Esportes

Só ganhamos quatro pontos
em nove e vamos sofrer muito

DANIEL LIMA - 18/03/2019

Não ganhamos os indispensáveis nove pontos nos três jogos das rodadas da Série A e da Série B do Campeonato Paulista e agora a situação ficou mais complicada para o São Caetano e o Santo André, mas melhorou para o São Bernardo. O Água Santa de Diadema também só tem a lamentar. 

No clássico pela Série B o São Bernardo venceu em casa o Água Santa por três a um, enquanto o Santo André, no mesmo horário, sábado à tarde, empatou em casa por dois a dois com o Atibaia. O São Caetano, pela Série A, perdeu por dois a zero para a Ferroviária em Araraquara na sexta-feira à noite. 

Ganhamos, portanto, quatro pontos em nove possíveis e necessários. É muito pouco. Tanto que o Água Santa pode perder hoje à noite no complemento da rodada a liderança da fase classificatória para o XV de Piracicaba, que tem dois pontos a menos (25 a 23) e joga em casa com o Juventus, quinto colocado. Já o Santo André segue fora do G-8, limite classificatório a assegurar vaga no mata-mata da Série B. 

O São Caetano é o vice-lanterna na classificação geral da Série A, mas não pode chorar o leite derramado. O empate de ontem à noite entre Mirassol e Botafogo de Ribeirão Preto por um a um também mantêm essas duas equipes ameaçadas de rebaixamento. Quem vencesse, portanto, já estaria respirando aliviado. 

Situação é dramática 

De qualquer forma, a situação do São Caetano na Série A é dramática: na última rodada da fase classificatória, nesta quarta-feira à noite, precisa ganhar pelo menos cinco pontos em disputa: obrigatoriamente os três no confronto direto no Estádio Anacleto Campanella contra o São Paulo e dois como consequência de no máximo um empate do Botafogo em Ribeirão Preto diante do Santos. Com essa combinação de resultados, o São Caetano somaria 10 pontos e o Botafogo nove. 

O São Caetano também permanecerá na Série A, desde que vença o São Paulo e mesmo com eventual vitória do Botafogo contra o Santos. Nesse caso precisará de seis pontos na rodada decisiva: os três diante do São Paulo e outros três de um dos dois jogos conexos. 

O primeiro do Mirassol que precisaria perder em Barueri para o Oeste (que luta por uma vaga nas quartas de final com o São Paulo); e o segundo da pouco provável derrota do Bragantino em Sorocaba diante do São Bento já rebaixado. 

Mirassol e Bragantino têm10 pontos ganhos cada (três, portanto, a mais que o São Caetano) e teriam o mesmo número de vitórias do São Caetano (duas em caso de superar o São Paulo). O critério de desempate seria o saldo de gols. O São Caetano levaria vantagem porque tem déficit de nove, mesmo número dos dois concorrentes ao rebaixamento.  

Saindo do atoleiro? 

Agora com nove pontos ganhos na Série B, o São Bernardo segue na última colocação, mas está a apenas um ponto do vice lanterna Penapolense, a dois da Portuguesa de Desportos e a três do Nacional da Capital. Essas são as equipes mais ameaçadas de rebaixamento ao faltarem três rodadas para o encerramento da etapa. O São Bernardo fará dois desses jogos em casa contra Linense e Penapolense, na rodada final. Um confronto direto que poderá ser decisivo. 

Já o Santo André está em nono lugar na classificação com 14 pontos ganhos, mesma pontuação do Taubaté, oitavo colocado por ter uma vitória a mais. O Santo André vai jogar duas vezes como visitante nas próximas rodadas e encerra participação em casa diante da Portuguesa. A equipe da região ainda respira o mata-mata, mas não está livre da ameaça de rebaixamento. Faltam 12 pontos a disputar em três rodadas e a diferença de quatro pontos em relação ao Penapolense, penúltimo colocado, não é nada confortável.

O Água Santa de Diadema poder perder a liderança para o XV de Piracicaba nesta noite. Líder disparado até recentemente, a diferença tornou-se escassa nas últimas rodadas com três derrotas do time de Diadema. A Portuguesa Santista também tem 23 pontos, como o XV de Piracicaba, e pode chegar em primeiro. 

Peso dos técnicos 

Os insensatos que ainda repetem como matracas que técnicos não ganham jogo ou que técnicos só perdem jogo, tiveram na derrota do São Caetano para a Ferroviária e na vitória do São Bernardo diante do Água Santa provas provadas de que são mesmo insensatos. 

O técnico Sérgio Soares preparou o São Bernardo de acordo com o que o Água Santa se tornaria um freguês de ocasião.

Pintado não preparou nada diferente que explorasse taticamente o adversário. Mais que isso: não soube explorar o contexto ambiental do jogo em Araraquara. 

Pintado escalou provavelmente o São Caetano mais compatível com o elenco de que dispõe para o jogo em Araraquara, mas não evitou a derrota. Pesou sobremodo a organização do adversário, um dos classificados às quartas de final da Série A do Campeonato Paulista. 

A Ferroviária conta com algo que pode ser chamado de produtividade coletiva. A engrenagem funciona de tal maneira que poucos passes são suficientes para uma jogada se desenhar eficiente. As individualidades da Ferroviária não têm o mesmo tamanho do coletivismo, mas uma coisa alimenta a outra e o resultado final é positivo. 

Engrenagem enferrujada 

Já o São Caetano que Pintado não conseguiu organizar coletivamente, mesmo estando à frente do elenco há bastante tempo, sempre precisava de um toque a mais, quando não dois ou três, para ensaiar um arranjo coletivo mais apropriado em Araraquara. 

A essa diferença de desempenho se dá no futebol o nome de entrosamento. O São Caetano de Pintado é um time de baixa densidade sistêmica técnica e tática. Os setores não se comunicam a contento. A engrenagem parece enferrujada. 

A Ferroviária é leve, criativa e reducionista no sentido de que simplificação é sinônimo de objetividade. 

Enfrentar uma Ferroviária que ao entrar em campo já estava classificada à próxima etapa (o Bragantino perdera para o Ituano por três a zero) era tudo o que o São Caetano poderia desejar para fazer do jogo algo que não fosse excessivamente arriscado. 

Ganhar era importante? Claro que sim. Mas um ponto a mais na classificação seria bem-vindo porque jogaria mais responsabilidade nas costas do Mirassol e do Botafogo, que se enfrentariam 48 horas depois. 

O erro conceitual do São Caetano foi aumentar a temperatura ambiental. Em vez de trabalhar com tempo na domesticação emocional do adversário, preferiu um espirito de guerra que, mimetizado pela Ferroviária, levou o jogo a uma temperatura desnecessariamente alta. O time da casa, mais habilitado, passou a encarar os três pontos como decisivos. E só poderia mesmo ganhá-los. 

Errando de novo 

Mais uma vez o técnico Pintado cometeu equivoco técnico-tático. Quando, no segundo tempo, passou Vitinho à extremidade direita do ataque e colocou Rafael Marques como segundo atacante por dentro, o São Caetano perdeu o equilíbrio do meio de campo. 

A equipe de Pintado já perdia por dois a zero (o primeiro gol foi no primeiro tempo e o segundo no início do segundo), mas parecia reagir. Dava sinais vitais. Com Vitinho, o único meia-atacante com talento no elenco, deslocado a uma função inútil (entre outras razões porque o lateral Alex Reinaldo atropela quem ocupa aquela faixa de gramado), o São Caetano virou presa fácil. 

A Ferroviária passou a dominar o meio de campo e a engatar contragolpes atrás de contragolpes. Faltou pouco para o São Caetano ver deteriorado ainda mais o saldo negativo de gols, que pode decidir o rebaixamento.

Nó de Sérgio Soares 

Na tarde seguinte no Estádio Primeiro de Maio, em São Bernardo, o técnico Sérgio Soares finalmente viu sua equipe conquistar a primeira vitória na Série B. Reconhecidamente um organizador de equipes, Sérgio Soares chegou ao São Bernardo quando já se haviam passado várias rodadas e os resultados não vieram. Nem poderiam vir. 

Mesmo com todo o talento de arrumador tático, Sergio Soares conta com uma equipe em que saltam à vista alguns valores tecnicamente aquém de sonhos maiores. E, mais que isso, todos traumatizados com a situação no campeonato. A falta de confiança transforma motivação em precipitação, serenidade em obsessão, tranquilidade em afoiteza. 

O São Bernardo ganhou do então líder Água Santa por três a um num dos clássicos da região porque se preparou para isso. Os dois a zero ao fim do primeiro tempo foram obra de treinamento específico, de jogada de laboratório. 

Contragolpes de laboratório

Ao estudar o adversário, Sérgio Soares constatou que só contava com uma arma para chegar à vitória: aproveitar o sempre adiantado posicionamento dos zagueiros, e as saídas constantes dos laterais ao ataque, para engrenar contragolpes mortais em bolas longas, principalmente em diagonal. Contava para tanto com dois atacantes velozes, casos de Ermínio e Felipe Fumaça. Das quatro oportunidades criadas no primeiro tempo, duas terminaram nas redes. 

Numa linguagem muito específica do futebol, o que Sérgio Soares fez com o técnico do Água Santa, Márcio Ribeiro, foi um nó tático, um banho tático, qualquer coisa que tenha o mesmo significado. 

Ganhar um clássico de temperatura elevada, com chuva de cartões amarelos, deverá colocar o São Bernardo em patamar psicológico que o livraria do rebaixamento ainda ameaçador. Faltam nove pontos apenas para o encerramento da fase classificatória, seis dos quais em casa. A perspectiva de sucesso não poderia ser melhor. 

Água é time forte 

A derrota não retira do Água Santa a rota de acesso à Série A da qual o São Caetano poderá ser expurgado neste meio de semana. O time de Diadema é bem organizado, tem talentos individuais, sabe dissuadir a pressão do adversário, comete faltas táticas providenciais; enfim, é um time forte para o nível da Série B. E joga um futebol que faz bem aos olhos, porque valoriza a posse de bola, as penetrações nas costas dos laterais e dos zagueiros, e tudo o mais que se recomenda para não se ficar preso a uma única jogada. 

O Água Santa só tem um calcanhar de Aquiles, cujos efeitos danosos procurou minimizar no segundo tempo do clássico em São Bernardo quando o sistema defensivo foi mais comedido nos avanços e nas coberturas: a lentidão dos zagueiros de área nos confrontos em que velocidade e ocupação de espaço na disputa com atacantes rápidos passa a ser um tormento. 

O São Bernardo fez um favor ao Água Santa no jogo de sábado: ensinou sem graves transtornos, exceto a possibilidade de perda da liderança no campeonato, o que poderá ser fatal nos mata-matas. Ou seja: a obra coletiva bem elaborada pelo técnico Márcio Ribeiro revelou um buraco imenso que os adversários poderão explorar tanto quanto o descobridor de sete mares Sérgio Soares. 



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