Esportes

Estigma de PT Futebol Clube
persegue o São Bernardo FC

DANIEL LIMA - 13/11/2018

Na entrevista de página inteira da edição de ontem do Diário do Grande ABC o que mais chamou a atenção nas declarações de Edinho Montemor foi ter colocado pela primeira vez ao público uma chaga que o São Bernardo Futebol Clube carrega e que tanto o atrapalha, ou seja, ter-se tornado PT Futebol Clube durante o período presidencial do então candidato a qualquer coisa Luiz Fernando Teixeira. 

Fico entre a cruz da desinformação e a espada de suposto cabotinismo diante da necessidade de dar informações complementares sobre a politização petista do futebol de São Bernardo pelo reeleito deputado estadual Luiz Fernando Teixeira. Como não posso ignorar a demanda dos leitores, e como não acho justo dizer o que tem de ser dito, então vou dizer sem cerimônia: o único (repito: o único) jornalista da praça e também da metrópole que situou os consumidores de informações sobre a partidarização política do São Bernardo foi exatamente este que escreve. 

É claro que tudo que contrarie os poderosos de plantão, ainda mais quando os poderosos de plantão são um primeiro-ministro de um ex-ministro (Luiz Marinho) do poderosíssimo governo Lula da Silva que virou prefeito de São Bernardo, imaginem as consequências. Passei por um corredor discriminatório que se avolumou e que chegou ao ápice, com perseguição latente. . 

Se não esclarecesse esse ponto aos leitores não me sentiria bem porque pareceria a coisa mais natural deste mundo o que disse o atual presidente do São Bernardo Futebol Clube, Edinho Montemor, um dos fundadores do clube e durante os últimos tempos da gestão de Luiz Fernando Teixeira deixado de lado na direção do clube. 

Com todo o cuidado que um confesso leitor preferencial da Bíblia Sagrada responde a questões delicadas, Edinho Montemor lamentou a partidarização do São Bernardo. Extraio da entrevista os seguintes trechos sobre o assunto, em resposta ao jornalista Derek Bittencourt. Repasso a pergunta e a resposta na íntegra: 

Diário do Grande ABC -- O clube, historicamente, é bem próximo da política e, por conta disso, muitas vezes sofreu alguns pré-julgamentos, tanto durante o seu mandato quanto no do deputado Luiz Fernando. Há uma luta para tentar se desvencilhar disso? 

Edinho Montemor -- É uma preocupação que sempre tive desde que fundei o clube, tanto que era deputado federal, evitava dar entrevistas, evitava aparecer. Logo saí da presidência e coloquei meu filho, Edgard Montemor Filho (atual diretor executivo) para ser o presidente, justamente para não ter a vinculação política, que é muito danosa para a imagem do clube, aos projetos e planejamento. Infelizmente, neste período que o Luiz Fernando ficou à frente do clube, ele fez muitas coisas boas, mas fez uma extremamente ruim, que foi vincular de vez a imagem do clube a um partido político, a um projeto político que acabou nos prejudicando demais. Estamos, desde que reassumi a presidência, tentando tirar esse estigma de que é um time de partido. Não é, nunca foi. É da cidade. Foi para isso que foi fundado e criado. Não é e não deve ser vinculado a partido político. O futebol tem, sim, que ter proximidade com a política, faz parte, como todas as atividades humanas, mas jamais ser atrelado ou ter sua imagem associada a esta ou aquela agremiação política. Então, neste sentido, o Luiz Fernando errou bastante ao fazer essa vinculação muito forte com o Partido dos Trabalhadores. Hoje tiramos um pouco disso. 

Prova provada 

Sei que os leitores vão cobrar provas de que me opus à fórmula descaradamente serviçal do futebol à política durante o período petista de controle acionário do São Bernardo Futebol Clube. O caudal de novos leitores desta revista digital, egresso de mídias digitais que estão se incorporando à audiência já faz algum tempo, e que, portanto, não tem tanta intimidade histórica com esse endereço de comunicação, merece esclarecimento. E também os leitores tradicionais, sem memória de elefante para tudo que se passa aqui. 

Recorro aleatoriamente a alguns trechos do artigo que publiquei na edição de oito de outubro de 2012 (portanto há seis anos), sob o título “Teixeira politiza ainda mais o futebol e São Bernardo vira PT Futebol Clube”. Vamos então a alguns parágrafos: 

 Alguém precisa recomendar ao presidente Luiz Fernando Teixeira certos cuidados para que o São Bernardo Futebol Clube não se descaracterize ainda mais. Deslumbrado como dirigente esportivo e audacioso como arrecadador de dinheiro em campanhas eleitorais, Luiz Fernando Teixeira ultrapassa os limites e conduz o futebol de São Bernardo ao separatismo esportivo ao aprofundar a divisão da cidade entre torcedores e não torcedores de algo que se encaminha para PT Futebol Clube. Nada pior para um clube empresarial, porque reduz o mercado do ponto de vista econômico e o estigmatiza como elemento social. 

Mais politização do futebol 

 A mais recente trapalhada de Luiz Fernando Teixeira foi anunciada sem o menor pudor na edição de sábado do Diário do Grande ABC. Ele vai recorrer aos préstimos do ex-presidente da República, Lula da Silva, a quem não cansa de estender o tapete, para atuar como empresário de futebol. Quer que Lula vá aos grandes clubes paulistas, Corinthians do coração entre eles, para garantir reforços subsidiados de que o São Bernardo precisaria na Série A do Campeonato Paulista do próximo ano. O PT Futebol Clube seria, no ensaio do presidente Luiz Fernando Teixeira, uma colcha de retalhos dos grandes clubes do Estado.  

Mais politização do futebol 

 (...) Lula da Silva também é presidente de honra ou algo parecido do representante de São Bernardo no futebol profissional e imortalizou a camisa de número 13 sem sequer jamais ter atuado um minuto sequer. A camisa 13 do Tigre jamais será utilizada por ninguém, porque o PT Futebol Clube decidiu em reunião de cúpula que é uma homenagem ao ex-presidente. Qualquer semelhança com o número que identifica eleitoralmente o partido não é mera coincidência. Até parece que o julgamento do mensalão não provoca a mais ínfima preocupação ao presidente Luiz Fernando Teixeira. Atrevido, vai em frente com o projeto do PT Futebol Clube que causa horror a quem, como este jornalista, caiu na besteira de acompanhar alguns dos jogos da equipe do setor de arquibancadas e, ante uma chuva torrencial, dirigiu-se às cabines de Imprensa e de autoridades e verificou que ali se instalava um QG partidário. 

Mais politização do futebol 

 (...). Utilizar o prestígio pessoal de Lula da Silva junto aos clubes grandes do futebol paulista pode ganhar uma conotação coercitiva que, por sua vez, evocaria a desconfiança de que se patrocina uma concorrência desleal com as demais agremiações de pequeno e médio porte que disputarão a Série A do ano que vem. Ou o leitor tem dúvidas de que entre um pedido do ex-presidente por determinado reforço e uma oferta mesmo que mais interessante de outra agremiação sem o mesmo peso político os dirigentes de clubes grandes ousarão deixar de atender ao pedido daquele que, por força do passado de sucesso político e de entranhamento no governo federal, destravaria qualquer tipo de nó? 

Bom enquanto durou 

Não há registros no futebol da região de uma agremiação que tenha tido durante uma coleção de anos tanto apoio escancarado e muito apoio escondido como o São Bernardo Futebol Clube. A dependência do Paço Municipal jamais foi sequer dissimulada. Havia ostensiva decisão de vínculo entre a gestão do prefeito Luiz Marinho e de seu primeiro ministro para assuntos financeiros como fórmula de marketing para influenciar os resultados dentro de campo e nas urnas. A farra do boi se instalou em São Bernardo. O Estádio Primeiro de Maio passou a receber grandes públicos (menos, entretanto, do que registravam os suspeitos borderôs) movidos pela maciça distribuição gratuita de ingressos. Criou-se estrondosa reserva popular que despertou o interesse da grande mídia. A mesma grande mídia que jamais se preocupou em saber detalhes daquela administração.

Ao lembrar-se desses fatos e ao apanhar com a segurança das declarações do presidente Edinho Montemor a projeção de um São Bernardo a salvo de implicações político-partidárias, o mínimo que poderia expor é que a tarefa será árdua. O erro estratégico sufocado pela gulodice exigirá grande retrabalho. Sem veículo de comunicação de massa, sobrará à direção do São Bernardo o uso de mídias sociais para interromper esse circuito cultural danoso à imagem da agremiação. 

O dano ao São Bernardo Futebol Clube é estruturalmente contundente porque a submissão ao petismo dos tempos de glória e muito dinheiro para gastar não é uma enfermidade qualquer. Fosse outra agremiação, menos enraizadamente na memória de torcedores e eleitores, o tempo trataria de dissipar. Mas como o PT é o PT e não é preciso explicar o que isso signifique, talvez tudo que se faça seja um remendão. De qualquer modo, precisa ser feito. 

O São Bernardo é uma empresa de futebol que eliminou de seus jogos e também do potencial de patrocinadores a classe média de um Município dividido ao longo de décadas por um sindicalismo bravio que sempre cuidou apenas dos seus, ou seja, da companheirada de chão de fábrica. 

Não há nenhuma discriminação nessa constatação, como possivelmente alguém poderia utilizar para desclassificar a verdade. O que existe é um fato histórico que o São Bernardo de Edinho Montemor precisa exorcizar, unindo a cidade em torno do clube.

Já imaginaram a recaída se o PT de Luiz Marinho voltar a dirigir o Paço Municipal após as eleições de 2020? Aí Luiz Fernando Teixeira, que desapareceu do clube porque do clube retirou tudo de que precisava, possivelmente voltaria.



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