A vitória de dois a zero contra o Mirassol na noite de sexta-feira (e os resultados combinados de equipes igualmente ameaçadas) manteve a porta de esperança ao São Caetano na Série A do Campeonato Paulista. Entenda-se porta da esperança como o propósito de livrar-se do rebaixamento, reservado aos dois últimos colocados. O Botafogo de Ribeirão Preto e o São Bento de Sorocaba podem ser mesmo a salvação da lavoura, mas o Mirassol também segue na lista de ameaçados.
Quando vistos os resultados dos jogos da semana do Carnaval, o São Caetano só tem a comemorar. Afinal, ganhou oito pontos numa contagem heterodoxa para quem pouco entende das nuances do futebol. Como oito pontos? Três da vitória direta contra o Mirassol, dois que foram perdidos pelo São Bento no empate com o Corinthians e três perdidos pelo Botafogo na derrota em Campinas para a Ponte Preta. É assim que funciona a matemática do rebaixamento. Uma nova rodada nestes termos praticamente colocaria o São Caetano a salvo. Quem sabe não seja a próxima?
O problema do São Caetano na reta de chegada dos três últimos jogos é que se confirmou a profecia: a tabela da Federação Paulista de Futebol tem peso sobressalente extraordinário. O São Caetano precisa superar as próprias limitações para escapar da queda.
No link logo abaixo deste texto está à disposição dos leitores a análise que preparei em 28 de novembro do ano passado, quando tomei conhecimento da tabela do campeonato. Ali está em detalhes, sob o título “Mostramos melhor caminho para o São Caetano resistir”, o que se prenunciava para o único representante da região na Primeira Divisão de São Paulo. A situação só não é mais grave porque o São Caetano encontrou parceiros de infortúnio classificatório com pontuação também comprometida.
Nada de choradeira
Não há sequência de jogos mais complexa entre os quatro times que fogem do rebaixamento do que a do São Caetano. Ou alguém acha que é fácil enfrentar dois adversários seguidos no Interior do Estado (Novorizontino e Ferroviária) e, na última rodada, mandar um jogo desigual com o São Paulo, também em busca de classificação. Pois é isso que se oferece ao São Caetano que tem sete pontos ganhos, uma vitória (primeiro critério de desempate) e saldo negativo de seis gols. Não se deve esquecer que tanto Novorizontino quanto Ferroviária estão disputando um lugar na fase de mata-mata, o que torna os jogos do São Caetano ainda mais hostis.
Os três pontos de vantagem do São Caetano sobre os dois últimos colocados não podem ser subestimados nessa reta de chegada, mas não é tudo porque ainda há nove pontos em disputa.
Os concorrentes
O São Bento de Sorocaba tem quatro pontos ganhos, nenhuma vitória e saldo negativo de nove gols. Agora sob o comando do técnico Silas, mostrou reação contra o Corinthians no final de semana no empate de um a um. A tabela do São Bento é bem menos desgastante do que a do São Caetano: pela ordem, jogará em casa com a Ponte Preta (ameaçadíssima de não chegar ao mata-mata), visita o quase classificado Red Bull em Campinas e encerra participação em casa diante de um Bragantino, que disputa uma vaga ao mata-mata com a Ferroviária e o Corinthians.
Também com quatro pontos ganhos, uma vitória e saldo negativo de cinco gols, o Botafogo de Ribeirão Preto também tem uma tabela menos indigesta que a do São Caetano: joga na próxima rodada em casa com o Bragantino, visita o que poderá estar ameaçadíssimo Mirassol e encerra a disputa em casa diante de um Santos já classificado e quase garantido como a melhor campanha, situação que poderia afrouxar o ritmo do jogo. No caso do confronto direto com o Mirassol, quarta força ao rebaixamento, a sorte do Botafogo pode depender do resultado que a equipe terá na próxima rodada com o Palmeiras. Se perder ou mesmo empatar o Mirassol entra definitivamente na zona de turbulência mais aguda.
O Mirassol tem oito pontos ganhos, duas vitórias e saldo negativo de nove gols. A pontuação acumulada alivia um pouco a barra, mas há necessidade de somar supostamente outros três pontos. O confronto com o Palmeiras é uma roubada, o enfrentamento como mandante contra o Botafogo poderá ser decisivo (viram que são dois jogos seguidos em casa na reta de chegada?) e, se mesmo assim, não se livrar da ameaça de queda, enfrenta o Oeste. O maior interesse do time de Barueri pelos três pontos vai depender da possibilidade de chegar ao mata-mata, hoje bastante possível.
Tabela desestabilizadora
Erra quem entender que a força do destino colocou o São Caetano em situação de desvantagem nas três rodadas finais do campeonato, em comparação aos concorrentes mais diretos ao rebaixamento. A tabela do campeonato previamente condenada explica tudo isso, independentemente do desempenho da equipe de Pintado numa série de oito jogos com quatro empates e quatro derrotas, até que vencesse o Mirassol.
Para reforçar a natureza da crítica à tabela como uma caçapa cantada sem qualquer resquício de bairrismo ou clubismo, é preciso levar em conta que um desastre chama o outro quando a ordem de jogos é um convite ao caos.
Estrear contra um time grande (Corinthians) fora de casa, enfrentar o campeão brasileiro Palmeiras na terceira rodada como mandante praticamente inútil e, para completar, nas duas rodadas seguintes jogar como visitante, compõem uma sequência encaminhadora à destruição de estabilidade técnica e tática fundamental no pós-férias. Nenhuma outra equipe entre as 16 da competição contou com esse perfil de adversários nas primeiras cinco rodadas.
Estabilidade e vitória
Pela primeira vez na competição o São Caetano jogou quase todo o tempo sem cometer um dos pecados capitais do futebol: manteve a estabilidade tática e a produção técnica em nível suficiente para não passar aperto demais diante do adversário.
Mesmo quando foi inferior ao Mirassol, durante quase todo o primeiro tempo, o São Caetano não deixou o adversário pressionar a ponto de ameaçar o gol. Depois que fez um gol, no fim do primeiro tempo, o São Caetano ganhou a autoconfiança de que tanto precisava e fez um segundo tempo bem melhor.
Vitinho, o meia atacante emprestado pelo Palmeiras, marcou os dois gols e foi o dono do jogo também pelo conjunto da obra: ele fez do meio de campo e do ataque espaços onde a criatividade, o dinamismo, a precisão e a objetividade definiram a diferença.
O que leva a sugerir que o São Caetano pode escapar do rebaixamento é a possibilidade de ganhar mais força psicológica. Um time abalado com série de maus resultados é um time sem confiança, sem iniciativa. O São Caetano ganhou duplamente na última rodada porque não só venceu pela primeira vez como saiu da zona de rebaixamento. Entrar nos vestiários e o quadro de resultados e classificação registrar uma colocação em azul é sempre um aditivo que pode fazer a diferença na sequência do campeonato.
O que diferenciou o São Caetano da vitória contra o Mirassol dos jogos anteriores, em alguns pontos importantes, é que o técnico Pintado não mexeu demais na equipe: atuou com dois volantes (Vinícius Kiss e Pablo), com Vitinho solto para armar e atacar, com dois atacantes (Diego Rosa e Minho) abertos em velocidade e um centroavante (Bruno Mezenga) sempre em busca de espaço para se oferecer às tabelas e às finalizações. Os veteranos ficaram no banco de reservas. Christian, Willians e Rafael Marques foram utilizados na maioria dos jogos sem que os resultados tenham sido satisfatórios. Somente a crônica esportiva viciada em estrelas que se apagam pareceu sentir saudade deles.
Além disso, o São Caetano contou com sistema defensivo mais atento, com todos contribuindo ao fechamento de espaços a partir do meio de campo. Poucos foram os descuidos de marcação e cobertura.
O Mirassol correu demais no primeiro tempo, marcou forte no campo adversário, mas sentiu o golpe do gol quando o primeiro tempo estava para acabar. No segundo tempo o Mirassol só controlou o jogo nos últimos 20 minutos, mas sem grandes transtornos. Pintado trocou um dos volantes (Pablo) por um terceiro zagueiro. Medida acertada, mas poderia ter sacado o centroavante Bruno Mezenga, mais esgotado fisicamente e pouco útil nas tentativas de contragolpes, porque de pouca velocidade.
Leiam, portanto:
Mostramos melhor caminho para o São Caetano resistir
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