Esportes

Tudo (ou nada) pode acontecer
no clássico regional da Série A

DANIEL LIMA - 17/02/2017

Santo André e São Bernardo fazem na manhã deste domingo um clássico regional que foge da rotina. Afinal, as duas equipes disputam o principal campeonato estadual do País, a Série A do Paulista, e correm atrás de um resultado que poderá fortalecer as bases para a fuga do rebaixamento e, em seguida, a busca por um lugar na fase decisiva. Santo André e São Bernardo carregam a perspectiva de que podem fazer um jogo bastante interessante. 

Depois de três rodadas, houve grande evolução técnica e tática. O Santo André contabiliza cinco pontos ganhos e vem de vitória diante do Corinthians no Itaquerão por dois a zero. O São Bernardo cresceu, pressionou o Palmeiras mas perdeu ontem à noite no Allianz Park por dois a zero. Soma três pontos até agora. 

Para compreender as perspectivas que Santo André e São Bernardo traçam para o jogo deste domingo é preciso voltar às rodadas anteriores. As duas equipes decepcionaram na estreia (o Santo André empatou em casa com o Ituano por um a um e o São Bernardo perdeu em Novorizonte por três a dois) quando jogaram muito abaixo do esperado. No jogo seguinte, em Campinas, contra o Red Bull, o Santo André melhorou o suficiente para empatar e merecer a vitória. O São Bernardo jogou em casa com o São Bento de Sorocaba e bastou um acerto técnico- tático nos últimos 30 minutos para vencer. Diante de dois grandes, o Santo André se deu melhor porque teve o que faltou demais ao São Bernardo: capacidade de finalização. 

Mais confiança 

Estava cético em relação ao futuro do São Bernardo na Série A do Campeonato Paulista e acreditava mais no sucesso do Santo André. Entenda-se sucesso como a possibilidade de fugir do rebaixamento. Agora estou mais confiante nas duas equipes. 

O São Bernardo me impressionou demais contra o Palmeiras. Perdeu um jogo perdível, como costumo dizer, mas mostrou muita evolução. O meio de campo ganhou mais consistência com um segundo volante (Geandro) e, com isso, liberou o até então inútil Rafael Costa à criação. A escalação de três atacantes (Rodolfo, Edno e Walterson) pode ter parecido um suicídio contra um Palmeiras evidentemente superior. Entretanto, tanto Walterson quanto Rodolfo também se fizeram de marcadores, impedindo a liberdade de avanços dos laterais palmeirenses.

O São Bernardo se manteve quase todo o tempo equilibrado diante do Palmeiras. O técnico Sérgio Vieira só errou quando trocou o lateral Eduardo pelo atacante Marcinho, que, ao final do jogo, em entrevista, parecia surpreso com a função que lhe foi imposta. Marcinho participou do lance em que o árbitro se equivocou ao marcar penalidade máxima em Dudu quando o atacante palmeirense nem entrara na grande área. O segundo gol matou de vez o jogo. 

Mudanças definem 

O que mais pesou na derrota do São Bernardo, entretanto, não foi eventual declínio de rendimento individual ou comprometimento coletivo. O Palmeiras tem banco de reservas para dar novo ritmo ao jogo. E foi o que aconteceu. Principalmente com a entrada de Michel Bastos que, deslocado à direita, fortaleceu uma jogada que já vinha provocando incômodos no primeiro tempo, com ultrapassagens e triangulações, além de penetrações em diagonal. O primeiro gol saiu assim. 

Nem sempre o resultado retrata com fidelidade o que se vê em campo. Numa comparação entre a vitória do Santo André contra o Corinthians e a derrota do São Bernardo diante do Palmeiras não é estupidez afirmar que o Alianz Park viu um time visitante mais organizado que o Itaquerão.

O Santo André diferencia-se do São Bernardo na organização coletiva defensiva, mas ainda deixa a desejar no sistema ofensivo. Com o São Bernardo se dá exatamente o oposto. Mas no conjunto, somando-se virtudes e deficiências, o São Bernardo da derrota para o Palmeiras pareceu mais compacto que o Santo André da vitória diante do Corinthians. 

Resta saber se a evolução do São Bernardo não foi um ponto fora da curva, ditado pela motivação de enfrentar uma grande equipe. O Santo André também viveu esse impacto, entregou-se física e taticamente ao jogo, mas dependeu demais dos erros do adversário. Já o São Bernardo perdeu o jogo porque desperdiçou pelo menos três oportunidades claríssimas que o Santo André não construiu no Itaquerão. 

Tudo ou nada

É por essas e outras que o clássico deste domingo no Estádio Bruno Daniel (com transmissão do canal Sportv) pode oferecer um cardápio tanto esperado de equilíbrio entre duas equipes que teriam encontrado o caminho da competitividade ou uma surpresa ditada pelo prevalecimento de uma das bandas de eficiência. Prevalecerá o Santo André dos contragolpes mortais diante de um São Bernardo mais liberal mas nem por isso descuidado defensivamente como nos primeiros jogos ou o que vai decidir mesmo é o contrário, um São Bernardo mais versátil no ataque e menos rígido na defesa? 

A derrota por um a zero contra o Criciúma, ontem no Estádio Bruno Daniel, em jogo válido pela Copa do Brasil, não foi do Santo André que disputa a Série A do Paulista. O técnico Toninho Cecílio fez mudanças que tornaram a equipe muito mais ofensiva. Não é esse o futebol que o treinador concebeu para o estadual. O que vale para um mata-mata nem sempre é o que baliza uma competição em que eventual derrota não põe tudo a perder.  



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