A intensa reestruturação desencadeada pela maioria das empresas para se adequar ao mundo globalizado norteou os trabalhos da diretoria do Volkswagen Clube entre 1997 e 1999, período no qual a prioridade foi levar para porto seguro um barco que balançava em águas revoltas de uma economia instável. A reengenharia administrativa e operacional comandada pelo presidente Lauro Gilmar Teixeira, reeleito por em 1999 para novo mandato, implicou em corte de funcionários, treinamento de pessoal, adoção de sistema administrativo empresarial e austeridade incomum no controle de gastos quando se trabalha com dinheiro alheio. E que alheio! São mais de 74 mil associados, quase três vezes a população de San Marino (25,3 mil), na Itália, que dão ao Volkswagen Clube orçamento de R$ 6 milhões neste 2000.
A gestão empresarial enfrentou resistências isoladas, mas atingiu os objetivos traçados: o atendimento ao associado se tornou mais dinâmico, a infra-estrutura melhorou e, mais importante, reduziu em 50% -- ou para quem gosta de cifrões, em R$ 5 milhões -- os gastos com custeio entre 1997 e 1999.
A opção de implantar sistema de gerenciamento similar ao de uma empresa não está ligada somente ao fato de vários integrantes da diretoria, inclusive o presidente, terem sido ou ainda serem executivos da gigante multinacional Volkswagen. A equipe que assumiu em 1997 chegou com a visão de que o Volkswagen é um clube-empresa que tem como atividade-fim o entretenimento, uma indústria do lazer que, como tal, precisa de administração baseada na razão, não na paixão que move a grande maioria dos dirigentes de clube, saídos do quadro associativo e que pensam como associados. Não raras vezes eles caem na tentação de gastar mais do que a capacidade gerencial permite, apenas para ver um sonho realizado.
"Não somos donos do clube, por isso temos de zelar pelo patrimônio. Não podemos colocar em risco um patrimônio erguido com muita luta há 42 anos. Se não temos condições de ampliar, temos obrigação de pelo menos zelar pelo que já existe" -- diz o presidente. Lauro Teixeira não esconde que o clube viveu momentos difíceis, embora diplomaticamente evite remexer no passado: "Podemos dizer que, quando assumimos, o clube parecia um Titanic balançando. Agora está em águas tranquilas" -- conceitua.
A proposta de ser um saneador, não um presidente com intenção de fazer história como tocador de obras -- deixando dívidas para sucessores --, colocou alguns espinhos no caminho de Lauro Teixeira. Comanda com mão-de-ferro a administração financeira e todo o processo de reestruturação, incluída aí a redução de 74 funcionários, alguns dos quais executivos com salários e benefícios correspondentes a cargos de alto escalão da montadora. Só as despesas com rescisões contratuais chegaram perto de R$ 1 milhão.
As críticas, naturais quando envolvem mudanças radicais, não desviaram a trajetória. "Temos de ver o associado como cliente e garantir atendimento e infra-estrutura que atendam às expectativas de um consumidor cada vez mais exigente. Temos de estar sempre à frente, oferecer boas opções de lazer e, sempre que possível, apresentar novidades" -- prega Lauro Teixeira. Aos 46 anos, ele frequenta o clube desde os 15 e durante 26 anos trabalhou na Volkswagen, da qual se desligou recentemente para criar empresa de consultoria.
O processo de requalificação profissional para adaptar os 180 funcionários à filosofia de clube-empresa é contínuo. Inclui treinamento em relações humanas no trabalho, comunicação e desenvolvimento do espírito de equipe, palestras e reuniões entre colaboradores e associados, entre outras ações. "Treinar e habilitar as pessoas para que trabalhem com o mesmo objetivo traz também maior integração, motivação e compromisso com a filosofia de bem-atender" -- avalia o presidente.
Os bons resultados levam a diretoria do Volkswagen Clube a iniciar ainda neste ano ousado plano para conquistar a Certificação de Qualidade ISO 9002, inédito entre clubes do Grande ABC. Segundo Lauro Teixeira, apenas o Pinheiros, da Capital, tem a ISO 9002. O trabalho a ser desenvolvido é a complementação de todas as ações adotadas entre 1997 e 1999.
Além do envolvimento dos funcionários, a diretoria aposta em trabalho iniciado em 1998 e pioneiro entre clubes de São Paulo. Comandados por especialistas, foram implementados programas de Gerenciamento de Prevenção de Acidentes, de Inspeção de Segurança e de Saúde e Vistoria Sanitária. O acompanhamento é constante em todas as instalações e envolve também os 180 funcionários, que passarão por treinamentos sobre riscos, como evitar acidentes e como agir em casos de emergência.
Lauro Teixeira sabe que o projeto é mais ambicioso do que construir um megaprojeto. Afinal, diferentemente do processo repetitivo das linhas de montagem, um clube representa várias empresas, já que cada atração ou serviço tem características próprias. "Por isso mesmo, vamos buscar a ISO por etapas, ou seja, por segmento de atividade, até atingirmos a excelência como um todo" -- diz o dirigente.
Lauro Teixeira levou para a administração da agremiação a própria filosofia de vida quando se trata de dinheiro: nunca fazer dívidas. Traduzindo: só gastar quando tiver capital necessário para o investimento. Quem pensa que Lauro Teixeira, os vice-presidentes Santo Osmil Palmieri e Valmir Aparecido Gonçalves têm a síndrome de Tio Patinhas, personagem sovina de Walt Disney que só pensa em acumular riqueza, o trio desfia várias realizações do primeiro mandato. Caso da construção de dois campos de grama sintética para futebol soçaite, sonho de muitos associados que custou aproximadamente R$ 300 mil. "Só fizemos quando tínhamos a verba toda em caixa" -- esclarece.
Além disso, outras obras de menor visibilidade mas de grande importância para o clube podem ser conferidas no muro de contenção contra enchentes, desassoreamento da rede de águas, manutenção do gramado e recuperação do sistema de irrigação do campo de futebol. Outro ponto destacado é o investimento de R$ 120 mil na modernização do setor de informática, com aquisição de 30 computadores e instalação de novos bancos de dados e ferramenta de programação visual.
Água Mania -- Apesar de todo cuidado gerencial, os dirigentes são associados e também têm sonhos quanto a novas opções de lazer. A única diferença é que precisam dobrar a atenção para não meter o pé pelas mãos porque têm poder de decidir. Não é por outro motivo que um projeto que começou a ser desenvolvido há mais de um ano, com pesquisas em centros similares, só começará a sair do papel em junho, embora os recursos financeiros para a primeira etapa já estejam reservados.
Batizado de Água Mania, o projeto terá área total de 15 mil metros quadrados, metade ocupada por megacomplexo aquático com três toboáguas, piscina semiolímpica e piscina recreativa aquecidas, rio lento de 180 metros de comprimento com área de descanso, piscina infantil com escorregador e lago de hidromassagem, entre outras atrações. A previsão é de que consumirão 2,5 milhões de litros de água. Também fará parte do complexo bar com solariun integrado a uma praça dotada de palco, espaço projetado para eventos.
Inédito em clubes associativos, o Água Mania está estimado em R$ 4 milhões e tem prazo de conclusão previsto para dois anos. O complexo ocupará a área onde está instalado o conjunto aquático. Por isso, as obras serão realizadas apenas entre junho e dezembro, para não prejudicar o fluxo dos associados no verão. Lauro Teixeira acredita que o período seria suficiente para concluir o projeto, desde que o clube tivesse verba disponível. "Não temos como fazer isso sem entrar em dívidas. Como não trabalhamos assim, vamos por etapas" -- diz. A possibilidade de entrar 2001 com tudo pronto ainda não foi descartada, já que a diretoria está à procura de parceiros para a empreitada, oferecendo em contrapartida espaços para publicidade. Uma instituição financeira já foi contatada.
O complexo Água Mania, que deverá se transformar na coqueluche do clube e até atrair novos sócios, não é o único grande projeto da direção do Volkswagen Clube. É o mais real porque já tem reservada parte dos R$ 4 milhões necessários e prazo para início das obras. Outros planos são a transformação do ginásio principal em salão social, com consequente edificação de novo centro esportivo, e a construção de centro cultural, tudo isso na sede urbana da Vila do Tanque. Para a sede campestre, instalada em 150 mil metros quadrados às margens da Represa Billings, o plano mais ousado é a construção de chalés. O assunto está sendo analisado com cuidado por vários motivos, entre os quais a necessidade de dotar o local com mínima infra-estrutura hoteleira.
Verdadeira cidade -- O Volkswagen Clube é administrado como empresa, mas também poderia ser comandado como cidade, já que em seus 400 mil metros quadrados de área -- entre sede urbana e campestre -- oferece serviços e atividades esportivas, culturais e sociais em níveis superiores a muitos municípios brasileiros. Para garantir o funcionamento dos dois complexos, consome cerca de 80 mil Kwh de energia elétrica por ano.
A comparação com uma cidade não é exagerada. Criado na década de 50 em torno de um time de futebol formado por executivos recém-chegados da matriz na Alemanha e os primeiros empregados da montadora no Brasil, o Volkswagen Clube começou a ser erguido em 1958 em São Bernardo e hoje é um dos maiores centros de lazer e recreação da América do Sul. O complexo é formado pelas sedes urbana e campestre e conta com três campos de futebol, 10 quadras poliesportivas (cinco cobertas), dois campos de grama sintética para futebol soçaite, duas quadras de vôlei de areia, cancha de bocha, salão de jogos, salão de snooker e quatro quadras de tênis. Complementam a estrutura academias de ginástica e de judô, salas de aeróbica e de dança, conjunto aquático com seis piscinas, sauna, restaurante, academia de artes marciais, sete lanchonetes, quiosques com churrasqueiras, playground, praças e pista de atletismo.
Para administrar todo esse aparato, a diretoria conta com apoio de departamentos específicos, o que no organograma de uma cidade seriam secretarias. O Departamento de Esportes organiza mais de 40 competições nas mais diferentes modalidades durante o ano. Também cuida da parceira com a escola de futebol norte-americana Brusa (Brasil/Estados Unidos), comandada por José Thadeu Gonçalves, que anualmente traz equipes para estágios no Brasil e utiliza instalações do clube, como alojamento para 60 pessoas. Além disso, coordena mais de 20 cursos esportivos.
"Preservamos muito a organização e a disciplina. Tanto que chegamos a abandonar competição onde estávamos bem classificados por problemas na organização e de indisciplina" -- revela Lauro Teixeira. A agremiação mantém equipes de competição em várias modalidades, mas apenas no basquete, atletismo e judô tem atletas acima de 17 anos. Em basquete, atletismo e judô mantém convênio com a Prefeitura, sendo o judô também patrocinado pela Unimed. "Queremos parceiros, mas não quem só quer dar uniformes. Isso nós podemos bancar" -- espeta o presidente, ao citar os títulos de 1999 da equipe Pré-Mini de basquete, campeã sul-americana, do time Infantil de vôlei, campeão metropolitano, do atletismo Pré-Mirim, campeão estadual, e do judô, que levou o título do Campeonato Brasileiro na categoria Infanto-Juvenil.
Veia cultural -- A veia cultural do Volkswagen também salta aos olhos. Além de manter cursos de inglês, espanhol e informática para funcionários e associados, o clube tem grupos de teatro e de canto e coral que fazem apresentações internas e externas. Já garantiram, inclusive, prêmios em concursos. O Departamento Cultural organiza idas mensais a teatros e shows por intermédio do projeto Vamos ao Teatro, sem contar visitas ao Zoológico, Museu do Ipiranga e Teatro Municipal de São Paulo, entre outros. Todos os meses são realizadas exposições de pinturas e esculturas em local que o clube transformou praticamente numa galeria, batizado de Espaço Cultural Volkswagen Clube.
A preocupação em abrir-se à cultura rendeu ao Volkswagen o apoio do Ministério da Cultura para dois projetos: o Salão de Artes Plásticas, realizado a cada dois anos, e o Arte Viva, que prevê a elaboração de catálogo com obras de artistas que passaram pelo clube. Outro projeto do Volks é o lançamento do livro 42 anos de Arte e Cultura, obra que resgata por meio de fotos e textos a história do clube e de São Bernardo.
Opções de trabalho aos associados integram o mix de serviços. Cursos de corte e cabelo, culinária, decoração para festas, pintura em óleo sobre tela, trabalhos de agulhas (bordados), cartonagem em embalagens artesanais, sabonetes aromáticos e sais de banho são orientados por profissionais do Sesi e professores de artesanato.
O Volkswagen Clube também atua fortemente no desenvolvimento de ações voltadas à comunidade, abrindo as portas para creches, grupos da Terceira Idade e entidades como o Rotary promoverem eventos para arrecadar fundos. Também participa de campanhas e de ações beneficentes. Mas um momento, especialmente, Lauro Teixeira não esquece: "Uma vez uma de nossas áreas serviu à escola profissionalizante do bairro, que teve problemas e ficou interditada por uns tempos" -- recorda.
Não é só a comunidade ou o bem-estar dos associados que estão no foco. Funcionários também merecem atenção especial do alto comando do Volkswagen Clube e não apenas na cobrança de resultados. Como garantir a tranquilidade dos colaboradores significa retorno em produtividade, o clube instituiu em 1997 o CAS (Comitê de Atendimento Social), destinado a auxiliar funcionários em situações emergenciais de saúde, como tratamentos médicos que não são cobertos por plano de saúde, próteses, auxílio funeral e medicamentos, entre outros.
O CAS é integrado por esposas de diretores e conselheiros que controlam a verba do comitê e analisam os pedidos de ajuda. A receita do CAS provém de bingos, rifas, venda de lixo reciclável, doações em dinheiro e também de barracas montadas em festas promovidas pelo clube. Festas não faltam no Volkswagen Clube. Jantares-dançantes com comidas típicas, bailes e outros eventos fazem frequentemente a alegria dos pés-de-valsa.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André