Esportes

São Caetano joga futebol
de Série A, mas é rebaixado

DANIEL LIMA - 21/03/2019

O São Caetano que empatou ontem à noite de um a um com o São Paulo mostrou futebol de time médio da Série A do Campeonato Paulista. Mas o conjunto da obra de 12 jogos da fase classificatória prevaleceu: a equipe vai disputar a Série B na próxima temporada. 

Restou ao São Caetano uma dura lição: o principal campeonato estadual do País não permite falhas de planejamento e tampouco de execução. Quem comete menos equívocos entre os times com probabilidades de cair acaba se salvando. Não foi o caso do São Caetano.

Mas também ficou a imagem de que o time do técnico Pintado se despediu da competição com dignidade, porque merecia ganhar o jogo e, com isso, na combinação de resultados, fugiria do rebaixamento. 

O Estádio Anacleto Campanella viu ontem à noite o São Caetano definitivamente acertar na formulação de um sistema tático mais equilibrado. O técnico Pintado optou finalmente por três volantes para começar o jogo (Esley entrou e executou à função à direita, impedindo os avanços do lateral Reinaldo, um dos pontos fortes do São Paulo) e só soltou a equipe no segundo tempo quando precisava decidir a sorte porque os resultados conexos assim o exigiam. 

Sempre na zona 

Em nenhum instante dos 90 minutos do jogo de ontem à noite o São Caetano saiu da zona de rebaixamento à Série B. A cronologia dos resultados não favoreceu a equipe da região a respirar relativamente aliviada um segundo sequer. Afinal, o princípio básico seria estar em vantagem no placar diante do São Paulo e, complementarmente, contar com um dos três resultados adicionais. 

O São Caetano só não conseguiu vantagem no primeiro tempo, quando foi muito melhor que o adversário, porque desperdiçou seguidamente três oportunidades de ouro em seis minutos, entre 20 e 30 minutos. Em jogo de tamanha importância não se pode errar tanto. 

Entretanto, mesmo se, naquela altura do jogo, o São Caetano estivesse à frente no placar, permaneceria na zona de rebaixamento. A combinação dos resultados envolvendo outras três equipes ameaçadas (Mirassol em Barueri contra o Oeste, Bragantino em Sorocaba contra o São Bento e Botafogo em Ribeirão Preto contra o Santos) não dava o devido encaixe. 

No caso do Botafogo, logo aos dois minutos o Santos começou a sofrer goleada de quatro a zero. Restava ao São Caetano vencer o São Paulo e fixar olhos e mente nos dois outros concorrentes. 

O clarão para fugir da queda se abriu quando o Bragantino sofreu gol em Sorocaba (e acabou perdendo mesmo de um a zero). Mas aí o São Caetano já estava em desvantagem no placar. 

Empate demorado 

Exceto nos primeiros 20 minutos do segundo tempo, o São Caetano foi sempre superior ao São Paulo. Com marcação forte, saídas rápidas ao campo de ataque e redução de espaços por dentro, embora às vezes descuidada nas extremidades, o São Caetano exumava as limitações do São Paulo. 

Mas foi justamente no período em que o São Paulo trocou lançamentos por troca de passes e rapidez nas ultrapassagens, graças às substituições do técnico Wagner Mancini, que o São Caetano, desajustado na marcação, sofreu o gol, num chute que desviou levemente no lateral Capa e enganou o goleiro. 

O São Caetano reagiu mas demorou para empatar o jogo, aos 40 minutos, num chute forte e cruzado de Pablo de fora da área. Os minutos finais foram dramáticos, sempre com o São Caetano no ataque. A vitória do São Caetano teria salvado a lavoura e não comprometeria a participação do São Paulo na fase de mata-mata, porque o Oeste, que o ameaçava, não passou de empate em casa com o Mirassol. 

A exibição de time de Série A contra o São Paulo mostrou que o São Caetano poderia ter se mantido entre as principais 16 equipes do futebol paulista. Entretanto, a demora em definir a equipe e, mais que isso, em acertar na definição da equipe, retardou o coletivismo e abriu brechas às derrotas. Apenas uma vitória em 12 jogos, oito pontos ganhos, é muito pouco para um time que contou com um elenco que permitia variáveis de acordo com cada adversário. Como ontem à noite. 

O erro crasso do técnico Pintado foi não ter percebido que numa competição de tiro curto como é a Série A do Campeonato Paulista, e levando-se em conta a formação do elenco praticamente às vésperas da competição, o melhor mesmo é a arrumação defensiva. Exatamente como no jogo de ontem. 

Tabela amenizada 

Está certo que a tabela do campeonato, já explorada neste espaço, contribuiu para o desastre, mas o equívoco da direção técnica da Federação Paulista de Futebol foi atenuado a cada erro tático e estratégico de Pintado. 

O consolo de ver o São Caetano cair para a Série B com futebol digno de Série A tem componente paradoxal, que consiste na internalização de uma culpa implícita pelo próprio fracasso. Um fracasso que também não pode ser entendido como vexame histórico, como torcedores mais fanáticos sugerem.

O São Caetano caiu como caiu o São Bento de Sorocaba, que disputará nesta temporada a Série B do Campeonato Brasileiro. Ou seja: faz parte do roteiro de probabilidades numa competição tão acirrada como a Série A do Campeonato Paulista. 

Basta fazer as contas: de 16 equipes, quatro são cartas marcadas para não cair, por uma série de razões, casos dos times grandes. Sobram 12 equipes, muitas das quais integrantes do circuito nacional de competição, do qual o São Caetano não é frequentador há muito tempo. 

A queda do São Bento é algo muito mais grave exatamente por isso, já que está a um passo da Série B do Brasileiro. Quem tem calendário anual competitivo, como os times da Série A e da Série B do Brasileiro, conta com vantagem enorme sobre os concorrentes.



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