Esportes

Santo André aumenta risco
da região na Série A Paulista

DANIEL LIMA - 30/01/2018

Não sofro de ejaculação esportiva precoce. Por isso prefiro esperar a rodada do final de semana para dizer com todas as letras o que se passa na minha cabeça. Tenho cá comigo que vamos ter o São Caetano e o Santo André lutando para fugir do rebaixamento até as últimas rodadas. Mas essa é uma sentença preliminar. Não vale, portanto, como comprometimento de palavra. 

O empate de um a um do Santo André ontem no Estádio Bruno Daniel com o Mirassol, associado à derrota no sábado do São Caetano em Novorizontino, coloca as duas equipes da região entre as cinco últimas na classificação geral de 16 participantes. 

Ganharam apenas três pontos em 12 disputados. 

Nenhuma das duas equipes está no banco dos réus do rebaixamento (Ferroviária e Mirassol ocupam esses postos), mas a distância é quase nada. No próximo fim de semana completam-se as cinco rodadas iniciais que antecipei como limite a uma avaliação mais próxima do consolidado precário. Dificilmente haverá mudança de rota por conta do que se passou até agora. Exceto se São Caetano e Santo André melhorarem muito. Mas muito mesmo. 

O São Caetano passou pelo período mais insidioso do campeonato. Jogou todas as partidas fora de casa. Ir ao Pacaembu para enfrentar o Corinthians ou ter mantido o jogo no Estádio Anacleto Campanella não mudaria nada o roteiro. Jogar com time grande significa contabilidade de zero ponto. O que vier é lucro. Duro mesmo é perder para os times que disputam a competição em condições semelhantes de estrutura organizacional. 

Perder para o Novo Horizontino (como o São Caetano perdeu no final) e sofrer o gol de empate contra o Mirassol (como o Santo André sofreu) são prejuízos brutais. São jogos de seis pontos. Como o serão o encontro do São Caetano em casa, finalmente, com o Mirassol e do Santo André sexta-feira em Sorocaba com o São Bento.

Melhora com leveza 

O Santo André só empatou ontem com o Mirassol num Bruno Daniel com mais de quatro mil espectadores porque fez muito pouco para vencer. Sorte que o adversário, que dominou completamente o primeiro tempo com marcação adiantada, e voltou a pressionar após os 20 minutos do segundo tempo, quando estava em desvantagem no placar, não tenha tanta sede de gol. Joga bonito e até mesmo de forma competitiva, mas parece fazer pouco caso da letalidade. 

O Santo André não teve profundidade, intensidade e tudo o mais no primeiro tempo. Mas as mudanças do técnico Sérgio Soares deram resultados. Os mais leves Guilherme Garré e Aloisio ocuparam mais espaços de organização e ataque do que os titulares até então. O time de Soares ganhou mais dinamicidade. Além disso, o Santo André mudou de postura. Procurou o ataque com saídas mais rápidas pelas laterais. Principalmente à esquerda. A direita parece desértica. Faltam ao lateral Foguete companheiros para combinações mais sistemáticas. 

O gol do Santo André saiu pela esquerda, mal Aloisio entrara em campo. Uma combinação perfeita de aproximação, cruzamento na área, intervenção do pivô Lincom e complementação de Aloisio.

Observando adversários

Minha preocupação com a sorte do Santo André e do São Caetano é que um dos times que constam das últimas colocações (na verdade está na zona de rebaixamento) parece mais qualificado como conjunto. O Mirassol reagiu após o gol e passou a contar com o determinismo ofensivo que faltou no primeiro tempo. O gol de empate aos 42 do segundo tempo, após cobrança de escanteio, mostra que segue a cartilha dos times do mundo inteiro: conta com jogadores de elevada estatura para definir o que não é possível numa construção coletiva convencional. 

Bola parada é sempre um perigo. Por isso que, entre as anotações que faço, escanteios e faltas no entorno da grande área têm peso avaliativo. Nem Santo André nem Mirassol exageraram nos dois vetores ontem. Já o São Caetano contra o Novorizontino foi um festival de oportunidades ao adversário. 

Equipes distintas 

Ainda preliminarmente (acentuo essa precariedade como instinto de defesa) vejo o Santo André e o São Caetano como modelos antípodas de jogar futebol. Não existe fórmula única de sucesso, mas tanto uma quanto outra equipe apresentaram até agora algo distante da efetividade funcional. 

O São Caetano é um time que emprega mais força que técnica, embora tenha jogadores para melhor equilíbrio. Falta-lhe organização coletiva. Sobretudo ao sistema ofensivo. 

O Santo André é um time mais leve, mas sem estabilidade tática não irá longe. Só levará vantagem se unir à leveza competência de efetividade ofensiva. E terá de se definir por uma organização mais agudamente rápida, como no segundo tempo de ontem, ou mais cadenciada, como a de outros jogos em que contou com jogadores de habilidade, mas de mobilidade baixa. 

Quem conhece Sérgio Soares sabe que sem velocidade no contragolpe, sem posse de bola nas triangulações e sem agressividade como complemento desse estilo, tudo não passará de lantejoulas. 

Quem conhece Luiz Carlos Martins sabe que à força deve-se somar a contundência e o pragmatismo, mas também a um coletivismo mais criativo. Talvez alguém precise dizer ao treinador que na Série A os times candidatos ao rebaixamento também têm qualificações técnicas. E que essa condição exige que o São Caetano também tenha arte. Não fosse isso, os reforços seriam desnecessários. 



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