Santo André e São Caetano jogam nesta quarta-feira de cinzas de olhos abertos em busca de novos rumos na Série A do Campeonato Paulista. Depois de ganhar de virada do Corinthians por dois a um sexta-feira passada no Estádio Bruno Daniel, o Santo André mostrou evolução que pode significar embalo para a fase de mata-mata. Já o São Caetano que, no dia anterior, empatou de um a um em casa com o Red Bull, revelou evolução suficiente para acreditar que o rebaixamento é evitável.
A abertura da segunda metade da fase classificatória pode demarcar com mais clareza o futuro da dupla da região. A situação é mais confortável para o Santo André, mas convém cautela nos diagnósticos de competição tão equilibrada entre os 11 times médios do futebol paulista – ou seja, todos, menos os quatro grandes e a Ponte Preta.
Enfrentar o Santos esta noite na Vila Belmiro poderá representar ao São Caetano o que foi o Corinthians na vida do Santo André. Uma vitória mudaria completamente a perspectiva.
A equipe do técnico Pintado mostrou contra o Criciúma (no meio da semana pela Copa do Brasil, num empate de um a um) e diante do RB Brasil a possibilidade de traçar projeção menos catastrófica do que a que se insinuava com Luiz Carlos Martins. Mas o São Caetano está em situação delicadíssima: tem apenas quatro pontos em 18 disputados (22% de aproveitamento) e divide a zona de rebaixamento com o Linense, igualmente com quatro pontos.
Circunstâncias definem
Já o Santo André (com sete pontos em 18 disputados, e aproveitamento de 38,9%) joga no mesmo horário com a Ferroviária em Araraquara para uma espécie de autoafirmação de quem espera fugir inteiramente da zona de rebaixamento e ganhar status de candidato ao mata-mata inicial. A vitória contra o Corinthians mostrou um Santo André forte na marcação, relativamente compacto e insinuante no ataque. Principalmente no segundo tempo, quando o técnico Sérgio Soares deslocou o segundo volante Dudu Vieira à lateral-direita em substituição a Jonathan Bocão e escalou o atacante Hugo Cabral à esquerda do ataque.
O que poderia ser o desmonte do meio de campo sem a combatividade de Dudu Vieira tornou-se uma avenida de ataque com Hugo Cabral inspiradíssimo em cima de um Fagner sem o auxílio de um dos volantes ou de Romero. A alternativa que não deu certo em outros jogos do Santo André, inclusive com Hugo Cabral iniciando como titular, comprova que sucessos e fracassos no futebol são frutos de circunstâncias. Um equívoco hoje pode virar genialidade amanhã. Hugo Cabral fez um jogo perfeito como atacante de força e habilidade para entrar em diagonal.
Já a maior virtude do São Caetano no empate com o RB Brasil no Estádio Anacleto Campanella foi algo como a identificação de um plano de jogo que tem tudo para sustentar novo patamar de desempenho. Resta saber se, ao faltarem apenas seis rodadas para o encerramento da fase classificatória, será possível escapar do rebaixamento.
Segunda Divisão
Luiz Carlos Martins deixou para Pintado um time de perfil de Segunda Divisão, com chutões, jogadas de força, lançamentos cumpridos ou em diagonal, e nada de aproximação, de compactação e de tudo o mais que apareceram mesmo que de forma oscilante e ainda abaixo do necessário diante do time de Campinas – e anteriormente contra o Criciúma.
Sérgio Soares mostrou contra o Corinthians que o Santo André ganha corpo na competição, mas não custa lembrar que compromissos com times grandes sempre resultam em maior aplicação individual e tática. Por isso o jogo de hoje contra a Ferroviária é muito mais que a disputa dos três pontos. Terá o Santo André o mesmo desempenho de fechamento de espaços defensivos e criação de alternativas ofensivas? Se o fizer, não haverá dúvida de que o padrão Sérgio Soares estará mais próximo da realidade.
O São Caetano que enfrenta o Santos na Vila Belmiro possivelmente terá duro teste ao sistema defensivo que melhorou acentuadamente contra o Red Bull. Tanto que, mesmo com menor índice de posse de bola, o time de Pintado resistiu bem ao maior assédio adversário. Com os volantes Vinícius Kiss e Ferreira à frente dos zagueiros e o recuo dos demais jogadores, o São Caetano mobilizou-se para melhorar o rendimento e reduzir estragos expressos na classificação detalhada: é a equipe que mais sofreu gols na competição. Falta encaixar contragolpes. Nada mais natural, considerando-se que, contra o RB Brasil, o São Caetano contou com apenas quatro titulares escalados nas rodadas anteriores.
Individualidades discrepantes
Contra o RB Brasil o São Caetano jogou mais tempo à procura de um contra-ataque mortal, mas o meia Chiquinho, deslocado à esquerda do ataque e atuando também para impedir o avanço do lateral adversário, errou demais nos passes. Chiquinho foi o principal destaque individual do São Caetano nos jogos anteriores, mas seu futebol foi de baixa produtividade porque o conjunto não funcionou.
Se no Santo André o sucesso de Hugo Cabral foi tão evidente que não faltaram repórteres e câmaras de TV a procurá-lo, no São Caetano um jovem criado na própria base teve atuação mais discreta, mas interessante: Marlon fez o gol da equipe ao final do primeiro tempo após triangulação central – situação rara nos tempos de Luiz Carlos Martins – e deu ao ataque movimentação e agilidade que o São Caetano tanto prescinde. Com Marlon o São Caetano teve mais rapidez nas imediações da área. Ágil, Marlon dá opções e executa passes e infiltrações.
A diferença coletiva entre o Santo André e o São Caetano é imensa. Já o era perceptível antes dos dois jogos que disputaram na sexta rodada. A saída para a região continuar com as duas equipes na Série A é a evolução mais acelerada do São Caetano de Pintado.
O RB Brasil teve mais posse de bola no Estádio Anacleto Campanella porque é um conjunto mais sólido. Marcou o tempo todo a saída de bola do São Caetano e fechou espaços defensivos com muita eficiência. Por isso congelou o adversário nas tentativas de dar intensidade ao jogo. Ter posse de bola combinada com cerceamento à liberdade adversária são metades da mesma laranja de competência.
Ao time de Campinas faltam mais infiltrações. O gol um minuto após o São Caetano comemorar a abertura do placar foi uma combinação de sorte de ganhar duas bolas divididas na entrada da área e, em seguida, eficiência na finalização implacável
Mudança perceptível
Definir o São Caetano individualmente, como o fazem comentaristas apressados, é um equívoco. O coletivo é a raiz da individualidade. Parece que a lição do Corinthians campeão brasileiro ainda não adiantou. Poucos enxergaram um São Caetano insolvente taticamente contra o Mirassol e um São Caetano razoavelmente organizado uma semana depois, após passar por empate no meio da semana com o Criciúma.
O Santo André de Sérgio Soares não pode mais ser considerado carta fora do baralho de classificação à próxima etapa. Se o jogo com o Corinthians não se converter em exceção numa rotina de oscilações, não está fora de lugar um espaço no mata-mata. O time de Sérgio Soares neutralizou o Corinthians num segundo tempo em que mereceu vencer de virada.
E mesmo no primeiro tempo, com o Corinthians melhor e desperdiçando quatro oportunidades, o Santo André não decepcionou. Há sensíveis melhoras em relação às primeiras rodadas. Não sobram tantos espaços defensivos e ofensivos na construção e na destruição de jogadas. Sinal de que já se assimila uma das lições básicas de um bom time de futebol: é preciso encurtar os espaços entre os setores. É o que Pintado busca no São Caetano.
O site Chance de Gol parece apressado na definição precária de possibilidades diversas na competição. Na luta contra o rebaixamento, instalou os dois últimos colocados acentuadamente abaixo dos demais. O Linense teria 69,4% de possibilidades de cair, enquanto o São Caetano teria 68%. Parece haver exagero. Várias equipes estão apenas um pouco acima, caso da Ferroviária com seis pontos e do Mirassol com cinco.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André