi cedendo espaço. 

Mudanças ajudam muito 

É claro que não se deve relacionar o resultado final somente ao desnível de rendimento físico e consequentemente tático das duas equipes. As substituições do mais uma vez pouco produtivo Francisco Alex pelo atacante Ermínio e do contundido Elias por Carlão deram mais velocidade, mobilidade e efetividade ao São Caetano. Daí a festa pelos dois gols no segundo tempo foi uma extensão natural da superioridade geral. 

O Velo não se acovardou, tentou reagir mas não encontrava espaços para ameaçar o goleiro Lucas Frigeri – exceto num chute de falta da entrada da área que Misael acertou o travessão, quando o jogo já estava decidido. 

A sugestão que poderia valer como alerta a quem entende que o São Caetano é um time comum demais para sonhar alto é curta e grossa: não se deixem enganar pelas aparências. O São Caetano de Luiz Carlos Martins foi nas duas últimas temporadas um time frio mas burocrático que se deu mal na reta de chegada. 

Desta feita continua sendo um time gélido, mas há mais alternativas para chegar ao gol adversário. E principalmente um calculismo insuportável para quem não entende as vitórias que a equipe tem conquistado. O São Caetano engana quem pensa que do mato de frieza na maioria das jogadas não sai coelho em forma de balançar das redes. O Velo Clube foi mais uma vítima. Outras provavelmente virão. O maior problema do São Caetano é quando sai do roteiro traçado pelo técnico e se entusiasma demais, desgarrando-se do receituário tático-emocional. 



Leia mais matérias desta seção: Esportes

Total de 985 matérias | Página 1

05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André
26/07/2024 Futuro do Santo André entre o céu e o inferno
28/06/2024 Vinte anos depois, o que resta do Sansão regional?
11/03/2024 Santo André menos ruim que Santo André. Entenda
05/03/2024 Risco do Santo André cair é tudo isso mesmo?
01/03/2024 Só um milagre salva o Santo André da queda
29/02/2024 Santo André pode cair no submundo do futebol
23/02/2024 Santo André vai mesmo para a Segunda Divisão?
22/02/2024 Qual é o valor da torcida invisível de nossos times?
13/02/2024 O que o Santo André precisa para fugir do rebaixamento?
19/12/2023 Ano que vem do Santo André começou em 2004
15/12/2023 Santo André reage com “Esta é minha camisa”
01/12/2023 São Caetano perde o eixo após saída de Saul Klein
24/11/2023 Como é pedagógico ouvir os treinadores de futebol!
20/11/2023 Futebol da região na elite paulista é falso brilhante
16/10/2023 Crônica ataca Leila Pereira e tropeça na própria armadilha
13/10/2023 Por que Leila Pereira incomoda tanto os marmanjos do futebol?
10/10/2023 São Bernardo supera Santo André também no futebol
10/08/2023 Santo André prestes a liquidar R$ 10 mi de herança do Saged