Esportes

Brunoro não dá
espaço à paixão

DANIEL LIMA - 05/01/1998

O desorganizado futebol brasileiro, cujo talento parece esgotar-se no retângulo dos gramados, como comprovam quatro títulos mundiais, conta desde o mês passado com importantíssima âncora de profissionalização. José Carlos Brunoro, o mais disputado executivo que a administração esportiva já produziu, e o economista Antonio Afif, já há alguns anos metido na retaguarda do mundo das emoções do chamado esporte bretão, juntaram experiência para escrever provavelmente o livro menos passional e mais racional sobre a modalidade. Futebol 100% Profissional, o título da publicação da Editora Gente, não guarda relação direta com a quantidade de obras que colocam o futebol nas bibliotecas brasileiras. Em vez de biografias individuais ou coletivas de craques que fizeram história, em vez de relatos sobre os maiores clubes, Brunoro e Antonio Afif preferiram o ditatismo de juntar todo o mosaico de que constitui a atividade.

A obra de 252 páginas provavelmente conquistará leitores pela mente e não pelo coração, contrariando o lugar-comum do futebol. Não há uma foto sequer para despertar a paixão dos leitores. Além de texto sem compromisso literário e cuja fluidez lembra mais um pausado relato ao gravador, há alguns jogos de tabelas estatísticas. Futebol 100% Profissional é tão diferente do conjunto da literatura esportiva nacional que prescinde desses apetrechos visuais. E chega em boa hora, como aliás escrevem os autores logo no primeiro parágrafo da apresentação. Afinal, o futebol brasileiro vive momento de transição em busca da modernidade. 

A obra está dividida em 13 capítulos. O próprio sumário emite sinais claros de que Futebol 100% Profissional tem muito mais compromisso com a prospecção do que com o retrospecto. O primeiro capítulo refere-se à evolução do futebol brasileiro, desde a chegada de Charles Muller. O segundo trata da situação dos clubes. Depois, pela ordem, são abordados temas como patrocínio, administração, planejamento, diretor técnico, medicina esportiva, preparação física, psicologia, assessoria de imprensa, categorias de base, instituições de futebol e empresários. Completam a obra bibliografias, anexos, legislação e série de modelos de procedimentos administrativos.   

Novos caminhos -- Provavelmente quem jamais teve o menor interesse pelo mundo da bola encerrará a leitura de Futebol 100% Profissional suficientemente preparado para não passar vergonha quando, como no próximo ano, por força da Copa do Mundo, aqueles marmanjos que correm atrás da bola virarem epidemia nacional de patriotismo, ou a pátria de chuteiras, como definiu Nelson Rodrigues, cronista esportivo, escritor e dramaturgo. Além disso, leitores mais ambiciosos e em busca de empregabilidade num mundo que se globaliza e contrai as ofertas de trabalho poderão despertar vocação para iniciarem-se numa atividade praticamente virgem no mercado nacional e exercitada com sapiência pelos autores -- a introdução de metodologia empresarial num campo empírico. 

Brunoro e Antonio Afif refletem, na própria obra que produziram, a importância do conjunto nessa manifestação de arte inventada pelos ingleses no final do século passado e metabolizada pelos brasileiros. À maior visibilidade de Brunoro, campeão no voleibol com a Pirelli de Santo André e no futebol do consórcio Palmeiras-Parmalat, soma-se o quase então anonimato de Antonio Afif, consultor da Brunoro Sports, ex-diretor do Canal 1 Comunicação e Marketing, da Editora Quattro e do Departamento de Propaganda e Marketing do Coríntians. Brunoro e Afif formam uma tabelinha nunca tentada anteriormente no pouco explorado mundo literário esportivo, porque juntam conceitos técnico-esportivos e enquadramentos econômico-financeiros. Enfim, uma obra que trata o futebol não só como inquietação coletiva de grande parte da população, mas também como produto comprovadamente mal dirigido e explorado. 



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