Esportes

Sobra apoio para
clube virar empresa

DANIEL LIMA - 05/07/1999

Não será por falta de apoio de dirigentes, conselheiros e torcedores que o Conselho Deliberativo do Esporte Clube Santo André deixará de aprovar a constituição do Santo André Sociedade Anônima. A transformação em empresa do Departamento de Futebol do clube, atendendo a determinação da Lei Pelé, não só é apoiada por lideranças antigas da agremiação como é considerada essencial para os sonhos de crescimento do futebol profissional do Município. Até o mês que vem o Conselho Deliberativo do clube, presidido pelo advogado Luiz Antônio Lepori, deverá reunir-se para analisar a proposta de criação do Santo André S/A. Encontros preliminares já estão sendo promovidos.


O também advogado Antônio Carlos Cedenho, presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Santo André, é um dos interlocutores nos encontros que debatem a proposta do clube de adaptação à Lei Pelé. Torcedor da equipe, Cedenho está preocupado apenas com o formato da proposta que será levada ao Conselho Deliberativo. Ele e demais membros que estudam a formalização da sociedade anônima só esperam driblar eventuais obstáculos jurídicos que a mudança estatutária poderia erigir. "A relação com o Poder Público tem de ser detidamente analisada" -- afirma Cedenho. Ele se refere ao uso do Estádio Bruno Daniel em caráter de exclusividade e também ao regime de comodato por 30 anos do Parque Jaçatuba, onde está instalada a sede socioesportiva do Santo André. 


A preocupação é justificada porque os instrumentos legais de cessão contemplaram um clube sem finalidade de lucro. Com a criação do Santo André S/A, o Parque Poliesportivo continuará sendo propriedade do Esporte Clube Santo André, objetivamente sem cunho de lucro, mas o Estádio Bruno Daniel passará a ser utilizado pelo braço empresarial que em princípio teria a maioria das ações sob o controle do clube, se confirmada a proposta do presidente Jairo Livolis.  


Futuro inquieta -- O ex-presidente Breno Gonçalves, empresário do setor automotivo que liderou a campanha da equipe no acesso à Primeira Divisão de 1981, um dos conselheiros mais influentes do clube e integrante do restrito quadro de cardeais, por onde as decisões mais importantes necessariamente têm de passar, não perde o sono por causa de questões jurídicas. Pragmático, o que o inquieta é o futuro do futebol do Santo André. Por isso, avaliza a decisão da diretoria de lançar ações no mercado para a gestão do Santo André S/A. "Do jeito que o futebol profissional vai caminhando, se não pegarmos essa estrada não teremos vez nem na Terceira Divisão" -- afirma Breno. 


A fórmula proposta por Jairo Livolis para comandar o Santo André S/A é de pleno agrado do ex-dirigente: "O Conselho Gestor de 11 membros é ótima alternativa para trazer de volta muitos ex-dirigentes que têm muito a oferecer ao Santo André. Agora eles poderão participar como investidores e isso é ótimo para eles e para o clube" -- disse Breno. "Vou comprar ações. Só não sei ainda se serão muitas ou poucas, mas não nego que quero participar do Conselho Gestor" -- completou. 


O conselheiro Samuel Alves, assíduo torcedor do Santo André, só espera que os membros do Conselho Gestor tenham relação histórica com o clube e que interpretem o empreendimento como coisa séria: "Tenho medo que apareçam alguns picaretas só para se locupletar do clube" -- disse. Samuel Alves não é tão ostensivamente favorável ao projeto, mas entende também que o Santo André S/A é a alternativa mais viável para a sustentação do futebol profissional num quadro macroesportivo de grandes investimentos. "Só não vou comprar ações porque não tenho dinheiro" -- antecipa. 


Renê Naves, torcedor do Santo André desde os 11 anos de idade, não só pretende arrematar ações como vai convidar amigos e parentes para fazer parte do quadro de investidores do Santo André S/A: "Espero que as ações sejam realmente pulverizadas, porque assim toda a comunidade vai ter mais motivos para apoiar o Santo André". Empresário do setor de formulários contínuos, Renê Naves lembra que o lançamento de ações no mercado exige competência: "O clube tem de se esmerar no trabalho com atitudes profissionais, senão tudo pode se perder" -- alerta. 


Marketing é importante -- O também empresário Jorge Yorgaciov alerta sobre a importância de suporte de marketing para o projeto conquistar o interesse maciço da comunidade. Jorge é torcedor mais recente do Santo André. Começou a assistir aos jogos da equipe no início dos anos 80, quando o Santo André chegou a disputar o Campeonato Brasileiro e tinha Luiz Pereira e Vladimir entre as estrelas. Ele só não se lembra qual foi o primeiro adversário da equipe. Diferente de Renê Naves: "Comecei a me apaixonar pelo Santo André no jogo contra o Aliança, em 1976, no Estádio do Jaçatuba. Dominamos o tempo inteiro, transformamos o goleiro Carioca no melhor em campo, mas não saímos do zero a zero" -- recorda. 


Jorge Yorgaciov não teme qualquer adversidade na formação do Conselho Gestor. Ele parte do pressuposto de que ninguém com o juízo no lugar se anime a perder dinheiro: "A gestão de um clube-empresa não pode dar lugar apenas à paixão. É preciso que prevaleça o racional, porque é o dinheiro de muita gente que está sendo envolvido" -- explica. "Só espero que os torcedores e a comunidade sejam educados a investir no Santo André" -- completa. 


Dois dos atuais vice-presidentes do EC Santo André também reforçam a proposta de transformação do futebol do clube em empresa, mas não são unânimes quanto ao modelo. Celso Luiz de Almeida, responsável pela operacionalidade do dia-a-dia da equipe profissional, entende que na forma de sociedade anônima ou eventualmente de co-gestão, não resta alternativa ao Santo André: "Pode ser que o lançamento de ações seja mais interessante no momento que uma eventual co-gestão; o que não tenho dúvidas é sobre o futuro da equipe, que depende de parceiros" -- afirma. Celso Luiz de Almeida recorre à concorrência cada vez mais bem aparelhada para o arremate de seus argumentos: "Quem não se preparar convenientemente para o futebol como negócio vai encontrar cada vez mais dificuldades para resistir". 


O outro vice-presidente, José Roberto Caparros, que acompanha a equipe desde os anos 70, aprova inteiramente o modelo de sociedade anônima sugerido pelo presidente Jairo Livolis. "Acho inclusive que a proposição de montagem de um Conselho Gestor de 11 membros, com seis deles representando o EC Santo André e os outros cinco o Santo André S/A, é a melhor maneira de promover uma transição séria e de co-responsabilidade do modelo atual para o que vai determinar as relações do futebol profissional com os investidores" -- afirma. 


Ex-vice-presidente durante seis anos, ex-candidato à presidência e torcedor que geralmente ocupa o mesmo lugar nas numeradas, Roberto Nasser Bartolli Turcão também integra o consenso de que não resta ao EC Santo André saída senão tornar-se Santo André S/A, independente da Lei Pelé. Só faz um reparo, e de forma enfática: "Não acho correto que o EC fique com a maioria dos cargos no Conselho Gestor, em consequência de contar com 50,1% das ações, contra 49,9% que serão lançadas para os investidores. Entendo que isso não é abertura. Dá a impressão de que o clube quer o dinheiro dos investidores mas não pretende abrir mão do poder de mando. Investidor com ambição quer a maioria das ações" -- afirma Turcão.  


Os também conselheiros Luiz Carlos Duarte e Fábio De Nadai, inseparáveis no acompanhamento da equipe há muitos anos, combinam igualmente no futuro que alinhavam para o Santo André: "A proposta de criar um Conselho Gestor é a melhor maneira para descentralizar o comando do clube e terá todas as condições de sucesso se for acompanhada pela profissionalização do Departamento de Futebol em todas as áreas" -- afirma De Nadai. "Não tenho dúvidas de que os dirigentes mais antigos que acabaram deixando o Santo André vão voltar como investidores e participarão ativamente do Conselho Gestor. A união de todas as alas do clube é que vai fazer funcionar o Santo André S/A"  -- projeta Luiz Carlos. 


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