Depois de dois bons resultados como visitantes na partida de ida de mata-mata dos semifinalistas da Série B do Campeonato Paulista, São Caetano e Água Santa de Diadema podem festejar nesta terça-feira o acesso ao principal campeonato estadual do País. As duas equipes se juntariam ao Santo André na Série A do ano que vem e colocariam a região numa posição inédita: pela primeira vez na história contaria com três representantes na competição. Como a Capital de Corinthians, São Paulo e Palmeiras.
Será que vamos alcançar essa façanha que só não seria maior ainda porque o São Bernardo foi rebaixado à Série B da próxima temporada?
Primeiro é preciso explicar o conceito de bons resultados dos jogos de ida para o empate de dois a dois do São Caetano contra o Rio Claro e para a derrota de um a zero do Água Santa diante do Bragantino.
No caso do São Caetano, não há dúvida de que empatar fora de casa e decidir em casa por uma vitória com qualquer placar é um grande feito. Ainda mais que o Rio Claro é frequente ganhador de três pontos quando joga em seu próprio campo, mas cai de desempenho como visitante.
Já o bom resultado do Água Santa em Bragança Paulista, quando perdeu de um a zero, tem fácil explicação: a diferença poderia ter sido bem maior, tal a ineficiência do time de Diadema e a inspiração do adversário. O Água Santa parece que se assustou diante de um adversário mais tradicional e entrou em parafuso tático. Entre mortos e feridos sobraram a expectativa e a confiança de que pode reverter a situação.
Também não adianta tapar o sol das dificuldades com a peneira do otimismo exagerado: o duplo acesso do futebol da região nesta temporada da Série B está próximo, mas também pode estar distante.
Principalmente no caso do Água Santa. Não parece descartável que a disputa vá às penalidades máximas. Ou seja: que o Água Santa vença também por um gol de diferença e tenha de se submeter ao regulamento. O Bragantino não se sentiria emocionalmente inferiorizado em Diadema. Já o Água Santa deixou evidenciado que se assustou como visitante.
O time de Jorginho Cantinflas não pode repetir as falhas cometidas em Bragança Paulista na noite de sábado. Completamente desorganizado, bem marcado pelo adversário e vivendo de escassas jogadas com a marca do treinador – penetrações laterais e centrais em jogadas combinadas, principalmente -- sair com derrota de apenas um gol de diferença foi um achado. Três gols seria a medida justa. E praticamente irreversível. Como o Palmeiras diante da Ponte Preta e a Ponte diante do Corinthians.
Engrenagem emperrada
Como o sistema ofensivo do Água Santa é bem aparelhado, retrato de ex-meia-atacante que jogou pelo Santo André, Palmeiras e tantas outras equipes, a possibilidade de marcar pelo menos um gol não é exagero. Resta saber quantos gols a equipe sofreria. Durante todo o jogo em Bragança Paulista o Água Santa se esmerou em se posicionar muito mal. Os rebotes defensivos e ofensivos, essenciais ao controle do jogo, foram predominantemente do adversário.
O golpe tático que o Bragantino aplicou praticamente imobilizou a equipe da região. O técnico Alberto Felix mandou o Bragantino marcar a saída de bola o tempo todo. O Água Santa, dirigido por um treinador que detesta chutões, precisou recorrer a lançamentos, a ligações diretas. O circuito de integração defesa-meio-de-campo-ataque entrou em pane. A tática poderá ser repetida em Diadema, embora com riscos maiores. Deixar o Água Santa produzir tabelas e triangulações, entretanto, é muito pior.
Instabilidade preocupante
Já o São Caetano deu todos os indicativos de que poderia voltar vitorioso de Rio Claro. Entretanto, o desequilíbrio emocional gerado pela falha do goleiro Paes no primeiro gol do Rio Claro, ao final do primeiro tempo, se irradiou durante todo o período complementar e afetou o conjunto. Não há equipe que resista quando o goleiro fracassa. Perde-se confiança e consequente organização ofensiva.
Quando sofreu o segundo gol logo no começo do segundo tempo tudo parecia se complicar ainda mais para o São Caetano, mas uma das especialidades do técnico Luiz Carlos Martins – as cobranças de escanteio – logo se manifestou no gol do zagueiro Sandoval. O controle do jogo que foi completo no primeiro tempo, principalmente após o gol de cabeça de Carlão, esfarelou-se na medida em que o tempo passava num segundo tempo em que o Rio Claro, mesmo após o gol de empate, projetou-se ao ataque. Não chegou à vantagem sem mérito logo em seguida.
O Rio Claro foi melhor no segundo tempo, quando a marcação nas laterais do São Caetano já não se encaixava mais. As triangulações do Rio Claro passaram a alimentar os cruzamentos na área. Mesmo assim, a melhor oportunidade do jogo foi desperdiçada por Carlão. No último minuto o atacante sobrou livre, penetrou mas bateu forte no corpo do goleiro.
Atacantes letais
O São Caetano poderia ter voltado com uma vitória que não retrataria o jogo como um todo, mas ressaltaria um ingrediente do time de Luiz Carlos Martins que tem feito estragos aos adversários: os rápidos contragolpes para o aproveitamento dos dois atacantes que formam um 4-4-2 mais monolítico na defesa do que criativo no ataque. Carlão e Ermínio têm mobilidade e se completam como modelos complementares: Carlão é mais técnico, sabe se posicionar para o bote final, enquanto Ermínio é velocidade, arranque e impetuosidade nas jogadas em diagonal. São atacantes definidores, letais.
Não há termos de comparação entre os dois jogos das semifinais da Série B. O Bragantino foi completamente superior ao Água Santa, enquanto o São Caetano dividiu com o Rio Claro o controle do jogo em tempos distintos. Isso, entretanto, não quer dizer que os jogos de volta terão figurino semelhante, embora necessariamente nada indique o contrário.
O Água Santa vai precisar reinventar-se para superar o Bragantino. O São Caetano terá de superar sobretudo o fantasma de fracassar quando a onça da reta da chegada decide beber água. Erros individuais alimentam a síndrome do São Caetano. Foi assim em outros jogos decisivos. Não há estrutura tática que suporte vazamentos. Ter escapado da derrota em Rio Claro após a instabilidade provocada pelo goleiro Paes já é um avanço. Nos últimos mata-matas decisivos de que o São Caetano participou (Botafogo na Série D do Campeonato Brasileiro de 2015 e Santo André na Série B do Paulista do ano passado) a desvantagem no placar no primeiro jogo fora de casa foi fatal.
Histórico versus momento
Uma projeção de resultados nesta terça-feira que leve em conta o histórico da competição é um ponto de credibilidade, mas não é tudo. A frase feita de que mata-mata representa novo campeonato tem fundamento, embora na maioria dos casos se utilize de incidências não majoritárias para confirmar a teoria de que tudo pode acontecer.
O peso emocional não pode ser descartado. O Bragantino do jogo com o Água Santa foi muito superior quando comparado à média das apresentações na fase de classificação. O Água Santa naufragou. São Caetano e Rio Claro jogaram exatamente o que se esperava. A competitividade do São Caetano está sedimentada na combinação de força e técnica. O Rio Claro não se faz de rogado e joga sempre ofensivamente.
Não tenho a menor ideia do quanto o site Chance de Gol atribui de possibilidades às quatro equipes que jogam nesta terça-feira. Os medidores daqueles especialistas em traduzir estatísticas em potencial de resultados são relativamente sofisticados. Correm na raia da média geral da competição.
Nestas alturas do campeonato prefiro olhar para os dois jogos de sábado passado, sem descartar, claro, a importância das rodadas classificatórias. O momento da competição tem mais peso que o histórico da competição. Acho que o São Caetano tem 70% de possibilidades de chegar à Série A. O Bragantino teria 60% contra o Água Santa.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André