Esportes

Série A vira balaio-de-gato
contra queda e classificação

DANIEL LIMA - 26/02/2018

A Série A do Campeonato Paulista virou um balaio-de-gatos na disputa por uma vaga à fase de mata-matas e na luta para fugir das duas últimas colocações que rebaixam à Série B. Quem garante essa premissa é a classificação geral, vetor que realmente interessa. Com dois jogos que completam hoje a nona rodada, (Ituano versus Red Bull e Botafogo versus Linense) e se analisada friamente, levando-se em conta apenas e exclusivamente a classificação atual, apenas Palmeiras, Santos, Corinthians e São Bento estariam fora da degola. E, paradoxalmente, muitas equipes concorreriam às duas vagas de cada um dos quatro grupos para disputar a próxima etapa. Durma-se com um barulho desses? 

É melhor não levar a ferro e fogo essa conjectura matemática. O peso histórico das equipes e os investimentos determinam que a lista de rebaixáveis segue restrita – e também dos candidatos às oito vagas de mata-matas.  

A rodada do final de semana foi lucrativa para a região, mas isso não significa que se alterou o roteiro de preocupação. O São Caetano que venceu heroicamente o São Bento no Estádio Anacleto Campanella por um a zero e o Santo André que perdeu naturalmente para o Santos por dois a zero na Vila Belmiro seguem seriamente ameaçados de rebaixamento. O consolo é que a situação poderia ser pior. Como se espera, as três rodadas que restam serão decisivas. 

O Santo André entrou na zona de rebaixamento, juntando-se ao Linense. O São Caetano subiu para a 11ª colocação geral, mas isso não quer dizer muita coisa porque o campeonato está embolado. Ganhou um respiro importante. O empate com o São Bento já seria um grande resultado, porque a equipe de Pintado jogou mais de 90 minutos com apenas 10 jogadores diante de um adversário que integra a Série B do Campeonato Brasileiro e soma vitórias contra Corinthians São Paulo na Série A. A vitória foi redentora. 

Muito apertado 

Para se ter ideia mais precisa do balaio-de-gatos classificatório basta lembrar que do sexto ao 15º colocado (exclui-se da lista apenas o lanterninha Linense) a diferença é de três pontos. Três pontos em nove que ainda serão disputados por todas as equipes são uma margem muito escassa para assegurar que aparentemente não há risco de queda das equipes envolvidas. 

São Paulo, Novorizontino, Botafogo, Red Bull e Ituano têm 11 pontos ganhos, enquanto São Caetano, Ferroviária, Ponte Preta e Mirassol somam 10 pontos. O Santo André está com oito pontos. 

Entretanto, seria um exagero interpretativo dizer que todos esses times estão no mesmo barco de inquietações e probabilidades de rebaixamento. O complemento da nona rodada nesta segunda-feira deverá reduzir um pouco o batalhão de ameaçados -- mas mesmo assim a situação é complexa. 

O regulamento do campeonato determina que os dois melhores de cada grupo passam para a próxima fase e os dois últimos na classificação geral serão rebaixados. 

Fugir é a prioridade 

Há um remelexo numérico que embola o meio de campo do campeonato a ponto de várias equipes (o São Caetano entre as quais) caírem na tentação de entender que pode passar para a outra fase sem priorizar cuidados táticos de quem ainda consta da lista de rebaixáveis). O São Caetano só teria o direito estratégico de pensar nas quartas de final se ganhar os três pontos diante do Palmeiras. Fora isso, é melhor olhar para o andar de baixo da classificação. 

Precisou embolar o jogo para o site Chance de Gol reformular senão os critérios, mas a sensibilidade de dimensionar até que ponto os times ameaçados de rebaixamento carregam determinada carga de risco. 

Uma semana atrás o São Caetano era o maior favorito à queda, com 80,5%. A vitória contra o São Bento e outros resultados reduziram o risco para 29,7%. Agora é o Linense que está na ponta do desespero com 80,5% de possibilidades de disputar a Série B. Parece exagero interpretar que o São Caetano de uma semana atrás seria o Linense de agora. Houve rigor em excesso com a equipe da região. 

Também estão cotados largamente à queda -- segundo o diagnóstico do Chance de Gol -- o Santo André com 43,2% e o Mirassol com 28,6%. As demais equipes têm passivos residuais. O São Paulo não passa de 1,1% de risco, a Ponte Preta de 4,7%, o Novorizontino de 5,0% e a Ferroviária de 6,3%. 

Benevolência demais? 

No caso de Novorizontino e Ferroviária o site parece ser benevolente. O balaio-de-gato para fugir da queda não é tão restrito a alguma espécimes. Mesmo considerando que se trata de avaliação matemática precária, de rodada a rodada, descartar o conjunto da obra não se revelaria ação cuidadosa. Parece haver descasamento entre matemática e outros quesitos definidores de percentuais avaliativos. Talvez o site Chance de Gol seja em campo um time que faz tudo certinho, mas de vez em quando, na hora de finalizar, chuta às alturas. Noutras, faz golaços. 

A situação do São Caetano não deixa de ser inusitada para quem há uma semana estava com o pé na cova. O Chance de Gol agora atribui 20,4% de possibilidades de a equipe do técnico Pintado classificar-se às quartas de final. Menos que as condições traçadas ao Santo André de chegar à próxima etapa. O time de Sérgio Soares reuniria 22,65% de condições para chegar à primeira fase do mata-mata. 

As projeções do Chance de Gol são mesmo complexas. Um exemplo: com apenas 5% de possibilidades de ser rebaixado, o Novorizontino tem quase tantas condições de chegar à próxima etapa do que o São Caetano: são 25,7% contra 20,4% da equipe da região. É claro que se levam em conta muitos fatores, principalmente os próximos e últimos adversários. Mas uma observação atenta não resiste à dúvida: por que tanta diferença entre as duas equipes, e também entre tantas outras? 

Enquanto o São Caetano enfrenta o Palmeiras na Capital na próxima rodada, o Novorizontino joga em casa com o Ituano. Na rodada seguinte o São Caetano recebe o Botafogo e o Novorizontino joga em casa com o Santos. E na rodada final o Novorizontino enfrenta o Santo André no Estádio Bruno Daniel enquanto o São Caetano vai a Bragança Paulista. 

Distâncias demais

O São Caetano, segundo o Chance de Gol, tem seis vezes mais possibilidades de cair do que o Novorizontino. Seria tanto assim mesmo? E as cinco vezes mais possibilidade de queda do Santo André em relação ao mesmo Novorizontino, quando se sabe que o time de Sérgio Soares disputará duas das três partidas finais em casa contra equipes de peso semelhante (Botafogo e o próprio Novorizontino), enquanto sairá contra um Linense que poderia já estar rebaixado? Está certo que três pontos separam Novorizontino de Santo André na classificação geral, mas seria essa distância suficiente para tanto contraste? 

Vamos procurar explicar na edição de amanhã as razões que levaram o São Caetano à vitória contra o São Bento e a lógica da derrota do Santo André na Vila Belmiro. Ao São Caetano sobrou heroísmo para contrabalançar um erro crasso do árbitro. Ao Santo André faltou o que tem faltado no campeonato: uma força física que se associe ao arranjo técnico-tático característico de Sérgio Soares. É claro que, mesmo que reunisse essa característica, jogar na Vila Belmiro é sempre um atraso de vida classificatório. 



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