Esportes

Quem for menos ineficiente
vai se salvar do rebaixamento

DANIEL LIMA - 25/02/2019

A salvação do São Caetano na temporada da Série A do Campeonato Paulista pode vir da redução da ineficiência, não necessariamente de possível eficiência nos quatro jogos que restam para o encerramento da principal competição estadual do País. Claro que há subjetividade a ser considerada, porque a simples execução de determinadas tarefas sem o grau de ineficiência cristalizado pode significar eficiência. O que quero dizer em suma é que mesmo ineficiente e São Caetano pode escapar da queda. 

Juntamente com Mirassol, São Bento de Sorocaba e Botafogo de Ribeirão Preto o São Caetano corre do fantasma do rebaixamento. Os dois últimos colocados na classificação geral vão conhecer o inferno da Série B. O São Caetano tem quatro pontos em 24 disputados (produtividade de 16,6%), o São Bento tem três, o Botafogo cinco e o Mirassol oito. Qualquer equipe fora dessa lista que venha a ser ameaçada de cair será surpreendente. A quase totalidade está disputando mesmo um lugar nas quartas de final. 

Junto, esse quarteto só ganhou três partidas até agora no campeonato – duas vezes o Mirassol e uma vez o Botafogo. É tão pouco quanto comprometedor. E tudo indica que a disputa seguirá dramática nas quatro rodadas que faltam. 

Vantagem temporária? 

A vantagem do Mirassol de aparentemente descolar-se do grupo de desassossegados poderá esfarelar-se na próxima rodada diante de eventual derrota para o São Caetano no Estádio Anacleto Campanella. 

Aliás, essa é condição decisiva para o São Caetano dividir o fardo de inquietação, porque é o chamado confronto de seis pontos. O Botafogo jogará fora de casa com uma Ponte Preta que busca chegar ao mata-mata e o São Bento enfrenta o Corinthians em Sorocaba. Tradução: uma rodada que poderá ser aliviadora ao São Caetano, que sairia temporariamente da zona de rebaixamento. E partiria para dois jogos no Interior nas rodadas seguintes, contra o Novorizontino e a Ferroviária. Uma tabela como essa é um convite inadiável à queda. 

Um dos pesos ponderados que devem ser levados em conta nessa reta de chegada para os clubes que fogem do rebaixamento é tanto a ordem de jogos como os enfrentamentos com os times grandes e os confrontos diretos, além dos confrontos com equipes concorrentes à próxima etapa. Tudo isso junto e misturado ferve o caldeirão de probabilidades.

Cada uma das quatro equipes ameaçadas de rebaixamento vai enfrentar um dos chamados grandes: o São Bento contra o Corinthians, o São Caetano contra o São Paulo, o Botafogo contra o Santos e o Mirassol contra o Palmeiras. Todas como mandantes.  

Também essas quatro equipes jogarão duas partidas em casa e duas fora. Confrontos diretos apenas dois: do São Caetano contra o Mirassol e do Mirassol contra o Botafogo. 

Rodada derradeira 

A última rodada poderá ter influência decisiva na classificação final. O São Caetano enfrenta um São Paulo que poderá precisar de pontos para chegar ao mata-mata. O Botafogo joga em casa com um Santos que poderá precisar dos pontos para chegar em primeiro lugar na classificação geral e, com isso, levar vantagem nas fases seguintes. 

O contrário também é verdadeiro e inverso: um Santos previamente campeão da fase classificatória pode relaxar na rodada final.  O São Bento jogará em casa com um Bragantino que também pode estar de olho no mata-mata. E o Mirassol joga em Barueri com um Oeste que, igualmente, está lutando para chegar às quartas de final. 

Aparentemente, São Caetano e Mirassol terão maiores problemas se não livrarem vantagem nos próximos três jogos. Enfrentar time grande na última rodada não é nada bom. 

Chance de Gol 

Para a direção do site “Chance de Gol”, que produz série de ponderações para definir probabilidades de quem sobe e de quem desce e de outros indicadores de campeonatos diversos, o São Caetano divide com o São Bento as maiores possibilidades de queda à Série B. O time da região teria 69% de probabilidade de rebaixamento, contra 77,5% do São Bento, 44,3% do Botafogo e apenas 8,4% do Mirassol. 

Os números do Chance de Gol costumam e devem oscilar a cada rodada, conforme o andar da carruagem dos resultados. Aparentemente o índice de risco do Mirassol está aquém do que se vê em campo e dos jogos que restam. Certamente haverá aumento em caso de derrota contra o São Caetano, com consequente redução do índice do time da região. 

Em situações como a de rebaixamento, nas quais os times mais erram que acertam, tudo é possível. O São Caetano só precisa errar menos que os concorrentes diretos. 

Derrota explicável

Não há resultado de futebol que não tenha explicações. Nada é por acaso, por mais que o imponderável entre em campo. O São Caetano que perdeu de virada do Guarani em Campinas na noite de sábado por dois a um jogou fora no terço final do jogo o que tanto fez de bom nos dois terços anteriores. Mas não se pode desconsiderar os méritos do Guarani, que reverteu o controle tático do São Caetano no primeiro tempo e soube explorar as deficiências do adversário. 

Quando o primeiro tempo virou com o São Caetano em vantagem no placar por um a zero o time da casa estava desnorteado dentro e fora de campo. A torcida pressionava e os jogadores não se organizavam diante da argamassa defensiva montada pelo técnico Pintado. Três volantes (Vinícius Kiss, Ferreira e Pablo), dois atacantes rápidos flutuando no ataque (Vitinho e Minho) e um centroavante suficientemente habilidoso para servir de amparo aos contragolpes e à posse de bola levaram o Guarani ao desespero de ter a bola e não contar com o domínio tático. O São Caetano fechava-se e contra-atacava inclusive com a liberação de dois dos três volantes. 

Tudo começou a mudar no segundo tempo, antes mesmo de Ferreira, um dos melhores em campo, sair contundido e ser substituído pelo veterano Esley. O Guarani descobriu o óbvio em situação de clausura de espaços: libertou mais os laterais, aproximou os meias das extremidades e passou a cruzar na área. O gol de empate saiu assim, em cruzamento em diagonal da direita para o complemento de cabeça na pequena área; e o desempate de um lançamento vertical à esquerda e às costas do zagueiro Joécio, seguido de cruzamento da linha de fundo e um adversário desviando às próprias redes na pequena área. 

Oscilação demais 

À parte as virtudes de uma equipe que tem calendário anual e disputa a Série B do Campeonato Brasileiro, o São Caetano de Pintado poderia ter feito mais. Os últimos 25 minutos foram de descontrole emocional, técnico e tático. Como nos jogos anteriores. Há uma linha tênue demais que leva o São Caetano da eficiência ao desastre num piscar de olhos. 

O que temos como representante da região na principal competição estadual do País é um time sem personalidade. Qualquer vetor fora de eventual normalidade impacta o grupo. Há uma insegurança generalizada. A solidez tática raramente vista como no jogo em Campinas desmancha-se diante de uma troca inesperada e, principalmente, ante reação do adversário. 

Deixar que os laterais do Guarani apoiassem durante o segundo tempo todo sem encontrar obstáculos dos atacantes Minho e Vitinho, frouxos no acompanhamento das jogadas, é um erro crasso num futebol cada vez mais múltiplo em funções táticas individuais. 

Mesmo a substituição de Ferreira por Esley poderia ter sido evitada. Um terceiro zagueiro talvez fosse a melhor saída ante os constantes cruzamentos. O zagueiro Joécio falhou nos dois gols do Guarani, o primeiro por não se antecipar à cabeçada do adversário e o segundo por dar um passo em falso e colocar um atacante em plena liberdade para dominar e avançar. 

Reforçando defesa

Quem acha que seria um exagero substituir um terceiro volante contundido por um terceiro zagueiro poderia ter assistido ao jogo de ontem do São Paulo diante do Red Bull. O estágio de irregularidades do São Paulo levou o técnico Mancini a escalar um sistema defensivo forte que começou com a escolha de três zagueiros protegidos por meio-campistas defensivos. 

A reincidência do técnico Pintado em ver o São Caetano estrebuchar ao longo de cada partida sem interromper o circuito de desajustes é uma obra acabada. Em três dos oito jogos disputados o São Caetano saiu com vantagem no placar e não sustentou os três pontos. Contraria com isso as estatísticas que assinalam 70% de possibilidades de vitória de quem sai na frente no placar. 

O São Caetano ainda não ganhou um jogo no campeonato e, pior que isso, nem definiu um time que possa ser chamado de titular. O melhor grupo foi justamente contra o Guarani. Mas não se pode deixar de levar em conta que cada jogo tem dois tempos e entre um tempo e outro muita coisa pode acontecer. E mesmo uma aparentemente simples substituição na etapa final deve ser monitorada com atenção. O Guarani não ganhou por acaso. Nem o São Caetano perdeu também por acaso. 



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