Esportes

Agora vamos saber quem
tem garrafa para vender

DANIEL LIMA - 02/03/2018

Agora que restam apenas três rodadas para o encerramento da fase classificatória (e “rebaixatória”) da Série A do Campeonato Paulista, vamos saber quem tem garrafa para vender. Os dois representantes da região estão no balaio de gatos ameaçados de queda para a Série B, com alguma esperança, vejam só, de até participarem da fase de quartas de final. 

O que as equipes fizeram nos últimos dias, principalmente em termos motivacionais, pode determinar o futuro. Só não devem esquecer que a recíproca é verdadeira: as demais equipes que formam o pelotão de ameados também mexerem pauzinhos para buscar forças e qualificação, além do que já expuseram em nove rodadas do campeonato.

Não se alcança nada no futebol apenas como voluntarismo, isto está mais que conjurado na história do esporte, mas há situações em que uma mexida aqui, outra ali, e não necessariamente apenas dentro de campo, ajudam a mudar. 

O São Caetano e o Santo André tiveram uma semana de preparação, como as demais equipes que não estão envolvidas em competições nacionais e internacionais. Possivelmente providenciaram reparos. O Santo André ganhou oito pontos em 27 disputados. O São Caetano 10. 

Semana embalada 

O São Caetano passou uma semana embalado por uma vitória heroica, poucas vezes possível no futebol. Tanto que o Junior Barranquilla viveu situação semelhante ontem à noite diante do Palmeiras pela Taça Libertadores da América e foi derrotado dentro de casa por três a zero. Com o São Caetano diante do São Bento de Sorocaba a diferença foi, além do placar, a característica da expulsão do zagueiro Domingues. O cartão amarelo seria suficiente para uma entrada relativamente forte. Nada que se compare com o golpe de luta-livre do jogador colombiano. 

Pressionado durante todo o tempo, o São Caetano ganhou de um a zero aos 45 minutos do segundo tempo após acertar em cheio um contragolpe que engendrou durante todo o jogo. Que melhor resultado, sobretudo pelas circunstâncias, para animar os preparativos visando ao jogo de segunda-feira à noite contra o Palmeiras na Capital?

Mais eletricidade 

A situação do Santo André foi diversa, após perder de dois a zero na Vila Belmiro para o Santos. O time de Sérgio Soares errou coletiva e individualmente. Deixou o Santos efetuar cruzamentos pelas extremidades a todo instante. O sistema defensivo fez o possível para evitar complicações, mas o goleiro Neneca, um dos destaques do jogo, rebateu para o interior da área um chute cruzado que Gabigol completou desajeitado para o fundo das redes e abriu o placar. Domingos entregou a rapadura numa bola suicida que cruzaria a grande área caso não houvesse um adversário no meio do caminho. 

O que assusta no Santo André de Sérgio Soares é a falta de imposição física, de transpiração, de determinação, em desacordo com o arranjo tático. O Santo André acena que pode resolver o placar quando quiser, mas não dá sequência às jogadas com contundência. Como não resolve na frente, expõe limitações defensivas. O Ramalhão é um time permissivo demais no combate ao adversário a partir do meio de campo. 

Apoio da torcida 

Talvez a melhor notícia para levar o Santo André a um patamar de competitividade mais elevado, e que o retire da zona de rebaixamento (é o lanterninha), tenha se desdobrado durante a semana. Jogadores enviaram mensagens às redes sociais solicitando apoio da torcida. A resposta foi imediata. O Estádio Bruno Daniel deverá fervilhar neste sábado à noite no jogo contra o Botafogo de Ribeirão Preto.

Essa é a vantagem que o Santo André tem em relação ao São Caetano. O vizinho e rival não dispõe do mesmo apelo popular. A expressão “apelo popular” deve ser relativizada. O Santo André também não é exemplo acabado de torcida própria. Conta com alguns milhares de frequentadores de jogos no Estádio Bruno Daniel, mas o peso é inferior ao de muitas das equipes médias que disputam a Série A Paulista. A ausência de televisão de massa é uma das explicações. Mas isso é outro assunto. 

Definição tática 

O técnico Pintado tem arrumado o São Caetano aos poucos. Não fosse a expulsão de Domingues diante do São Bento seria possível observar a evolução da semana de treinamento em Itu. Perder um jogador com um minuto de jogo é um convite à derrota. Mas mesmo com esse peso suplementar diante de um São Bento que integra a Série B do Campeonato Brasileiro o que se viu foi a melhor apresentação do São Caetano no campeonato. 

Simplesmente porque o time definiu o que queria em campo: jogar o tempo todo no contra-ataque. É o que deve repetir segunda-feira contra o Palmeiras, agora com 11 jogadores. Jogar aberto como o fez semanas atrás na Vila Belmiro diante do Santos não é ação recomendada por quem deve reconhecer a superioridade do adversário. Se é verdade que o medo de ganhar contribui para a derrota, a ousadia desmesurada por uma vitória geralmente dá com os burros nágua. A sabedoria indica que, em circunstâncias normais diante de um adversário mais qualificado, time visitante que não desaquece o ambiente de jogo está fadado a perder. 

Limite máximo? 

O Santo André de Sérgio Soares parece ter chegado ao limite evolutivo e -- por consequência -- restritivo. O treinador já fez várias tentativas de acertar os ponteiros, mas a equipe ainda não tem infiltrações centrais para eliminar a monotonia (já fartamente conhecida dos adversários) de explorar principalmente a extremidade esquerda. Sem contar que a medida daria mais resposta ao trabalho insano do centroavante Lincom, facilitador de jogadas porque sabe fazer o papel de pivô. 

O deslocamento de Dudu Vieira da função de segundo volante à lateral-direita desvestiu um santo e vestiu outro. Tudo porque Tinga não tem correspondido como elemento de infiltração de surpresa, que Dudu Vieira executa muito bem. Como o time tem se esmerado em atacar pela esquerda, a escalação de Dudu Vieira à direita não tem potencializado o ataque. 

Contexto de resultados 

De maneira geral, os torcedores do São Caetano e do Santo André têm motivos para acreditar que as duas equipes escaparão do rebaixamento. A tabela da competição reserva ao Santo André dois jogos em casa (Botafogo agora e Novorizontino na última rodada) e um fora (contra o enforcado Linense, no Interior), enquanto o São Caetano joga em casa com o Botafogo depois de passar pelo Palmeiras e encerra participação no Interior contra o Bragantino. 

O importante nestas alturas do campeonato é compreender que os jogos das duas equipes da região não estão descolados do contexto da tabela do campeonato como um todo. Diante de tantas equipes à beira do rebaixamento (cairão duas das 16 participantes), combinações de resultados podem decidir mais que os próprios resultados diretos.

Claro que ganhar é fundamental, mas não se deve desesperar enquanto a formulação matemática não for definidamente consolidada. A perspectiva de que 13 pontos são o limite para fugir da queda alimenta as projeções, mas pode ocorrer de a definição requerer desempate no número de vitórias, primeiro critério que seria levado em consideração. Nesse ponto, o São Caetano com três vitórias tem um cacife especial. 



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