O Água Santa de Diadema é um dos três representantes do Grande ABC entre os 16 integrantes da Série B do Campeonato Paulista, antiga Segundona e oficialmente Série A-2. E não é um concorrente qualquer. Após oito rodadas da fase de classificação (são 15 no total), lidera de forma avassaladora com 22 pontos em 24 disputados. Uma campanha sem paralelo neste século e que coloca a equipe praticamente na fase de mata-mata, que reunirá os oito primeiros colocados. Os 11 pontos à frente do nono colocado não são pouca coisa. Dão 50% de vantagem em produtividade.
Mas o Água Santa não é flor que se cheire tecnicamente se for considerado o aspecto de encantamento com o que se vê em campo. Afinal, é a terceira equipe que mais comete faltas na competição e, mais que isso, lidera o ranking de indisciplina com 23 cartões amarelos e três vermelhos. São dados que quebram um pouco e deslumbre com os resultados e o saldo extraordinário de 13 gols, que também lhe dá a liderança. Marcou 18 gols (melhor ataque) e sofreu apenas cinco (segunda melhor defesa).
Como no futebol o que prevalece mesmo é o que se sintetizou na frase “o que vale é bola na rede”, o Água Santa de Diadema só tem mesmo que ser invejado. Principalmente por Santo André e São Bernardo, adversários locais. Mais pelo São Bernardo, listado entre os favoritos da competição antes da primeira rodada, mas que amarga a penúltima colocação com apenas quatro pontos ganhos (ao lado do Penapolense) e, com isso, convive na incômoda zona de rebaixamento. O São Bernardo é uma das poucas equipes que cometeu mais infrações que o Água Santa até agora (138 contra 125) e recebeu 21 cartões amarelos, mas nenhum vermelho.
Média regional baixa
O Santo André também olha com inveja classificatória o representante de Diadema, porque está em nono lugar com 11 pontos ganhos, sete gols a favor, sete contra, 14 cartões amarelos, nenhum vermelho e um total de 102 faltas cometidas. Os números agregados do futebol da região não são nada entusiasmadores após as oito rodadas. Não fosse o carro-chefe do Água Santa a situação seria ainda pior. Trinte e sete pontos ganhos em 69 disputados garantem produtividade de 53,62%. Água Santa fora, são apenas 16 pontos ganhos em 48 disputados. Comportamento de zona de rebaixamento.
O que esses números revelam quando se pretende descobrir as entranhas da equipe líder da competição sem ter assistido a um jogo sequer? Significa que preciso dar um jeito de ver os próximos jogos por dois motivos intrínsecos: torço pelas equipes da região e os torcedores das equipes da região me cobram análises sobre o que se passa nos gramados.
Ainda não tive nem a curiosidade de assistir aos jogos nos meios eletrônicos, já que presencialmente tem sido cada vez mais difícil. Mas antes que me condenem, tenho explicação que talvez minimize os reparos: as primeiras seis, sete rodadas dos campeonatos estaduais são experimentos após o período de férias e as equipes ainda estão inacabadas. Precisam de reparos para a reta de chegada da fase classificatória.
O São Caetano, cujos jogos vi todos na televisão, é um caso emblemático. Até agora o técnico Pintado não acertou o time que está na zona de rebaixamento com quatro pontos ganhos em 21 disputados. Pintado já fez mil trocas e a equipe só piorou. Situação que deve ser diferente no São Bernardo após a contratação de Sérgio Soares. Nem as duas derrotas seguidas o impediriam de organizar a equipe, porque essa é a principal característica do treinador.
Sem novo abuso
Prometo que não vou cometer o abuso do ano passado, quando o São Bernardo disputou uma vaga na Série A contra o Oeste de Barueri na semifinal do mata-mata da Série B. Não tive a curiosidade profissional de acompanhar um jogo sequer, em qualquer sistema de transmissão ou nos locais. Quando chegaram os dois jogos decisivos, e antes que o primeiro fosse realizado em Barueri com transmissão de TV, decidi escrever uma análise com base nos dados estatísticos disponíveis. Sinto dizer aos leitores de estilingue em punho que desenhei um São Bernardo que se materializara nos gramados – como mostro nos links abaixo.
Não quero dizer ou pretender insinuar com isso que é dispensável ver as equipes em campo para saber como atuam, bastando, portanto, empenhar-se em destrinchar as estatísticas. Só faltaria mesmo isso para a esculhambação cientifica do futebol. O que quero dizer é que a multiplicação de dados associada à experiência ajuda bastante a mitigar eventuais erros de avaliação.
Quero dizer também que os números servem mais na medida em que não se vê futebol nos gramados, não interessa a tecnologia de comunicação a que se recorra. Entretanto, quanto mais se observa com atenção redobrada a movimentação tática e técnica das equipes em campo, mais o gerenciamento estatístico de desempenho se tornará menos relevante, embora importante. O tecnicismo é um risco estúpido quando evangelizado.
Da mesma forma que o conhecimento refratário à mineração de dados estabelece plasticidade restrita. Trocando em miúdos: é impossível entender como joga determinada equipe apenas especulando dados estatísticos, da mesma forma que ver essa mesma equipe em todos os jogos sem entender a importância de determinados quesitos banaliza as análises.
Previsão arriscada
Ainda sem dispor de informações estatísticas mais amplas e longevas do líder Água Santa (afinal, foram apenas oito jogos), diria que não se pode afirmar sem risco de cometer bobagem que a equipe de Diadema já está garantida na Série A do Campeonato Paulista do ano que vem porque supostamente seria muito melhor que as demais.
Primeiro porque sistema de mata-mata prega muitas peças. São inúmeros os casos de equipes que chegaram aos tropeços entre os oito e surpreenderam com o acesso. O mais recente caso regional foi o Santo André há três anos, quando eliminou logo na largada do mata-mata o então líder geral São Caetano. O Santos foi campeão brasileiro em 2002 depois de chegar em oitavo lugar na última rodada. E assim muitos outros casos em competições nacionais e internacionais.
Outra observação importante aos cuidados que se deve ter com o Água Santa é que o modelo de jogo que salta das planilhas nem sempre é tolerado nas fases decisivas, de arbitragens muito mais competentes. Um time que bate tanto e reclama tanto reúne potencial caudaloso para cair do cavalo quando o enquadramento disciplinar (e por consequência técnico e tático) saltar como prioridade de quem tem obrigação de colocar ordem na casa, como os árbitros.
Seguem abaixo as três matérias que produzi no ano passado sobre o São Bernardo que quase subiu para a Série A. Acho que vale a pena entender até que ponto, só até que ponto, é possível construir um time de futebol tendo por base exclusiva os números que o referenciam no campo da mineração digital.
Leiam, portanto:
26/03/2018 - Revelamos o São Bernardo que pode recuperar a vaga da região
02/04/2018 - Finalmente vi o São Bernardo que vai decidir acesso em casa
04/04/2018 - São Bernardo perde controle tático e segue fora da Série A
Total de 985 matérias | Página 1
05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André