O São Caetano está preparado para conseguir a classificação para a semifinal da Série A do Campeonato Paulista nesta terça-feira à noite no Morumbi diante do São Paulo usando uma arma tática que pode mesmo ser fatal: os contragolpes?
Com importante vantagem no placar (o um a zero do primeiro jogo, sábado no Estádio Anacleto Campanella) o time de Pintado impõe ao São Paulo a obrigatoriedade de arriscar além da conta, porque precisa atacar. Isso é muito bom. Mas também pode ser ruim.
Tudo indica que o São Paulo vai contar com mais mobilidade no sistema ofensivo. Ao São Caetano será decisiva a arrumação defensiva tanto quanto engatar contragolpes com velocidade e precisão. Tudo isso quer dizer que quem esperar por um jogo da mesma linhagem emocional e tática do primeiro certamente ficará decepcionado.
Se o São Caetano tomou a iniciativa de ataque durante todo o primeiro tempo do jogo de sábado, nesta noite de terça-feira deverá ocorrer o inverso. A diferença é que o São Caetano foi mais ofensivo sem ser descuidado. E o segundo tempo do jogo no Estádio Anacleto Campanella foi mais densamente orquestrado pelo São Paulo, embora de baixa efetividade. É disso que o São Caetano precisa no Morumbi.
É preciso evoluir
O suspense sobre o que poderá ocorrer no segundo jogo decisivo torna a disputa enorme ponto de interrogação sobre as possibilidades de o São Caetano alcançar inimaginado sucesso, depois de passar dois terços da fase de classificação tendo o rebaixamento como horizonte a fugir.
O time evoluiu tanto desde que o ex-auxiliar de Rogério Ceni assumiu a equipe que poderia até ser um exagero exigir mais a cada jogo. Mas é preciso para confirmar uma classificação improvável diante de um time grande que, mesmo longe dos bons tempos, carrega uma cultura que pesa durante os 90 minutos.
O São Caetano virou uma equipe de futebol no sentido mais amplo da expressão porque os setores não são mais compartimentados. Todos jogam com a bola e sem a bola. O time é defensivo sem a bola e ofensivo com a bola.
É claro que há inconformidades. Um exemplo? No segundo tempo do primeiro jogo houve pelo menos três falhas de posicionamento em contra-ataques do adversário, quando a defesa ficou exposta demais. Está claro que Vinícius Kiss e Ferreira, volantes fortes, são insuficientes para bloquear um adversário de maior qualidade técnica. Sobretudo quando esse adversário se lança ao ataque depois de algumas alterações técnicas que deram mais velocidade. Essa pressão são-paulina tem duas explicações: a saída de Nonato, com leve contusão, e a desconcentração da equipe.
Nonato é o equilíbrio
O São Caetano precisa torcer para não perder Nonato. Revelação da base, Nonato é espécime em extinção no futebol brasileiro. Flutua entre a meia-armação tradicional e a ponta-de-lança. Com ele o São Caetano melhora nos passes, no ritmo de jogo, na conjugação de tempo e espaço. Sem ele, Chiquinho fica com a obrigação de arrumar o meio de campo. Ex-lateral, Chiquinho é mais um meia-ponta-de-lança do que de armação. Embora mais experiente, Chiquinho não tem a sensibilidade dos meias de verdade. Apressa demais o jogo, erra passes que proporcionam contragolpes ao adversário e nem sempre toma a decisão mais acertada. Os meias construtores sabem encontrar uma brecha na selva de pernas adversárias para deixar um companheiro em situação privilegiada.
Chiquinho, entretanto, é efetivo no ataque. O gol que marcou contra o São Paulo é claramente fruto de jogada treinada. Repetiu-se praticamente o lance do jogo em que o São Caetano derrotou o Palmeiras no Allianz Parque. Com a diferença de que naquele jogo quem falhou na cobertura do cruzamento do lateral Alex Reinaldo foi o lateral Fabiano e diante do São Paulo o goleiro saiu mal do gol também em cruzamento de Alex Reinaldo. Nas duas situações Chiquinho mostrou o quanto é importante contar com alguém que não maltrata a bola quando uma oportunidade aparece diante dos próprios pés.
Números falsos
O técnico Pintado surpreendeu o São Paulo no jogo de sábado porque escalou Nonato e Chiquinho à frente dos volantes Vinícius Kiss e Ferreira. Quem está preso a armadilhas tático-numéricas diria que o São Caetano jogou num anacrônico 4-2-4, mas a realidade é outra. Diego Rosa e Ermínio não formam um ataque fora de moda com Chiquinho e Nonato. Os quatro auxiliaram o tempo todo na marcação, da mesma forma que se posicionam como apoiadores e executores de ataques pelas laterais.
A mobilidade espacial do São Caetano deixou o São Paulo atordoado. O primeiro tempo foi todo controlado pelo São Caetano, que teve mais oportunidades de gols, embora nenhuma com contundência. Time médio diante de time grande raramente atinge o limite possível de intensidade. Há sempre inquietação com a possibilidade de a individualidade mais qualificada fazer a diferença num lance qualquer. Por isso o São Caetano dominou o primeiro tempo sem permitir ao São Paulo espaços a contragolpes que agora se lhe oferecerão no Morumbi. A diferença de um gol numa disputa conjugada de dois tempos de 90 minutos é vantagem quando se tem estratégia bem definida a ser explorada.
Pintado teve três semanas inteiras e intercaladas para estabelecer planos táticos ao São Caetano. Na noite de amanhã saberemos se os contragolpes fazem parte da mala de ferramentas para uma classificação inacreditável à semifinal.
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