Quem viu o milagre de sábado à noite no Estádio Anacleto Campanella e entende que futebol manda recados talvez acredite que o São Caetano encontrou uma grande motivação para escapar do rebaixamento à Série B do Campeonato Paulista. O empate de quatro a quatro com o Bragantino, depois de o primeiro tempo terminar com derrota do São Caetano por quatro a um, além de um jogador expulso, é mesmo um milagre que precisa ser comemorado, mas não pode deixar de ser ponderado.
A ponderação é que o São Caetano fez tudo para sair derrotado e só chegou ao empate porque os deuses do futebol assim o quiseram no segundo tempo. Ou seja: não foi obra de uma reviravolta tática do técnico Pintado. Tanto que os três gols do segundo tempo (e também o primeiro no primeiro tempo, em cobrança de penalidade máxima) tiveram a bola parada como origem direta ou sequencial. O campo molhado pela chuva contribuiu muito para o resultado, da mesma forma que a superação dos jogadores. Claro que também pesou o enfado do Bragantino, que já contabilizara os três pontos ao descer aos vestiários no intervalo. E quem não contabilizaria?
O milagre de sábado e a consequente motivação de enxergar o futuro próximo com mais confiança só serão mensurados para valer quando a fase classificatória terminar.
Caminhos distintos
Os cinco jogos que restam para que se completem os 12 compromissos da primeira etapa do campeonato podem significar a libertação do São Caetano das amarras que vem repetindo a cada jogo ou apenas adiariam o que parecia decidido quando o primeiro tempo do último sábado terminou? O técnico Pintado salvaria a equipe do rebaixamento que insiste em açodar o grupo?
Uma pergunta pertinente: o São Caetano de mais cinco jogos na Série A poderia ganhar nova configuração caso optasse pela contratação de um novo treinador ante o prevalecimento da lógica de uma derrota acachapante sábado à noite?
Portanto, até que ponto a salvação do emprego de Pintado por causa da reação no segundo tempo contra o Bragantino vai ajudar a livrar o São Caetano na competição ou simplesmente adiará um desenlace que parece sempre iminente, ou seja, a troca de treinador?
Quem pode negar que haveria uma contrapartida nefasta por conta do milagre, ou seja, a perpetuação de graves problemas de um comando técnico com passivo a cada nova rodada da competição?
Pressão reduzida?
Essa é uma questão que só o tempo vai responder. O jogo do final de semana diante do Guarani, em Campinas, pode colocar um ponto final nessa dualidade, mas também teria a forma de novo elástico do tempo porque o São Caetano pode sofrer menos pressão se entrar na rodada do final de semana fora da zona de rebaixamento. Basta que o Oeste vença o São Bento hoje em Barueri no último jogo da sétima rodada.
É muito difícil reunir porções de entusiasmo e acreditar no São Caetano de Pintado. O treinador insiste em escalar errado e de produzir instabilidade tática. Contra o Bragantino ele não se deixou levar pela escalação abusiva do inoperante meio-campista Christian, ex-Corinthians e futebol turco, mas, em compensação, deixou um Vinicius Kiss mais ativo e produtivo no banco de reservas ao preferir outro veterano também em fim de carreira, o volante Williams, que começou no Santo André, passou por Flamengo, Internacional e Corinthians, entre tantos outros clubes.
Além de escalação de Williams ser desastrosa em todos os sentidos, individual, técnico e coletivo, Pintado insistiu na opção do também veterano Rafael Marques como companheiro de ataque do eficiente Bruno Mezenga, formado nas categorias de base do Flamengo. Rafael Marques jogou como segundo atacante, mas muito distante da área e mal pegou na bola. Como Christian e Williams, não tem mais apetrechos para disputar uma Série A Paulista. A experiência pouco vale ante forças mais impositivas como vitalidade, agilidade e comprometimento coletivo.
Goleiro de volta
Pintado também errou ao escalar o goleiro reserva Douglas só porque o então titular Jacsson fracassou diante do Oeste de Barueri ao sofrer um gol por desatenção. Douglas virou titular, mas foi expulso no lance do segundo gol do Bragantino: cometeu falta fora da área para evitar o gol. Com isso, recebeu cartão vermelho e provocou a entrada de Jacsson que, em seguida, não evitou rebote na cobrança de falta e a bola sobrou para um novo gol do time do Interior. Jacsson poderia ter sido mantido na equipe. Quando se troca um jogador com rendimento satisfatório só porque cometeu um erro circunstancial, leva-se insegurança a todo o grupo.
Com 10 jogadores o São Caetano melhorou não só porque o adversário fez uma leitura apressada de que poderia arrefecer a marcação que a elasticidade do placar trataria de garantir os três pontos, mas também porque Williams e Rafael Marques foram substituídos. O time ganhou mais mobilidade e sempre teve em Vitinho, meia-atacante emprestado pelo Palmeiras, a demarcação de virtuosidade e aplicação tática.
A impressão final do jogo de sábado é que o São Caetano estava completíssimo, com 11 jogadores, dois a mais em relação aos 28 minutos do primeiro tempo, quando Williams e Rafael Marques vestiam azul. O técnico Pintado não pode seguir uma trilha de experimentações quando o que está em jogo é a permanência no principal campeonato regional do País.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André