Faltam cinco rodadas para acabar a fase de classificação da Série A do Campeonato Paulista. Faltam 10 rodadas para o encerramento da fase de classificação da Série B do Campeonato Paulista. Que o leitor não se esqueça disso. A contagem regressiva é uma sugestão para uma dose adicional de emoção quando se trata do futebol da região. O sonho de contar com quatro equipes na Série A do ano que vem (contra três da Capital) continua valendo. Hoje contamos com duas equipes (São Caetano e Água Santa de Diadema) no G-4 da Série B (que daria direito a disputar as semifinais) e também com duas equipes (São Bernardo e Santo André) livres da zona de rebaixamento da Série A, que apanhará os dois últimos colocados.
Dos times da região o que mais preocupa é o Santo André. Não necessariamente por causa da goleada diante do São Paulo ontem no Morumbi por quatro a um. Tratava-se de um jogo perdível, como todos os jogos contra os grandes da Capital. E tampouco interessa se o árbitro cometeu barbaridades ao validar dois gols irregulares que alteraram tudo no jogo. O que interessa mesmo é o comportamento da equipe na estreia do técnico Sérgio Soares. Não gostei do que vi, mas acho que vou gostar do que vou ver nos próximos jogos do Santo André. Depois explico.
Gostei do que vi, mas poderia ter gostado mais do que o São Caetano apresentou na vitória de dois a zero no Estádio Anacleto Campanella contra o Batatais, então invicto na competição. O resultado devolveu a liderança ao São Caetano, mas deve servir de alerta. Há erros de posicionamento que precisam ser corrigidos. Captei vulnerabilidades defensivas até então menos escancaradas. Depois explico.
Também gostei do que vi no São Bernardo na noite de sábado no Estádio Primeiro de Maio contra o sempre complexo Audax na vitória por 3 a 1. O resultado foi tão enganoso, mas nem por isso injusto, quanto os anteriores, quando o São Bernardo se deu mal diante do Palmeiras e do Mirassol. O time do português Sérgio Vieira não tem pinta de que será ameaçado para valer pelo rebaixamento. Com um pouco de sorte pode disputar a etapa de mata-mata. Há uma combinação de bom elenco com organização tática. Isso pesa.
Do Água Santa de Diadema nem me perguntem por que a equipe venceu o Mogi Mirim por três a um longe da região. Se o jogo fosse em Diadema também não saberia como se deu o resultado. Sigo em protesto contra a diretoria do clube que não tem o menor respeito pela Imprensa. A mesma Imprensa que não se respeita ao não promover uma ação vigorosa contra os dirigentes que preferem instalar seus convidados especiais de sempre nas cabines de imprensa e relegar quem é do ofício de informar à própria sorte.
Do Santo André da derrota contra o São Paulo o que mais gostei foram os primeiros contornos da nova concepção técnico-tática. Nada surpreendente. O técnico Sérgio Soares é doutrinador de futebol alegre, ofensivo, envolvente. Ele substitui a Toninho Cecílio cuja marca registrada é a força, o vigor, a marcação implacável. O problema de o Santo André estar mal na competição é que contratou jogadores leves e técnicos e os entregou a Toninho Cecílio.
Começo da reação?
O Santo André de Sérgio Soares já ensaia triangulações laterais, penetrações centrais em velocidade, mobilidade e muito mais. O drama que vai atormentar o treinador é que precisa explorar rapidamente a necessidade de dotar a equipe de um coletivismo que reduza o grau de vulnerabilidade defensiva. O sistema defensivo do Santo André contra o São Paulo foi uma coleção de buracos por todos os lados.
Já o São Bernardo que venceu o Audax de Osasco mostrou força coletiva que só não recebe nota elevada porque ainda se desconcentra em determinados momentos do jogo. A marcação adiantada, a compactação entre os setores, a velocidade na puxada de contragolpes, tudo isso é de provocar inveja ao Santo André herdado por Sérgio Soares. Vencer o Audax não é para qualquer equipe. O resultado de três a um não retrata o que foi o jogo – o Audax pressionou a maior parte do segundo tempo – mas foi uma recompensa ao São Bernardo que, nos jogos anteriores, perdeu-se na falta de efetividade para coroar boas atuações.
Contragolpes demais
O São Caetano da vitória sobre o Batatais se descuidou demais no setor defensivo. Abriu brechas a contragolpes mortais de um adversário forte, duro na marcação, experiente e não à toa candidatíssimo a uma das quatro vagas às semifinais. O que está a faltar ao São Caetano é aproximação mais consistente e permanente entre os setores. O meio de campo se desgarra demais do ataque e da defesa. Os vácuos são bem aproveitados por adversários fortes como o Batatais. A equipe do Interior chegou a ter o controle do jogo durante 15 minutos do segundo tempo. Poderia ter liquidado o jogo numa bola que acertou a trave e, em seguida, numa confusão na pequena área. O São Caetano foi melhor durante a maior parte do jogo, mas só venceu com gols aos 37 e 43 minutos do segundo tempo quando foi para o tudo ou nada. O gol de bicicleta de Carlão, após cobrança de lateral de Alex Reinaldo, foi uma obra-prima. Uma bola parada diferente que é uma das armas do São Caetano.
Quatro na Série B?
É claro que não será nada fácil a região contar com quatro representantes na Série A do ano que vem. Colocar São Caetano e Água Santa de Diadema entre os quatro primeiros da Série B e em posicionamentos que não os levem a se enfrentar na semifinal, já que apenas dois sobem de divisão, vai depender muito da capacidade de melhoria de rendimento das duas equipes. O estágio já é avançado, mas há adversários que os ameaçam seriamente. Muitos adversários, melhor dizendo.
A Série B jamais foi tão duramente competitiva como nesta temporada. E o será ainda mais no ano que vem, quando terá a participação de apenas 16 equipes. Não parece razoável afirmar que, em contraponto negativista, teremos sim quatro equipes entre as 16 da Série B na próxima temporada.
Já a sorte na Série A, repito, é um desafio e tanto. O Santo André está com cara de rebaixamento porque parece coletivamente muito abaixo dos adversários com os quais concorre para fugir das duas últimas colocações na classificação geral.
Aos treinamentos, portanto
Só mesmo Sérgio Soares com sua imensa capacidade de repassar conceitos da teoria para a prática em treinamentos específicos poderá dar ao Santo André uma boia salvadora nos cinco jogos que restam. Parece que não, mas quem viu o jogo contra o São Paulo e conhece Sérgio Soares sabe que ali foram plantadas as primeiras estacas de uma coerência desprezada até então pelo antecessor: o Santo André conta com jogadores cujas características parecem ter sido medidas com vistas à contratação de Sérgio Soares. Serginho, Claudinho, Dudu Vieira, Henan, Eduardo Ramos e Guilherme Garré só têm uma possibilidade de se darem bem no futebol: se jogarem coletivamente, aproximando-se e envolvendo os zagueiros adversários. E isso se faz preliminarmente com muito treino, para que não se errem passes demais durante os jogos. Como ontem no Morumbi. Sérgio Soares vai ter de conservar o avião em pleno voo.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André