O São Bernardo ganhou mais que o clássico de domingo contra o Santo André por um a zero no Estádio Bruno Daniel pela Série A do Campeonato Paulista. O resultado foi importante para o time visitante, mas mais instigante para o futebol da região foi constatar uma tendência que tem o lado positivo e o lado negativo. O positivo é que o São Bernardo está se acertando na competição. O negativo é que o Santo André não avança além do previsível.
Isso pode fazer muita diferença porque um terço da competição já foi disputado. Os dois últimos colocados entre os 16 concorrentes vão disputar a Série B no ano que vem.
O gol da vitória do São Bernardo foi consequência de erro individual do lateral Jean, que recuou devagar demais a bola que o atacante Walterson apanhou e chutou contra a saída do goleiro. O lance explicitou bem o que houve durante toda a primeira etapa e que tem se convertido em parte do enredo tático do São Bernardo no campeonato: a marcação forte na saída de bola do adversário e o avanço sincronizado de outros setores para reduzir as ações contrárias.
Foi o que fez o São Bernardo durante todo o primeiro tempo e que seria humanamente impossível repetir mesmo com menos intensidade no segundo tempo quando se sabe que o jogo foi disputado a partir das 10h com sol de 33 graus. O Santo André ficou a nocaute durante todo o primeiro tempo, respirou no segundo com alterações que deram mais agilidade e rapidez ao meio de campo e ataque (entraram Claudinho, Deivid e Guilherme Garré), criou duas ótimas oportunidades para marcar, mas também sofreu dois contragolpes que poderiam ter liquidado de vez o jogo.
Melhora considerável
O São Bernardo de repetitivos lançamentos para a correria de atacantes e excessivamente monótono na troca de passes do primeiro jogo contra o Novorizontino parece ter ficado no passado recente. Já contra o Palmeiras, apesar da derrota, o time do português Sérgio Vieira mostrou que o coletivismo está entronizado nos três setores. Contra o Santo André a diferença de rendimento foi tão flagrante que o um a zero do primeiro tempo se deve à dificuldade de enfrentar o calor. Forçasse mais o jogo e outros gols teriam ocorrido.
Sem os laterais titulares Cicinho e Paulino, contundidos, o Santo André perdeu a vitalidade da saída de bola pelas extremas, jogada visceral no esquema do técnico Toninho Cecílio que povoa o meio de campo com jogadores de marcação.
Como Toninho Cecílio escalou volantes demais sem capacidade de transposição do meio de campo em direção ao ataque, e muito menos com sede de mobilização na ocupação de espaços no primeiro tempo, o jogo não poderia ser outro senão ataque contra defesa. Ainda mais que o treinador insistiu em retomar a formação de ataque com dois jogadores complementarmente incompatíveis quando se pensa em velocidade, agudeza na preparação de jogada e infiltrações a partir da intermediária do campo adversário: Edmilson e Henam, centroavantes de origem estão previamente guilhotinados toda vez que se juntarem numa mesma formação – exceto quando atacar é a única saída e o adversário só tenha preocupação em defender. O que não foi o caso do São Bernardo, tanto quanto não foi o caso do Ituano, na rodada de abertura.
Mantendo o controle
O São Bernardo não perdeu o controle tático do jogo mesmo quando o Santo André reagiu no segundo tempo com as mudanças. Controle tático é a arte de permanecer com os sinais vitais de agressividade ofensiva mesmo quando a equipe está aparentemente nas cordas.
Foram poucos os trechos do jogo em que o Santo André exerceu pressão de mandante para valer. Mas pelo menos o segundo tempo serviu para aliviar a crítica de que o Santo André não teria condições técnico-táticas para suportar as escaramuças de uma competição na qual um grupo de meia dúzia de equipes está marcada para disputar o rebaixamento.
Uma meia dúzia literal cuja linha de produção durante a competição certamente definirá quem vai para a Série B no ano que vem. No ano passado o Água Santa de Diadema começou bem e depois degringolou, enquanto São Bernardo saiu do calabouço e se reergueu sob o comando do técnico Sérgio Soares.
Fragilidade nas laterais
Entrar numa competição em que os dois laterais tão vitais à organização ofensiva podem (como ocorreu) colocar tudo a perder, sem que peças de reposição à altura sejam lançadas, é um grande risco. A ausência de alguém no meio de campo para dar densidade à posse de bola e organizar infiltrações só foi superada com a entrada de Claudinho no segundo tempo. O também meio-campista Fernando Neto começou na lateral-esquerda, foi deslocado ao meio e voltou à lateral. São mexidas demais que afetaram o sistema de marcação e cobertura da defesa. O Santo André marcador por excelência teve oscilações demais, principalmente quando o São Bernardo apertava o ritmo. O meia-atacante Marcinho, por exemplo, jamais encontrou alguém que o acompanhasse às costas da lateral-esquerda. Os zagueiros de área se perderam na marcação ao falso centroavante Edno. Pareciam temê-lo.
Ainda há oito jogos para cada uma das equipes da região na competição. Por enquanto persiste a dualidade de uma disputa cujo regulamento é esdrúxulo: tanto podem chegar entre os oito finalistas como teriam dificuldades em se manter na Série A. Os próximos jogos, provavelmente o novo terço de jogos antes das rodadas finais, dirão o que estaria reservado à dupla da região que fez um clássico dentro dos limites do possível diante da insanidade do horário e do calor.
Walterson é pragmático
Pelo andar da carruagem, o Santo André parece ter um repertório menos qualificado para sustentar grandes planos. O São Bernardo tem conceito de jogo mais equilibrado entre sistema defensivo e sistema ofensivo. Mostrou isso, inclusive, na derrota para o Palmeiras. Já o Santo André é desequilibradamente mais forte no sistema defensivo. Mostrou isso na vitória diante do Corinthians em pleno Itaquerão. O São Bernardo é mais compacto, solidariamente mais produtivo e vive melhor astral.
Por enquanto, aposto minhas fichas no São Bernardo inclusive na luta para chegar à próxima fase. Entre outras razoes porque o técnico Sérgio Vieira ceder espaço ao bom senso. Geandro e Marcinho deram mais qualidade ao meio de campo e ao ataque. Walterson é um perigo. Tem muito mais produtividade que o então badalado Danielzinho, que, lançado com pompa e circunstância pelo São Bernardo, jamais passou de promessa. Walterson não perde tempo com firulas repetitivas e improdutivas. Tem técnica especial na finalização e é pragmático ao unir força, velocidade e entendimento do jogo coletivo.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André