Política

Pastoriza é Covas
em São Bernardo

DANIEL LIMA - 05/01/2000

Não é unanimidade em São Bernardo a certeza de que já está posta a mesa eleitoral e que o prefeito Maurício Soares e o sindicalista Vicentinho Paulo da Silva vão disputar o farto menu de mais de 350 mil votos. Um jovem candidato de 40 anos, que acumula experiência de empreendedor e de liderança de classe, pode jogar água no chope de quem imaginava a eleição apropriada para ser resolvida no primeiro turno. Com apoio explícito do governador Mário Covas, Carlos Pastoriza, ex-titular do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Bernardo e vice-presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas), entrou na disputa aparentemente como complicador a ser considerado. 

Declarando-se desde o mês passado político em tempo integral, depois de afastar-se da empresa sediada em Diadema, Carlos Pastoriza sabe que sua campanha vai ter peso importante como candidato do governador do Estado. Acredita que sua juventude com experiência prática e nenhum passado político é sério contraponto ao situacionismo sempre desgastante de Maurício Soares e ao surrado esquerdismo sindical de Vicentinho. Entretanto, mesmo com essas interpretadas vantagens, Carlos Pastoriza reconhece que vai precisar gastar muita sola de sapato para chegar ao eleitorado, principalmente da periferia, que mal o conhece. Sem contar que entregará a especialistas em marketing político tudo que se referir ao seu desempenho como candidato que corre contra o relógio num Município que não dispõe de mídia de massa.


Ranking nacional -- Resultado do rebuliço que se instalou no diretório do PSDB de São Bernardo depois da debandada do prefeito Maurício Soares e de parte de seu secretariado, inquietos com a queda de popularidade do presidente Fernando Henrique Cardoso, Carlos Pastoriza foi escolhido pelo staff do governador do Estado para tentar recuperar o Paço Municipal de um dos 50 municípios politicamente mais importantes do País.

Esse ranking lhe foi passado pelo presidente nacional do partido, Teotônio Villela Filho, em encontro recente no gabinete do senador em Brasília. Pastoriza já colocou o pé na estrada. Com o fôlego em dia, de quem corre regularmente 10 quilômetros no final de cada tarde, ele tem se reunido com grupo de colaboradores e visitado tudo que possa representar potencialidade eleitoral. Já definiu que suas andanças por São Bernardo vão obedecer o sistema caracol, que consiste em partir da periferia em direção ao Centro. Massificar sua imagem de jovem empreendedor preocupado com o futuro socioeconômico do segundo Município mais importante do Estado é prioridade das prioridades.

Enfrentar a máquina do prefeito Maurício Soares, candidato à reeleição, e o sindicalismo de Vicentinho Paulo da Silva pode parecer tarefa inglória para quem nunca se meteu em política partidária. Mas Pastoriza extrai do que aparentemente é problema o que considera vantagem: entra na corrida sucessória sem passivo eleitoral, isto é, sem rejeição; exibe imagem de vencedor, de homem bem-sucedido; e contará com aparato logístico do governo do Estado, que, garante, não foi atingido pela administração de Fernando Henrique Cardoso. 

Otimista, Pastoriza pretende transformar as eleições em São Bernardo em algo parecido com o que estaria reservado para Diadema, onde três candidatos podem chegar à vitória. Em princípio, entretanto, só a possibilidade de intrometer-se a ponto de provocar um segundo turno, e aí tornar-se o fiel da balança, já o encanta, embora não seja tudo que planeja. 

Berço do PT, São Bernardo conta com forte eleitorado de esquerda e centro-esquerda. Na disputa pela Presidência da República, em 1998, Lula recebeu 147.674 votos no Município, contra 144.448 de Fernando Henrique. Já para o governo do Estado, Marta Suplicy chegou a 120.794 votos, contra 95.689 de Paulo Maluf, 53.731 de Mário Covas e 50.112 de Francisco Rossi, além de 6.394 de Orestes Quércia. Como se observa, o pêndulo esquerdista de São Bernardo confunde-se com o lulismo. Sem Lula, a disputa fica mais ecumênica e complicada. 


Outros candidatos -- A candidatura de Carlos Pastoriza à Prefeitura de São Bernardo pelo PSDB é favas contadas? O próprio Pastoriza insinua que sim, mas, cauteloso, já que em política tudo é possível, prefere seguir o ritual da legalidade eleitoral e afirmar que é pré-candidato. Até porque, outros dois supostos concorrentes afirmam-se decididos a disputar a convenção que confirmará o oponente de Maurício Soares e de Vicentinho Paulo da Silva: Ferdinando Credídio e Marcos Gonçalves. 

É muito provável que tanto um quanto outro se manterá numa suposta disputa apenas para alcançar maior visibilidade com vistas a passos subsequentes. Marcos Gonçalves, presidente da Avape (Associação para Valorização e Promoção de Excepcionais) e ex-coordenador do Fórum da Cidadania, já concorreu duas vezes a deputado federal. Teve pouco mais de cinco mil votos na primeira tentativa e subiu para mais de 20 mil na segunda. Ferdinando Credídio é presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Bernardo e tem marcado dura oposição ao prefeito Maurício Soares. 

É possível que nenhum dos dois levará a sério a intenção de candidatar-se de verdade à Prefeitura de São Bernardo diante da constatação de que é Carlos Pastoriza o preferido do governador. Nem eventual indicação à chapa peessedebista como vice-prefeito deverá contemplar um deles. O companheiro de Pastoriza é um imbróglio a ser resolvido nos próximos meses. O ex-prefeito Tito Costa, candidato a prefeito que geralmente desiste na reta de chegada, chegou a ser cogitado, mas o PMDB, seu partido, está alinhando-se ao PT de Vicentinho para eventual segundo turno.  


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