Os dois representantes da região no principal campeonato estadual do País voltam a campo nesta quarta-feira para tentar detectar com maior margem de acerto a dimensão das labaredas de maus resultados das duas primeiras rodadas. Quanto antes apagarem o fogo da inquietude de ocupar os últimos lugares na classificação geral, melhor. São Caetano (zero) e Santo André (um) ganharam quase nada dos 12 pontos já disputados. Precisam de bons resultados nas próximas três rodadas. O ideal seria ganhar 11 dos 18. Será que conseguirão?
Na quinta rodada do total de 12 será possível entender o que a classificação final reserva às duas equipes. Tudo que não podem é ocupar os dois últimos lugares ao final da competição, porque é o destino dos rebaixados. Quanto mais são atropelados, mais serão exigidos nas rodadas subsequentes.
O passado é curto demais para estabelecer paradigma de rebaixamento na Série A do Campeonato Paulista, instrumento com o qual seria possível percorrer um terreno teórico mais seguro. O formato desta temporada com apenas 16 equipes e dois rebaixamentos foi introduzido no ano passado. O número de concorrentes altera a relatividade de riscos. Com 20 equipes, até 2016, havia maior elasticidade de tempo à recuperação. A margem se estreitou desde a temporada passada para se adequar ao calendário nacional.
Mudança em 2017
Talvez a melhor notícia na eventualidade de o São Caetano (e também o Santo André) não se acertar nas próximas três rodadas e, com isso, ficar entre os dois últimos classificados, é que no ano passado o Linense e o São Bento ocuparam essas colocações e não caíram. Mas há também pormenor a ser considerado: o Audax de Osasco fez os mesmos quatro pontos do Linense em cinco jogos e só não constava da zona de rebaixamento provisório por critérios de desempate. Ao final da fase classificatória o Audax caiu juntamente com o São Bernardo que, terminada a quinta rodada, era o nono colocado com seis pontos ganhos – dois apenas acima da linha da morte.
Outro sinal de alerta que deve chamar a atenção é que entre os seis últimos colocados do ano passado, dois foram rebaixados. Ou seja: o grau de complicações parece ter correlação direta com as primeiras cinco rodadas. Primeiras cinco rodadas é força de expressão, porque significam 41,66% dos pontos em disputa na competição. Cinco rodadas em 12 previstas significam 18 rodadas, ou quase um turno inteiro, na Série A do Campeonato Brasileiro. Está aí a relatividade que deveria ser objeto de atenção desde a largada na competição estadual.
Questão referencial
A insistência de chamar a atenção para a quinta rodada não é, portanto, um fetiche analítico. É uma linha divisória que deve servir de interesse especial para que as equipes da região transmitam o que as duas primeiras partidas não foram capazes: confiança de que o jogo seguinte tenderia a contar com padrão mais bem acabado de rendimento em relação ao jogo anterior. Nos dois primeiros jogos do campeonato, São Caetano e Santo André mais que patinaram: causaram desconforto porque não só não avançaram como regrediram.
O São Caetano joga nesta tarde com o Linense no Interior. Também no Interior, amanhã, o Santo André enfrenta o Ituano. A goleada diante do Corinthians por quatro a zero foi o retrato de um São Caetano repleto de deficiências coletivas e, pior ainda, de descuidos individuais. Uma avaliação que leve em conta os 10 essenciais princípios táticos de uma equipe (é sobre essa planilha que observo a atuação das equipes) coloca o rendimento do time de Luiz Carlos Martins em sinal de alerta. As individualidades tendem a fracassar quando o conjunto está emperrado.
O São Caetano possivelmente deslumbrado com a visibilidade da Série A abandonou o espírito de competição que o levou ao título da Série B no ano passado. Resultado: ainda não assimilou as características da Série A nesta temporada. Há um vácuo que precisa ser reparado rapidamente. Perder para o Ituano e para o Corinthians fora de casa é normal, mas o desempenho não poderia ser tão pobre. Como pior não ficará, está na hora de melhorar.
Próximos jogos
O jogo do São Caetano hoje em Lins e o jogo de sábado com o Novorizontino (depois será a vez do Mirassol, no Estádio Anacleto Campanella) vão dar maior segurança sobre o que será o restante da competição. Um olhar otimista não remeteria o São Caetano à profundeza do desencanto que os dois primeiros jogos sugerem. Mas não há como deixar de lado a insuficiência tática.
Os melhores momentos do São Caetano contra o Corinthians foram os sete minutos antes que os holofotes se apagassem. No começo do segundo tempo, com um a zero para o adversário, o time deu sinais de vitalidade, mesmo com futebol anacrônico, de excesso de lançamentos e raras aproximações. Bastou sofrer o segundo gol num descuido coletivo, de bola reposta rapidamente pelo goleiro Cassio enquanto o São Caetano reclamava de um gol corretamente anulado, para tudo se perder de vez.
Rascunho de 2010
A proposta conceitual do técnico Sérgio Soares de reproduzir o Santo André vice-campeão paulista de 2010, numa final histórica contra o Santos, parece não passar de rascunho. O time é leve como aquele, mas não tem a fluência tática e técnica que, mesmo com vulnerabilidade defensiva, era amplamente compensada pela maquinaria ofensiva. Tanto que nos dois jogos das finais marcou cinco gols nos 3 a 2 a favor e contra o Santos. Em 23 jogos na competição o Santo André marcou mais gols que todos os concorrentes, menos o Santos: foram 53 a favor e 35 contra.
É claro que Sérgio Soares sabe que aquela campanha foi um ponto fora da curva de previsibilidades da Série A dos grandes clubes sempre no papel de protagonismo. E é claro também que a filosofia de jogo não o obriga a repetir aquele sucesso, entre outras razões porque as circunstâncias são outras.
O que o Santo André mais quer é o que o São Caetano mais deseja: seguir na Série A do Paulista. Mas também precisa dar grande salto de qualidade. Em termos comparativos, o Santo André parece menos frágil no sistema ofensivo que o São Caetano, mas o sistema defensivo não inspira confiança alguma pelo excesso de liberdade aos adversários tanto nos contragolpes quanto nas jogadas de aproximação.
Cadê a posse de bola?
O São Caetano também vai mal quando tem de roubar a bola antes que o ataque adversário se transforme em ameaça. Uma surpresa enorme. O técnico Luiz Carlos Martins é especialista em fechar espaços. Sem retenção da bola, o São Caetano sofre profundo desgaste físico e se desarruma facilmente. Na Segunda Divisão a bola em poder do adversário menos qualificado não era um tormento. Na Primeira Divisão jogar com reduzidíssima posse de bola é suicídio. Uma saída de jogo pouco cuidadosa e um enfeite fora de hora, quando o recomendável é afastar a bola de qualquer maneira, são situações que as duas equipes da região viveram nesse início de competição com custo muito elevado. As duas falhas individuais deveriam ser marteladas para que se evitem repetições potencialmente complicadoras.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André