Esportes

Até onde o São Caetano pode ir
no mata-mata com o São Paulo?

DANIEL LIMA - 16/03/2018

Não se deve esperar além do normal o resultado do jogo do São Caetano neste sábado à tarde no Estádio Anacleto Campanella contra o São Paulo, abrindo a fase de mata-mata do Campeonato Paulista. E o normal precisa ser entendido como algo flexível. E flexibilidade como algo possível, mesmo diante de um grande do futebol brasileiro. 

O São Caetano impotente das primeiras rodadas do campeonato, rumo ao rebaixamento, ficou nas brumas do tempo. Desde que Pintado chegou para sacudir e organizar o elenco, tudo mudou. O São Caetano joga muito mais que nos tempos de Luiz Carlos Martins. Resta saber se Pintado teria conseguido nesta semana de preparação dar impulso suficiente para elevar a força da equipe além do que se viu nas últimas rodadas da fase classificatória. 

Não faltou quem quebrasse a cara ao projetar o rebaixamento do São Caetano. Houve um exemplo de estupidez clássica de quem pega um microfone e se sente deus quando, aos 20 minutos do jogo de estreia em Itu, profetizou que a equipe seria rebaixada. Nem mesmo o futebol de quadradismos de Luiz Carlos Martins que se viu nas cinco primeiras rodadas sustentaria tamanha afoiteza numa competição tão curta e tão equilibrada entre pelo menos oito concorrentes de porte médio. 

Mais equilíbrio 

Acreditar que o São Caetano pode surpreender o São Paulo, principalmente no jogo deste sábado, não é flertar com a loucura. Está certo que as proporções que separam times médios e times grandes paulistas alargam-se a cada temporada em que o dinheiro de patrocínio privilegia as equipes com ressonância popular. Mas mesmo assim há tantas nuances no futebol que não é possível mais acreditar que goleadas ou desequilíbrios estonteantes sejam a regra. Escrevemos sobre isso antes de o campeonato começar e a Folha de S. Paulo de hoje oferece aos leitores uma matéria que confirma aquela assertiva. As goleadas tornaram-se raras na Série A desde o ano passado, quando apenas 16 equipes passaram a disputar a competição. Dinheiro de patrocínio oficial é distribuído de forma quase equitativa entre as equipes médias. Tudo isso ajuda a equilibrar a disputa nesse segmento. 

Os confrontos entre grandes e médios também não podem ser entendidos como cartas marcadas de resultados previsíveis. Condições básicas de infraestrutura material e metodológicas entre grandes e médios reduzem o impacto dos orçamentos que se manifestam nos gramados. Ser superior tecnicamente em individualidades não é garantia alguma de domínio de jogo. O coletivismo costuma ter maior peso relativo num futebol em que os craques de verdade batem asas aos primeiros sinais de destaque. 

Um outro time 

O São Caetano terá pelo menos duas oportunidades de ouro para mostrar o quanto evoluiu no campeonato. Ao atuar duas vezes contra o São Paulo será possível confirmar os acertos técnicos e táticos de Pintado. Primeiro, sob o ponto de vista tático, o time é outro. Valoriza a bola, troca passes, desaquece e aquece o jogo quando conveniente. Acelera a passagem da bola na transição rumo ao ataque, cria jogadas tanto pelas laterais quanto pelo meio e marca com mais disposição. Tanto que deixou de ser o time que menos cometia infrações no campeonato e chegou ao nível médio dos demais. O São Caetano não tinha sem Pintado a fome de bola com Pintado. 

Quando o coletivo dá sinais de vida produtiva o individual emerge. E está sendo assim com o São Caetano. Ainda há complicações no entrosamento e na eficiência dos zagueiros de área (Max ainda não tem um companheiro confiável), Alex Reinaldo melhorou as opções pela direita, Vinícius Kiss e Ferreira consolidaram a marcação à frente da zaga e ainda (principalmente Ferreira) saem ao ataque. E o ataque ganhou no atrevimento de Ermínio como centroavante móvel uma opção que faltava. 

Enfim, o São Caetano deixou de ser um time de jogadas previsíveis. Mais que isso: tem no banco de reservas duas revelações da base que devem ter carreiras de sucesso: o meia-atacante Nonato, de finíssima qualidade técnica, e o centroavante Marlon, de mobilidade pouco comum no futebol brasileiro.  

O São Caetano dificilmente passará pelo São Paulo, mas deixará um saldo expressivo se o técnico Pintado não cometer o erro do jogo com o Santos na Vila Belmiro (atacar um adversário que faz do contragolpe a melhor alternativa) e repetir cuidados e criatividade dos três últimos jogos. 

O São Paulo pode ser surpreendido se olhar para a tabela de classificação da primeira fase e entender que o São Caetano é favas contadas por ter menos pontos que os demais finalistas. Aqueles números estão contaminados pela gestão de Luiz Carlos Martins. Com Pintado, são outros quinhentos. 



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