Esportes

Região pode ter mais times que
a Capital na Série A de 2018

DANIEL LIMA - 24/02/2017

Não é nenhuma peça de ficção e muito menos um sonho sem cabimento: a região pode contar na Série A do Campeonato Paulista do ano que vem com mais equipes do que a Capital. Já imaginaram Santo André, São Bernardo, São Caetano e Água Santa de Diadema entre os 16 participantes do principal campeonato estadual do País? Até agora não emplacamos mais que duas equipes na mesma edição da Série A. Santo André e São Bernardo, Santo André e São Caetano, São Caetano e São Bernardo e São Bernardo e Água Santa. 

A possibilidade de fazer uma quadra está latente antes que a folia carnavalesca chegue e pode seguir quando quarta-feira de cinzas virar passado. Os resultados até agora das equipes da região permitem sugerir que Corinthians, Palmeiras e São Paulo são muito maiores que todos os nossos times juntos, mas em quantidade de representação o gataborralheismo da região seria ocasionalmente pulverizado pelo menos quando se falar de futebol. 

Depois de disputar 22 jogos na Série A e na Série B do Campeonato Paulista (também conhecidas por Série A-1 e Série A-2), o futebol da região vai muito bem na briga por duas vagas de acesso, além de não correr até agora riscos mais inquietantes com o rebaixamento. Santo André e São Bernardo fazem campanhas razoáveis na Série A enquanto São Caetano e Água Santa disputam neste sábado de Carnaval quem terminará a rodada na liderança da Série B. 

Foco entre rebaixáveis

Enquanto na Série A os dois últimos colocados são rebaixados à Série B do ano que vem, na Série B sobem apenas os dois primeiros e são rebaixados os seis últimos. Neste ano o número de concorrentes segue assimétrico, mas no ano que vem as duas divisões contarão com igualdade de equipes – 16 no total. É aí que entrariam as quatro equipes da região na Série A. 

Santo André e São Bernardo não devem jamais perder de vista que o mais importante continua sendo fugir do rebaixamento. O foco não pode ser contaminado por irrealismos. Pelo menos enquanto irrealismos não se traduzam em probabilidades concretas. 

As 16 equipes da Série A foram divididas em quatro grupos de quatro equipes cada. Há dois tipos de classificação: os dois primeiros de cada grupo vão disputar as quartas de final, enquanto os dois últimos na classificação geral serão rebaixados. Estar de olho na classificação geral é muito mais importante às equipes da região enquanto a sombra matemática da queda persistir. 

Por enquanto, antes da rodada carnavalesca, cinco equipes estão abaixo do Santo André e do São Bernardo na classificação geral: o São Bento de Sorocaba só fez um ponto em cinco jogos, o Linense e o Audax fizeram quatro e o Red Bull e a Ferroviária cinco. Até prova em contrário é nessas equipes que a dupla da região precisa ficar de olho. 

Aproveitamento escasso 

São Bernardo e Santo André somaram o mesmo número de pontos – seis em 15 possíveis – mas o Ramalhão leva vantagem na classificação geral porque tem melhor saldo de gols: um positivo contra dois negativos do rival regional. O Santo André marcou cinco e sofreu quatro gols em cinco jogos, enquanto o São Bernardo fez cinco e sofreu sete.

Na Série B, sempre antes da rodada carnavalesca, o Água Santa lidera com 14 pontos em 18 possíveis contra 13 do São Caetano também após seis rodadas. Rio Claro (12 pontos) e Bragantino (10) completam o chamado G-4, de equipes que disputarão a semifinal, quando o primeiro colocado enfrentará o quarto e o segundo jogará com o terceiro. 

Essa ordem de jogos é importante. São Caetano e Água Santa só subiriam nesta temporada caso não se enfrentem numa possível semifinal envolvendo os quatro primeiros colocados. 

O aproveitamento de pontos das equipes da região na Série A e na Série B é de 59,10% após 22 jogos. Em conjunto, São Caetano e Água Santa somam 75% de aproveitamento: disputaram 36 pontos e ganharam 27. Já o resultado conjunto de Santo André e São Bernardo na Série A é bem mais discreto, com aproveitamento de 40%, ou seja, de 12 pontos conquistados em 30 disputados. As quatro equipes da região marcaram até a chegada do Carnaval 26 gols e sofreram 17. São Caetano e Água Santa registram os melhores indicadores, com 16 gols a favor e apenas seis contra. 

Santo André mais vulnerável 

Uma análise preliminar que leve em conta o desempenho das quatro equipes da região até agora nos dois campeonatos indica que apenas o Santo André correria o risco de quebrar a espinha dorsal de uma análise otimista sobre a participação maciça na Série A da próxima temporada. 

O Santo André ainda faz experimentos porque não encaixou a melhor maneira de jogar. A predileção por um sistema defensivo sólido em combinação com o uso da velocidade nos contragolpes, utilizando-se principalmente dos laterais, sofre constantes interrupções. Contra a Ferroviária, no meio da semana, o técnico Toninho Cecílio recorreu a uma formação inédita, com três zagueiros. O Santo André saiu à frente no placar, fez um primeiro tempo sem solavancos, mas bastou o adversário arrumar um antídoto tático (trocou um segundo volante por um segundo meia-atacante) e tudo desandou. 

Os 45 minutos do segundo tempo foram uma rotina de ataque contra defesa. A Ferroviária empatou e poderia ter vencido. O Santo André praticamente não incomodou. Sem um aparato tático razoável é muito pouco provável que o Santo André não deixe de passar sufoco numa competição muita equilibrada entre os pequenos e, pior ainda, muito curta. Ganhar três pontos do Corinthians foi um desvio estatístico que deve ser festejado como possível diferencial na reta de chegada. 

São Bernardo mais confiável 

Embora conte com o mesmo número de pontos ganhos do Santo André e seja inferior no saldo de gols, o São Bernardo sinaliza maior potencial que o adversário, o qual derrotou no clássico de domingo passado quando, sobretudo no primeiro tempo, foi estupidamente superior. 

O São Bernardo evolui a cada rodada. Mesmo quando perde, diante do Palmeiras e do Mirassol, não deixa dúvidas de que reúne condições para não constar da lista dos rebaixáveis. Seria preciso abrupta redução de rendimento geral da equipe para que o fantasma do rebaixamento retorne. O técnico português Sérgio Vieira só precisa acertar mais a mão na escalação da equipe. O meio de campo se arrumou com a entrada de Geandro, Edno está cada vez mais à vontade como falso centroavante, mas ainda faltam infiltrações centrais e mais poder de aproximação pelas laterais. 

Portanto, em termos de riscos, o São Bernardo parece menos suscetível a complicações do que o Santo André. As duas equipes terão muitas dificuldades para dar um salto na competição a ponto de constarem da relação dos oito classificados que disputarão a fase decisiva. Se para o rebaixamento é indispensável estar de olhos voltados ao posicionamento de todas as equipes de nível técnico semelhante, na briga pela próxima fase basta superar dois dos três adversários do agrupamento. 

No caso do São Bernardo, os alvos são o Botafogo e o Ituano, porque o Corinthians deverá chegar à frente. A distância que separa o São Bernardo do Botafogo é de apenas um ponto, enquanto para alcançar o Ituano precisa tirar a diferença de dois pontos. No caso do Santo André, o Palmeiras é o líder com nove pontos, enquanto o Novorizontino tem os mesmos seis pontos da equipe da região. O São Bento só fez um ponto até agora. 

Rodadas dramáticas 

Já o São Caetano e o Água Santa deverão de olhos fixos no G-4. As 13 rodadas que ainda faltam para o final da etapa de classificação provavelmente serão dramáticas. O São Caetano desta temporada é um time mais equilibrado que nas duas disputas anteriores, quando chegou bem próximo do acesso. Desta vez o sistema defensivo não é tão mais forte que o sistema ofensivo. Há mais opções do meio de campo para frente. A derrota de segunda-feira para o Rio Claro no Interior foi um acidente. O São Caetano foi melhor todo o tempo diante de um adversário também forte concorrente a uma das quatro vagas. 

O fato de o São Caetano não ter alcançado o empate mesmo com dois jogadores a mais em campo durante 25 minutos não pode relativizar o rendimento no jogo e também na competição. A equipe de Luiz Carlos Martins avança individual e coletivamente a cada rodada. Já há mais aproximação entre os setores e o ritmo de ataque não depende da repetição de jogadas burocráticas. 

Do time Água Santa de Diadema não escrevo mais que o recomendável, porque não o vi jogar até agora. No caso do São Caetano, assisti presencialmente ou na TV cinco dos seis jogos. O Água Santa trata muito mal a Imprensa e por isso não me apetece acompanhar os jogos em Diadema. Jornalistas sérios deveriam fazer a mesma coisa. Até que a diretoria do clube entenda o trabalho de profissionais de comunicação. 

Certo mesmo e sem ver o time em campo, mas conhecendo o histórico do técnico Jorginho Cantinflas e de alguns jogadores, tudo indica que o Água Santa tem força para voltar à Série A do Paulista, da qual só participou no ano passado e obteve a façanha de golear o Palmeiras por quatro a zero. 

Água Santa menos observado

O fato de não ter nenhum dos jogos transmitido até agora pela TV torna o Água Santa menos devassado pelos adversários do que o São Caetano. Mas aos poucos os observadores que acompanham os próximos adversários esquadrinharão tudo o que Jorginho Cantinflas coloca em campo. A diferença de um ponto favorável ao Água Santa na classificação da Série B em relação ao São Caetano pode ser contraposta com um argumento que não é descabido: enquanto os adversários do São Caetano nas seis primeiras rodadas totalizaram 54 pontos, os times com os quais o Água Santa mediu forças somaram 39. Uma diferença de 28% no índice de aproveitamento. 

O São Caetano jogou com três dos cinco primeiros colocados (só falta mesmo o Água Santa neste sábado), enquanto o time de Diadema só enfrentou o Bragantino de lista análoga. Mais: das seis equipes que ao final da sexta rodada constavam da zona de rebaixamento (Z-6), o Água Santa já enfrentara metade, enquanto o São Caetano não foi a campo contra nenhuma. 

Quem conhece o técnico Jorginho Cantinflas sabe que ele morre de amores por uma equipe que pratica futebol técnico, de muita velocidade, troca de passes verticais, compactação defensiva e capacidade de contragolpe. Bem diferente do técnico que levou o Água Santa a sucessivos acessos até chegar à Série A do Campeonato Paulista no ano passado. O mesmo técnico que conduziu o Água Santa ao cadafalso do rebaixamento na temporada passada. O futebol feito de muita transpiração e excesso de lançamentos em diagonal não suportou a variedade de apetrechos dos adversários. 

Mesmo quando se considera que a Série B tem nível de combatividade mais acirrada que a Série A, o bom senso indica que as equipes que conciliarem os dois conceitos podem chegar entre os primeiros. 

Certo mesmo é que, conhecendo-se o São Caetano como conheço e tendo indicadores sobre as razões de o Água Santa estar na liderança, o jogo deste sábado no Estádio Anacleto Campanella deverá ser uma preciosidade para quem quer chegar a um ponto de vista mais preciso e confiável do que está no horizonte das duas equipes nesta temporada. Pelo visto até agora, São Caetano e Água Santa vão disputar mesmo o acesso com amplas condições de obterem sucesso.  Por isso, o Santo André que se cuide para não estragar a festa regional prevista para o ano que vem na Série A mais valorizada do futebol estadual brasileiro. 

Tudo isso, é claro, não passa de prognóstico, ou de diagnóstico com base no presente. Nada que o futuro não se apresente como desmancha-prazeres. 



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