Parece não existir outra saída ao São Caetano após a esperada derrota de ontem à noite na Vila Belmiro por dois a zero diante do Santos: nas cinco rodadas que restam para terminar a fase classificatória da Série A do Campeonato Paulista há três batalhas da ponte no Estádio Anacleto Campanella. Ganhar da Ferroviária neste sábado, do São Bento na semana que vem e do Botafogo na penúltima rodada é questão vital. Perder para o Palmeiras e Bragantino, fora de casa, não faria diferença para fugir do rebaixamento. Com 13 pontos a matemática garantiria permanência na Série A.
O jogo com o Santos demonstrou mais uma vez que a troca de treinador fez bem ao São Caetano, mas a perspectiva não é confortável. Os avanços podem não ser suficientes para os confrontos diante de equipes mais bem preparadas. O time do técnico Pintado não conseguirá estabilidade de rendimento porque não existe milagre no futebol. Conceitos indissociáveis numa competição tão difícil não são assimilados da noite para o dia.
Compactação, transposições laterais e centrais, concentração tática permanente, equilíbrio entre sistema ofensivo e sistema defensivo, entre outros vetores, são cada vez mais mecanizados no futebol. Quanto mais, melhor. Jogar de memória aprimora o talento e a inventividade. Por isso, é falso paradoxo dizer que o coletivismo inibe o individualismo. O contrário é que é verdadeiro – a ausência de coletivismo inibe o individual.
Ações emergenciais
É muito baixa a produtividade do São Caetano em quesitos básicos do futebol que se exige na Série A do Campeonato Paulista. Pintado esmera-se em reduzir os danos colaterais de uma equipe com sequelas de Segunda Divisão. Mas, mesmo com melhora perceptível, o São Caetano que enfrentou o Santos não soube equilibrar-se taticamente. Fez um primeiro tempo praticamente igual ao do adversário, mas poderia ter sido mais inteligente. Jogou ofensivamente tão decidido que surpreendeu.
O time de Pintado poderia ter disputado um jogo mais cuidadoso no sentido de não fazer a bola correr tanto. A posse teria sido mais conveniente para não passar por tantos riscos que tornaram o goleiro Helton Leite destaque. O São Caetano entregou o que o Santos mais espera: campo livre para ataques verticais, de restrita posse de bola.
Não se enfrenta um Santos sem maiores cuidados defensivos. A qualidade individual faz a diferença nos confrontos entre grandes e médios. E o fez em forma de maior contundência e precisão quando as duas equipes procuraram o gol intensamente. O primeiro gol santista quando o primeiro tempo estava prestes a terminar e o segundo quando começou o segundo tempo demonstraram na prática a letalidade das jogadas ensaiadas. O Santos insistiu tanto nas bolas cruzadas na segunda trave e na abertura de espaços entre os zagueiros e os volantes para o rápido atacante Gabigol que não haveria como deixar de marcar.
Situação crítica
O momento do São Caetano é tão crítico – tanto na classificação geral de último colocado, como emocionalmente – que o melhor mesmo seria organizar-se defensivamente como nos jogos anteriores em que empatou em casa sob o comando de Pintado e, complementarmente, insistir em alternativas ofensivas sem ferir de morte o sistema de marcação. Isso não significa dizer que o São Caetano deva ser um time retranqueiro e adotar o contragolpe como arma única.
Algumas correções poderiam ser adotadas pelo técnico Pintado com vistas aos três jogos em casa contra equipes do mesmo tamanho econômico-financeiro. Chiquinho não pode jogar tão longe da área adversária e muito menos tão preso à esquerda do ataque. O ex-ala com talento de meia-atacante precisa se aproximar mais do centroavante Marlon, muito isolado entre os zagueiros. Ferreira entrou no segundo tempo na Vila Belmiro no lugar de Esley e pode ser mais útil nos jogos decisivos porque tem maior poder de arranque e penetração com a bola dominada. Esley já sente o peso dos anos numa competição de nível técnico muito superior ao da Série B, na qual reinou absoluto como volante de alta capacidade de destruição.
Com dois volantes de contenção e força para puxar os contragolpes (o outro é Vinícius Kiss) o São Caetano pode liberar ainda mais os laterais sem, entretanto, isolá-los em jogadas de cruzamento e penetração. É preciso construir transposições laterais com dois ou três jogadores. Pintado recebeu um time sem essas características.
Lucros improváveis?
Da mesma forma que os três jogos que restam em casa levam à compulsória obrigatoriedade de vitória para escapar do rebaixamento, o São Caetano deve manter na potencial contabilidade algum lucro nos jogos fora contra Palmeiras e Bragantino. O sonho de consumo de todos os times médios do futebol paulista é ganhar dos grandes. Os três pontos em jogo fazem diferença enorme no cômputo final.
O São Caetano perdeu os dois jogos contra Corinthians e Santos. Tem o Palmeiras na Capital como desafio. Esse jogo será menos importante na exata proporção em que o time de Pintado preparar-se para a guerra dos nove pontos no Anacleto Campanella. Para tanto, precisa dosar energias e pulmões. Mais troca de passes, mais racionalidade e menos impetuosidade demonstrada contra o Santos são boas receitas. O rendimento desigual entre o primeiro e o segundo tempo diante dos santistas expôs um time excessivamente ansioso. Ganhar da Ferroviária pode ser a chave da recuperação (nestas alturas do campeonato) histórica.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André