O empate ontem à tarde contra o Corinthians mostrou um São Caetano diferente do que narradores e comentaristas de jornalismo de entretenimento proclamaram. O time de Pintado tem a atenuante de, como todos os demais, estar iniciando a temporada, mas não deve cair no conto do politicamente correto de gente que faz do futebol proselitismo do encantamento.
Quando a Série A do Campeonato Paulista terminar para os times médios o que vai interessar de fato é se o São Caetano vai permanecer ou não na competição. E o São Caetano do um a um de ontem não inspira confiança. Precisa melhor muito, para ser mais preciso. Nada pior que o rebaixamento à Série B, de parcos recursos financeiros dos patrocinadores.
Talvez o primeiro grande teste para valer mesmo ao São Caetano seja o jogo deste meio de semana em casa contra o Ituano, certamente o mais estável dos times médios da competição. O Ituano está há 18 anos seguidos na Série A.
Serão 90 minutos para avaliação mais prospectiva, mas mesmo assim precária. O ideal é dar algo como relativamente próximo da definição de comportamento de uma equipe o período que abrange os seis primeiros jogos, metade da competição para a maioria dos participantes.
Rodada após rodada
O grande desafio é saber até que ponto o São Caetano permitirá que se acredite em evolução técnica e tática constante até a 12ª rodada. Tenho minhas dúvidas, mas uma certeza: o time de Pintado vai fazer o que o treinador sempre faz, ou seja, marcar o tempo todo, encurtar espaços aos adversários e buscar os contragolpes em jogadas de laboratório. Seria suficiente?
Acho pouco provável que com dois veteranos em posições-chave no meio de campo o São Caetano siga de fato a cartilha recomendada por Pintado. Williams e Christian já não têm a mesma pegada de outros tempos e não parece provável que tenham capacidade de dar o ritmo a qualquer jogo que interesse taticamente ao São Caetano, como o de ontem no Itaquerão. Sem mobilidade, combatividade e tudo o mais que fôlego e músculos combinados garantem no futebol cada vez mais competitivo, dificilmente o São Caetano ganharia o controle no setor. E sem meio de campo efetivo, o resto tende a desmoronar.
É claro que ainda é muito cedo para traçar uma linha no horizonte para prospectar o que será o São Caetano no campeonato. O empate diante do Corinthians poderia ter sido um resultado melhor, porque o Azulão sofreu o gol no último lance da partida. Mas mesmo assim era uma situação mais que cantada: a maioria das bolas levantadas na área do São Caetano causou embaraços.
Há erros de posicionamento que precisam ser corrigidos, mas antecedendo a isso, está a deficiente marcação nas extremidades do campo. Triangulações corintianas por ali sempre foram incômodas. Os dois veteranos do meio de campo do São Caetano não deram conta do recado e os atacantes que jogam abertos nem sempre acompanharam os laterais alvinegros. E esse é um desafio porque a fase classificatória é uma competição de tiro curto, de um piscar de olhos.
Um outro jogo
Quem viu o jogo entre Red Bull e Palmeiras logo em seguida pode constatar a diferença entre o time de Campinas e o São Caetano. Há mais personalidade coletiva e individual dos campineiros, diante de um adversário também da elite do futebol, mas claramente acima do estágio de reformulação do Corinthians.
O que quero dizer com isso é que o São Caetano tem de manter aceso o senso crítico de que não é um empate fora de casa com um time grande que o credencia como equipe forte na competição, como sugeriram os pregadores do jornalismo de entretenimento que buscam audiência a qualquer custo.
O São Caetano maravilha que se pretendeu vender aos telespectadores não existiu. Viu-se, sim, um time defensivamente com alguma organização, embora com falhas gritantes quando o adversário apertava o cerco e imprimia mais velocidade, e um time ofensivamente frágil, com baixa letalidade.
O São Caetano precisa estar ligado numa realidade cruel que já causou estragos em equipes da região: enquanto cronistas e narradores fartos em elogios porque veem o futebol, por pior que seja o espetáculo, como um desafio a sustentar a audiência, dentro de campo o pau come.
Acreditando demais
No ano passado o Santo André acreditou que era a fina flor dos times médios depois de vencer o Corinthians e acabou rebaixamento. Carregou o inútil bônus de uma única vitória na competição. Antes, o Água Santa de Diadema goleou o Palmeiras, considerava-se igualmente imbatível e também foi rebaixado.
Se tiver a cabeça no lugar a direção do São Caetano e também a Comissão Técnica devem se precaver para não serem as próximas vítimas do endeusamento circunstancial movido pelo politicamente correto dos profissionais de mídia que têm como pressuposto dourar a pílula. O jogo com o Ituano nesta quarta-feira pode começar a revelar mais as entranhas do São Caetano. O resultado é tão importante quanto a detecção de virtudes e deficiências que podem fazer a diferença na sequência do campeonato.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André