Administração Pública

Diadema busca
nova imagem

DA REDAÇÃO - 05/05/1998

Diadema convocou um craque da Seleção Brasileira e a maior agência de publicidade da região para tentar driblar o estigma da violência, agravado no ano passado pelo episódio da Favela Naval. Denílson, um meia-esquerda capaz de fazer fila indiana de adversários atônitos diante de seu talento, é ilustre filho de Diadema que dispensou cachê e protagonizou boa parte da campanha Diadema, quem ama respeita, lançada pela Octopus, de Santo André. Foram produzidos três comerciais para a TV nos quais são exploradas referências positivas como o pólo industrial, parques e praças e áreas de Educação, Saúde e Esportes, além de outros pontos como a Praça Castelo Branco e o Parque dos Jesuítas. Também foram produzidos spot de rádio e anúncios para jornais, assim como boletim ilustrado com o slogan da campanha. Os valores não foram anunciados.


A tentativa de valorização institucional é pioneira entre Prefeituras do Grande ABC. Só foi antecedida pela campanha Meu Grande ABC, lançada no ano passado pelo Diário do Grande ABC, de abrangência regional e com assinatura discretamente corporativa. Para Paulo César Ferrari, diretor-comercial da Octopus, o projeto de recuperação da imagem de Diadema não vai se esgotar nessa campanha. Haverá desdobramentos. Mas isso vai depender do engajamento financeiro dos empresários, que já manifestaram, segundo garante, interesse em novas ações. 


Luiz Carlos Teixeira, executivo da agência, afirma que o contrato entre a Octopus e a Prefeitura de Diadema tem um ano de duração e espera que nesse período os indicadores de auto-estima dos moradores apresentem resultados positivos, bem como haja impacto satisfatório nos empreendedores que pretendem instalar negócios no Município. Diadema reúne perto de duas mil indústrias, a maioria de pequeno porte. 


O caso da Favela Naval, como ficou conhecido o festival de truculência policial que ganhou notoriedade porque um cinegrafista documentou lances dramáticos exibidos em horário nobre de televisão, é apenas mais um detalhe na arquitetura de criminalidade que marca a silhueta de Diadema. Pesquisa do Ilanud, instituto da ONU (Organização das Nações Unidas) que trata de segurança, foi anunciada em março e instalou Diadema na liderança do ranking de criminalidade na Grande São Paulo.


Segundo o instituto, Diadema alcançou 3.658,73 pontos no Índice de Criminalidade da Grande São Paulo, superando Poá (2.834,72), São Paulo (2.676,29), Mairiporã (2.649,29) e Arujá (2.586,26), que integram a lista das cinco mais violentas. São Bernardo é a menos violenta da Região Metropolitana, com 836,05 pontos. 


O resultado irritou as autoridades de Diadema. O método Ilanud leva em consideração quatro tipos de delitos -- lesão corporal, furto, roubo e homicídio --, enquanto o anterior considerava unicamente o índice de homicídios por 100 mil habitantes. O Ilanud atribui pesos diferenciados a cada um dos delitos. O pesquisador Tulio Kahn, criador do indicador, explica: "Qualquer indicador agregado é melhor do que o unitário". A mudança de metodologia prejudicou Diadema, pois se a classificação fosse mantida levando-se em conta apenas os homicídios, o Município ocuparia a 12ª posição. Já Embu, que constava da lista das mais violentas pelo critério único de homicídios, passou a integrar o grupo das menos violentas. 


Mentira -- Para o secretário de governo de Diadema, Manoel Antônio da Silva, o novo índice é mentiroso. Ele faz uma análise histórica do desenvolvimento econômico e social de Diadema a partir de meados dos anos 80, quando se iniciou série de administrações do Partido dos Trabalhadores, para contestar a pesquisa. A reurbanização do Município, segundo o secretário, eliminou os barracos-esconderijos que eram dominados por marginais. 


Manoel Antônio da Silva lembra que os dados do instituto da ONU estão baseados em boletins de ocorrências policiais, muitos dos quais, argumenta, são registrados em Diadema porque o sistema hospitalar público de emergência acaba por atrair o atendimento precário em Municípios vizinhos. Também afirma que o elevado grau de politização e cidadania de Diadema e o aumento dos recursos de segurança estimulam e facilitam o registro de ocorrências policiais que em outros Municípios seriam negligenciados. 


"O organismo encarregado da elaboração da pesquisa ignora uma das maiores violências que se comete não só no Brasil como em todo mundo: a mortalidade infantil" -- escreveu Manoel Antônio da Silva em artigo recentemente publicado no Diário do Grande ABC. E completou: "Em Diadema, nos últimos 15 anos, o índice de mortalidade infantil despencou. Tal fato deve-se aos enormes investimentos efetuados nas áreas de Saúde e Educação, que recebem hoje 53% do orçamento municipal". 


Os indicadores sociais de Diadema são positivos. Município de 323 mil habitantes, a mortalidade infantil está na média do Estado com 21,27 mortos para cada grupo de 100 mil nascidos vivos. Um índice semelhante ao do Estado de São Paulo, que é de 22,73. Formada em grande parte por migrantes das regiões Norte e Nordeste, além de Minas Gerais, Diadema apresenta taxa de analfabetismo de chefes de famílias superior à média do Estado, segundo dados do censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística): são 35,19% de analfabetos, contra 30,3% do Estado e 22,51% de São Paulo. Na Educação Infantil, do total de estudantes de sete a 14 anos, 92% estão na escola, segundo dados do censo escolar do MEC (Ministério de Educação e Cultura).

 

Sequência -- Paulo César Ferrari, da Octopus, explica que a sequência de atividades voltadas à melhoria da imagem de Diadema é tão importante quanto oportuna. Ele lembra que a Favela Naval tem 80% de seu território físico em São Bernardo, contra apenas 20% de Diadema. "Foi exatamente nesse pequeno reduto de Diadema que ocorreram os fatos do ano passado e que tantos prejuízos causaram à auto-estima de quem mora no Município" -- comenta.


O lançamento da campanha Diadema, quem ama respeita, no Teatro Clara Nunes, teve significado especial para o diretor da Octopus: "Sentimos que há mobilização de autoridades públicas, empresários e população em geral pela recuperação da auto-estima, o que, aliás, confirmou o mote de nossa campanha, que acabou sendo a vencedora da licitação preparada pela Prefeitura".


O ex-presidente da Acid (Associação Comercial e Industrial de Diadema) e atual membro do Conselho Superior da entidade, o empresário Filipe dos Anjos Marques, engrossa a lista de apoio à campanha, considerando-a providencial diante do que chama de sistemática perseguição da mídia em atingir a reputação do Município. Mas entende que está faltando massificação doméstica da campanha, além de baixo engajamento da sociedade: "Entendo que o trabalho é interessantíssimo, mas acho que faltou a participação da comunidade, de maneira geral, na definição das propostas da campanha. Da mesma forma que acho que está faltando mais material promocional nas ruas da cidade, para que a população, tradicionalmente participativa, possa integrar-se mais ao projeto" -- sugere Filipe. 


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