Esportes

São Caetano ganha título
com futebol de campeão

DANIEL LIMA - 08/05/2017

Faltava ao São Caetano apenas uma prova cabal, irrefutável, de que o acesso à Série A do Campeonato Paulista além de merecido também se explicava e se justificava pela qualidade dos jogadores, acompanhada da organização tática de um treinador meticuloso. A imagem de um São Caetano de combatentes, com afinamento tático, prevalecia. A vitória de dois a um sobre o Bragantino na noite de sábado no Estádio Anacleto Campanella -- quando o título da competição foi garantido com 62,12% dos pontos disputados em 22 jogos na temporada – colocou tudo no devido lugar. 

Sem a síndrome do fracasso repetido na reta de chegada, após vencer o Rio Claro na semifinal, o São Caetano pôde jogar futebol de campeão. Jogou tanto que passou por cima dos erros da arbitragem. Primeiro, o bandeirinha anulou um gol legítimo logo no começo do jogo, atribuindo equivocada posição de impedimento. Em seguida, o volante do Bragantino, já advertido com cartão amarelo, interrompeu um contragolpe rápido. Cartão vermelho é a regra nesses casos. 

No segundo tempo, quando restava um quarto do jogo para o apito final, o maior símbolo da determinação do São Caetano em campo, o volante Esley, foi expulso num lance em que se apresentou o segundo cartão amarelo sem justificativa técnica. Houve revolta, mas tudo voltou à paz. Por isso, os últimos 15 minutos foram dramáticos para o São Caetano sustentar a vantagem de dois a um contra um Bragantino bem arrumado, depois de balançar durante toda a fase de classificação e só chegar aos mata-matas na última rodada. 

O que vai mudar? 

Ainda é muito cedo para projetar o São Caetano da Série A do ano que vem. Quais jogadores do atual elenco seriam removidos para abrir espaços a reforços? Estará o técnico Luiz Carlos Martins, campeoníssimo em acessos, preparado para uma competição em que o ponto-chave, em primeiro lugar, é fugir do rebaixamento e, em seguida, voltar à Série D do Campeonato Brasileiro? 

Essas são indagações básicas. As respostas só o tempo será capaz de oferecer. Ainda há, para ajudar a construir certezas e incertezas, uma Copa Paulista pela frente. A competição que o São Caetano quase conquistou no ano passado (foi derrotado pela Ferroviária nas penalidades máximas) é sempre uma oportunidade a novas avaliações. Quem não transmitir confiança ao treinador, certamente estará fora da lista da Série A do ano que vem. 

A vitória contra o Bragantino mostrou um São Caetano mais qualificado tecnicamente do que nos jogos contra o Rio Claro, na semifinal, e também na maioria dos confrontos da Série B do Campeonato Paulista. A ameaça de nadar, nada e morrer na praia fora superada. 

Valorização de talento 

Restou ao time de Luiz Carlos Martins, entre várias verdades, mostrar que o meia-atacante Paulo Vinícius aparece mais e se destaca quando o time faz do gramado companheiro inseparável da bola. Os lançamentos longos em linha reta ou em diagonal em jogadas programadas para levar pânico às defesas adversárias, tendo os atacantes Carlão e Ermínio como alvos, sacrificam demais quem tem qualidade técnica como Paulo Vinícius. 

O São Caetano trocou muito mais passes, teve mais posse de bola, foi mais consciente sobre a importância de dosar correria e técnica durante quase todo o tempo do jogo com o Bragantino. Apenas durante um terço do jogo (os 15 minutos iniciais da primeira e da segunda etapas) foram de domínio do adversário. 

O São Caetano parece fazer de propósito uma brincadeira de gato e rato, deixando os adversários tomarem conta do jogo durante determinado período. Há espécie de congelamento das ações ofensivas e certo relaxamento defensivo. Contra o Bragantino foi assim. Por isso o São Caetano sofreu o gol de empate logo no começo do segundo tempo. 

Mas logo o time de Luiz Carlos Martins acordou, como o fez no primeiro tempo. E, como no primeiro tempo, marcou gol após uma jogada de laboratório, de bola parada. A TV mostrou durante todo o tempo o quanto os jogadores do Bragantino demonstravam inquietação, quase terror, a cada cobrança de falta ou de escanteio do São Caetano. 

A fama de time matador nas bolas paradas, ou na sequência imediata das bolas paradas, desnorteou o Bragantino. O Rio Claro sofreu cinco gols do São Caetano em dois jogos – e quatro dos quais tiveram a bola parada como origem. E os cinco foram de cabeça. 

Os quase três anos de comando técnico de Luiz Carlos Martins provam que vale a pena manter um profissional ético e com foco estratégico quando se pretende desativar estragos do passado. Nas três versões da Série B do Campeonato Paulista em que dirigiu o São Caetano, Luiz Carlos Martins obteve percentual de aproveitamento (divisão de pontos ganhos pelos pontos disputados) de profissionais bem requisitados no mercado da bola. 

Em 2015 foram 61,4% dos pontos disputados (o mesmo rendimento do Água Santa de Diadema, que subiu como quarto colocado por conta de critérios de desempate). Em 2016, chegou em primeiro lugar na fase classificatória com 68,4% dos pontos disputados e foi eliminado na primeira fase de mata-mata pelo Santo André. Foram uma derrota e um empate e o saldo final de 63,49% de aproveitamento. Neste ano, em 22 jogos, foram 62,12% de rendimento geral. 

Tudo isso é flagrantemente o oposto de antes da chegada de Luiz Carlos Martins, em outubro de 2014. Ao disputar pela primeira vez a Série B após o rebaixamento da Série A no ano anterior, o São Caetano escapou na última rodada por um triz de rebaixamento à Série C: somou apenas 19 pontos em 19 jogos, com aproveitamento de 33,3% -- um pouco acima do Grêmio Barueri, com 29,8%, que abriu o grupo da degola. 

Tempos de reorganização 

A reestruturação silenciosa do São Caetano está em pleno avanço. Depois de rigorosa dieta orçamentária, ditada pela sequência de rebaixamentos que excluíram a equipe da grade nacional de futebol, talvez o caminho de volta, com novos paradigmas, tenha se iniciado com a ultrapassagem da barreira do Rio Claro. A disputa da Copa do Brasil no ano que vem, como ao título da Série B do Paulista, pode ser instrumento de efeito rápido de reintrodução no cenário nacional. Mas o melhor mesmo é trabalhar num sentido mais consistente. 

Ainda não se tem ideia precisa do São Caetano do futuro próximo. Certamente será bem distante do São Caetano do passado recente. Mas é melhor não acreditar que o futuro próximo ou de médio prazo tenha semelhança com o passado remoto, de títulos e disputas memoráveis. O futebol estelar virou quase que exclusiva dos grandes clubes nacionais, embalados por investimentos milionários dos patrocinadores das transmissões esportivas. Sem contar que o entorno do futebol, dos empresários da bola, também se aperfeiçoou na modalidade de concentrar esforços nas grandes marcas esportivas – que dão muito mais retorno financeiro. 

O mundo da bola mudou muito desde o começo deste século, quando o São Caetano virou de cabeça para baixo o conceito de time grande. Pequenas e médias agremiações aparecem e desaparecem como relâmpagos no calendário nacional. 



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