A noite desta quarta-feira pode marcar um novo trauma para o São Caetano, único representante da região na Série A do Campeonato Paulista. Mas também pode significar a redenção depois de uma jornada de muitos erros. Ganhar do São Paulo no Estádio Anacleto Campanella é a alternativa principal que espera pelo time de Pintado. E mesmo assim a meta de fugir do rebaixamento dependerá de um de três resultados conjugados. O confronto em Barueri entre Oeste e Mirassol é o mais emblemático porque também interessa de perto ao São Paulo.
É principalmente a combinação de resultados desses dois jogos (e de outros dois) que levou o site Chance de Gol a prognosticar que o São Caetano tem 81,1% de possibilidades de juntar-se ao São Bento de Sorocaba, já rebaixado à Série B do ano que vem.
Está certo que a tarefa é dificílima, porque do outro lado, mesmo em crise, está o São Paulo que luta para chegar às quartas de final do campeonato. Ou seja: a tabela do campeonato que por si só já era frontalmente rigorosa com o São Caetano, tornou-se desafiadora no último compromisso da fase de classificação.
Tabela e treinador
Começar o campeonato contra um time grande (Corinthians) fora de casa e encerrar em casa com outro time grande (São Paulo) é exemplar único na tabela do campeonato. Outras armadilhas da ordem dos jogos também influenciaram a autoestima da equipe. Mas o ônus maior mesmo cabe ao técnico Pintado. Ele não soube lidar com as dificuldades mais que previstas.
O volante campeão mundial pelo São Paulo em 1992 só reduziria a pena que se lhe impõe, de não dar à equipe a competitividade esperada, se passar pelo ex-clube nesta noite e ganhar de presente pelo menos um ponto do Oeste em casa contra o Mirassol, ou uma derrota do Bragantino em Sorocaba diante do rebaixado São Bento ou ainda uma derrota do Botafogo em casa contra o Santos.
Para fugir do rebaixamento o São Caetano precisa jogar o que não jogou até agora. Faltou à equipe uma série de atributos. O sistema defensivo erra demais nas bolas cruzadas tanto em diagonal quanto da linha de fundo. O meio de campo só ganha vitalidade, força e boas arremetidas ao campo adversário quanto tem Vinicius Kiss, Ferreira, Pablo e Vitinho. Mas raramente o treinador utilizou esse quarteto. Ao menos um ou frequentemente dois ficaram fora do time.
Pintado prefere jogar com dois atacantes abertos e um centroavante entre os zagueiros. Os laterais também arremetem rumo ao campo adversário. Ou seja: o São Caetano de Pintado jamais foi um time defensivo, mas poderia ter sido quando as circunstâncias assim o exigiram. Preparar contragolpes não é pecado. Exceto se o treinador conta com craques consagrados e exagerar na dose.
Nos dois jogos seguidos no Interior, contra Novorizontino e Ferroviária, o São Caetano poderia ter sido mais cauteloso e, ao mesmo tempo, mais agudo ofensivamente. Bastaria fechar os espaços defensivos e explorar contra-ataques em velocidade combinada com posse de bola e aproximação.
Antes, diante do Guarani, em vantagem no placar, viu a equipe de Campinas voltar melhor no segundo tempo e virar o jogo usando as extremidades do campo com cruzamentos seguidos. Um terceiro zagueiro substituindo a Ferreira que saiu machucado poderia ter reforçado a bola aérea defensiva.
Esse breve desfile de erros do São Caetano (outros tantos poderiam ser apontados porque foi um festival na competição) pode ser pedagógico nessa rodada final. Uma avaliação criteriosa do técnico Pintado poderá resultar na escalação de um time que feche os espaços para um São Paulo pouco criativo, mas forte nas bolas aéreas e, em seguida, explore a velocidade.
Criar condições para que Vitinho jogue mais solto e faça a ligação rápida e fluente no último terço do gramado, quando não se transforme em potencial goleador, porque chuta forte, seria uma prova de atenção do treinador.
180 minutos simultâneos
O que quero dizer é que, diferentemente do comportamento nos dois últimos jogos no Interior, mesmo que as circunstâncias sejam outras, o São Caetano tem de atuar durante determinado período do jogo para evitar gol do adversário. Mais que isso: deve deixar o jogo correr em paralelo com o resultado de Oeste e Mirassol em Barueri. Esses confrontos têm 180 minutos simultâneos. Dependendo das circunstâncias, o São Caetano pode beneficiar-se do que se passa em Barueri.
Isso quer dizer que tanto pode explorar o desespero do São Paulo diante de uma vitória parcial do Oeste como também de certa distensão do São Paulo diante de derrota parcial do mesmo Oeste.
O que não se permitiria ao São Caetano é entregar de bandeja a possibilidade de, reconhecendo-se com os pés na cova do rebaixamento, não buscar uma saída circunstancial que os resultados combinados podem oferecer. E essa saída não está em seus pés apenas. Só não pode ser atirada no lixo como se não houvesse um jogo jogado a poucos quilômetros de distância.
Dois terços estratégicos
Voltar ao 13 de abril de 2013, quando foi rebaixado à Série B do Campeonato Paulista, da qual só saiu quatro anos depois, seria um desastre ao São Caetano. Isso parece delineado sem retoques. E exatamente por faltarem retoques emerge a esperança de que o infortúnio possa ser evitado.
Escalar um time forte na marcação, rápido no contragolpe e com a devida parcimônia para entender a mecânica de jogos cruzados – eis a lição básica que Pintado precisa exercitar.
Dessa forma, dois terços do jogo desta noite com o São Paulo precisam preliminarmente ser de inteligência tática e emocional. O terço seguinte e final, caso se apresente desafiador a uma nova postura, poderia ser diferente. Tanto para defender eventual manutenção na competição porque a soma dos dois jogos seria favorável, quanto para radicalizar em torno do perdido por um, perdido por dez.
Desespero do outro lado
O São Caetano precisa entender que há um time mais desesperado quando o árbitro der o pontapé inicial. O São Paulo flerta com o vexame de não chegar às quartas de final. A pressão da torcida em forma de desequilíbrio em campo será apenas questão de tempo.
O último terço do jogo é a travessia da ponte para o São Caetano. Mas para tanto precisa chegar lá em condições de escolher o que mais será interessante. Evidentemente sem desgrudar olhos e ouvidos dos outros jogos que também podem influenciar no rebaixamento.
O que o técnico Pintado preferiria no terço decisivo do jogo? Um São Paulo em desespero com a combinação de resultados, um São Paulo tenso porque os resultados combinados ainda não oferecem respostas ou um São Paulo que contabiliza eventual vitória do Mirassol diante do Oeste como placar conjugado e, portanto, cometa o pecado de relaxar?
Pintado precisa definir bem antes do jogo o que fará diante dessas circunstâncias.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André