O futebol da região vai viver uma quarta-feira de redenção ou de prostração na Série A e uma quarta-feira de consolidação ou inquietação na Série B do Campeonato Paulista? As respostas podem ser uma combinação positiva das duas alternativas de cada equação, mas também podem ser o que de pior existe igualmente nas duas proposições. Também não está descartada uma mistura de resultados que representem uma associação de positivo e de negativo quando se observarem as duas séries da competição.
Para viver uma quarta-feira gloriosa, precisamos passar pelo desafio de superar o risco iminente de rebaixamento simples ou duplo na Série A, que vive a última rodada da fase de classificação, e também manter as duas primeiras colocações na Série B na reta de chegada às semifinais – depois da rodada de hoje só restarão cinco para se completar a fase classificatória.
O cenário de desilusão completa seria configurado com a queda de Santo André e do São Bernardo à Série B e o deslocamento de São Caetano e de Água Santa de Diadema dos dois primeiros lugares na Série B.
Existe também um meio termo que seria menos desalentador, com a queda de apenas um dos dois times da região que estão ameaçados na Série A e a perda temporária ou não de um dos dois primeiros lugares na Série B.
Por que chegamos à beira da queda dupla na Série A. Por que estamos ameaçados de perder os dois primeiros lugares na Série B?
Equívoco custa caro
O Santo André que enfrenta o Audax do técnico Fernando Diniz precisa de uma vitória para não depender de nenhum concorrente. Isso é consequência direta do erro de montar uma equipe jovem, leve e de mobilidade e entregá-la ao técnico Toninho Cecílio, conhecido pela vocação à marcação defensiva forte e ao jogo em contragolpes.
A chegada de Sérgio Soares, que segue o figurino da troca de passes rápida, dos deslocamentos, da aproximação entre os setores, de procura incessante do gol, deu mais qualidade ao grupo, mas não se faz transformações da noite para o dia. Principalmente numa competição de tiro curto, de apenas 12 jogos.
É visível a melhora de rendimento do Santo André em termos coletivos, como mostrou no jogo com o Santos, mas entre a chegada de Sérgio Soares e a última rodada de classificação não houve tempo suficiente para respiro. Sem ganhar um único jogo em casa, o Santo André viveu na tabela de classificação de duas vitórias surpreendentes contra Corinthians e Mirassol. Quem ganha de time grande numa competição curta tem tudo para se safar do rebaixamento, mas quem não ganha um jogo sequer em casa praticamente anula essa premissa.
Mudanças demais
Já o São Bernardo moldado pelo técnico português Sérgio Vieira sugeriu nas primeiras rodadas que poderia até classificar-se à etapa seguinte. Mas o treinador não se apercebeu que melhor que lutar por uma vaga nas quartas-de-final seria cuidar prioritariamente da fuga do descenso.
O São Bernardo foi alterado demais durante a competição. Defesa, meio de campo e ataque viveram experiências que abalaram o conjunto. O jogo com o Linense no final de semana foi um desastre: Edno e Walterson, atacantes que mais se destacaram na equipe, responsáveis diretos por seis dos 10 gols marcados, ficaram no banco de reservas. Quando entraram, o São Bernardo dominou, merecia ganhar mas sofreu um gol em cobrança de falta.
Nenhum jogador do elenco do São Bernardo se manteve titular durante os 11 jogos da equipe na Série A, exceto o goleiro Daniel e o lateral Eduardo. O time que fez a primeira partida é bem diferente do que perdeu em Lins. O meio de campo contou com diferentes concepções táticas. Desde um único volante até três marcadores. O ataque com Edno de falso centroavante inspirava sucesso, mas nem sempre o meio de campo aproxima-se o suficiente para completar as jogadas. O time se tornou previsível demais num sistema 4-3-3 que deixava muitos espaços aos adversários.
A ausência de um atacante que partisse do meio de campo em direção ao gol adversário é uma debilidade do grupo formado por Sérgio Vieira. Sem esse homem de infiltração os espaços criados por Edno acabam preenchidos pelos adversários. Felipe Matheus e Rafael Costa são meias habilidosos, mas não têm a característica de agressividade e velocidade de que a equipe necessita.
Só o São Bento de Sorocaba fez menos gols que o São Bernardo na competição (sete contra 10). Já o sistema defensivo revelou debilidades clássicas. Os jogadores do meio de campo e do ataque não sustentaram regularidade como peças de marcação.
Fatores em comum que explicam a situação em que se encontram Santo André e São Bernardo poderiam ser listados sem dificuldades: sistema defensivo sem a agressividade de marcação que a competição exige, meio de campo disperso e ataque reticente, dependente demais dos atacantes propriamente ditos. O Santo André fez 13 gols e sofreu 17 em 11 jogos, enquanto o São Bernardo fez 10 e sofreu 16.
Quando se observa a tabela detalhada da Série A do Paulista, as duas equipes da região estão entre as piores no ataque e as menos confortáveis na defesa. São sintomas de complicações que a tabela de pontos ganhos penaliza da forma que está exposta no drama para segurar-se na Série A.
Projeção especializada
O site Chance de Gol, com tradição de analisar diferentes vetores de uma competição, aproximando os dados de elementos de cientificidade que nem sempre o futebol obedece, aponta o São Bernardo como o mais provável rebaixado à Série B do Campeonato Paulista do ano que vem. A equipe reúne 59,0% de probabilidades de queda, contra 52,2% do Audax de Osasco. O Santo André tem carga menor de desespero nas contas do site, com 36,3%. Bem menos que o São Bento de Sorocaba, terceiro na escala de horrores, com 49,6%.
Quem torce para o Santo André seguir na Série A sem se preocupar com os demais resultados deve esperar pela conquista dos três pontos em Osasco contra o Audax. O resultado resolveria tudo porque a equipe chegaria a 14 pontos. Nesse caso, além do Audax seria rebaixado o São Bernardo ou o São Bento de Sorocaba. Se empatar em Osasco, o Santo André precisa torcer para o São Bernardo não vencer o São Paulo ou o São Bento não superar o Mirassol no Interior. Se perder para o Audax, o Santo André deve rezar para o São Bernardo perder em São Bernardo e o São Bento em Mirassol.
Já o São Bernardo só escapa do rebaixamento caso vença o São Paulo no Estádio Primeiro de Maio e o Audax perca para o Santo André em Osasco, além de o São Bento ser derrotado em Mirassol. O São Bernardo também escapa da queda se vencer o São Paulo, se o Santo André perder em Osasco e o São Bento empatar em Mirassol.
Há também possibilidades de o São Bernardo disputar a Série A do ano que vem em caso de empate com o São Paulo nesta noite. Com isso, a equipe chegaria aos mesmos 11 pontos do Santo André que precisaria perder em Osasco, além de o São Bento cair diante do Mirassol. O São Bernardo também se manteria na Série A em caso de empate com o São Paulo em caso de empate do Santo André em Osasco e da derrota do São Bento em Mirassol. Essa combinação de resultado salvaria as duas equipes da região.
Ituano (0,01%), Red Bull (0,8%) e Ferroviária (2,0%) também estão na lista de probabilidades de queda do site Chance de Gol. Nada que não seja residual, porque uma gigantesca combinação de resultados envolvendo sete equipes teria de ser levada em conta.
Dupla ameaçada
Na Série B, o líder São Caetano e o vice-líder Água Santa jogam fora de casa e podem perder posições, mas também podem reforçar o potencial de chegar entre os quatro primeiros ao final da fase de classificação. Faltam apenas seis rodadas para se conhecer o G-4 que disputará a semifinal. O São Caetano de péssima apresentação no empate em casa com o Oeste de Barueri vai enfrentar o Capivariano no Interior. Já o Água Santa, que perdeu em casa para o Guarani, vai jogar justamente com o Oeste fora de casa.
O São Caetano teria menos dificuldades esta noite, porque o Capivariano ocupa a penúltima colocação com 11 pontos ganhos em 13 jogos. Já o Oeste vem de recuperação e ocupa a 13ª posição com 15 pontos. Uma posição acima da linha de corte de rebaixamento, que atingirá os seis últimos colocados.
O Batatais tem 25 pontos ganhos (como o Água Santa e um a menos que o São Caetano), mas também joga como visitante: enfrenta o antepenúltimo colocado Mogi Mirim. Um jogo relativamente fácil, porque o Mogi Mirim virou saco de pancadas. Perdeu do São Caetano e do Penapolense nos dois últimos jogos por goleada: sofreu 10 gols (seis do São Caetano) e não fez nenhum. Já o Rio Claro, que completa o G-4 com 24 pontos, enfrenta o Votuporanguense -- que soma 15 pontos, apenas um acima da linha de rebaixamento. O jogo será em Rio Claro.
Dos times que estão no entorno dos quatro primeiros (Penapolense, Bragantino, Taubaté, Guarani e Juventus), o jogo mais importante envolve Taubaté e Guarani, no Vale do Paraíba. Quem perder estará praticamente fora da disputa pelo G-4. As duas equipes têm 20 pontos ganhos, quatro atrás do Rio Claro. O Penapolense tem 23 pontos e enfrenta a Portuguesa no Canindé, enquanto o Bragantino com 21 pontos joga em casa com o XV de Piracicaba. O Juventus com 18 pontos recebe o Barretos na Rua Javari.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André