O RB Brasil pode virar RB Bragantino ainda nesta temporada, mais precisamente nos próximos dias, e com isso o São Caetano se salvaria do rebaixamento à Série B do Campeonato Paulista. O negócio entre o Red Bull Brasil e o Clube Atlético Bragantino é considerado fechado. A manutenção do São Caetano no principal campeonato estadual do País, após ser rebaixado na semana passada, depende do bom senso da Federação Paulista de Futebol. Seria um acinte técnico a alternativa de não apenas dois, mas os três primeiros classificados da Série B Paulista preencherem as vagas que se abririam na Série A.
RB Brasil e Bragantino estão se fundindo por conta de algo no valor de R$ 45 milhões. Ainda não se tem detalhes da operação, costurada entre os dirigentes, mas é certo que o Red Bull Brasil passaria a se chamar Red Bull Bragantino, ou simplesmente RBB.
O anúncio oficial da negociação seria feito nos próximos dias. As duas equipes disputaram nesta temporada a Série A do Campeonato Paulista e fizeram mais pontos que o São Caetano. O São Bento de Sorocaba foi o último colocado.
Bragantino fora
O RB Brasil vai virar RB Bragantino entre outras razões porque se juntará a fome de ambições bem estruturadas do primeiro e o desespero de auto sustentação do segundo. A engenharia a ser anunciada contemplaria um arranjo em que o Bragantino viraria espécie de complemento do Red Bull. Perderia apenas parcialmente a identidade como clube. RBB viraria RBB. A diferença é que o B de Brasil sairia para a entrada do B de Bragantino.
Com sede social em Jaguariúna e mando esportivo no Estádio da Ponte Preta, em Campinas, o RB Brasil mataria dois coelhos com uma só cajadada: teria um mesmo local para se estabelecer como pessoa jurídica e um estádio próprio, além de anunciado centro de treinamentos.
Entretanto, o principal motivo do acerto que levou à negociação é outro: o RB Brasil ficaria com a vaga do Clube Atlético Bragantino na Série B do Campeonato Brasileiro. Um salto e tanto para quem nem está no circuito nacional das duas principais divisões do Campeonato Brasileiro.
Afinal, onde entra o São Caetano nessa história? Simples: como uma das equipes vai desaparecer oficialmente (o Clube Atlético Bragantino), três vagas se abririam na Série A do Campeonato Paulista do ano que vem: do Bragantino que vai sumir, do São Bento que caiu e do São Caetano que também cairia. Mas não é exatamente assim.
O São Caetano escaparia do rebaixamento por conta do sumiço do Bragantino. Ou seja: os dois rebaixamentos previstos no regulamento estariam consumados, um no gramado e o outro na esteira da legislação esportiva.
Regulamento omisso
Tudo seria resolvido, mas há uma versão de que a Federação Paulista de Futebol estaria decidida a rebaixar o São Caetano e confirmar não apenas os dois primeiros colocados da Série B, ou Série A-2, mas o terceiro colocado também. É uma versão da qual o próprio São Caetano não tem conhecimento. E quanto tiver, provavelmente vai reagir.
Qual a possibilidade de a Federação Paulista de Futebol optar pelo acesso de três times da Série B à Série A e confirmar o rebaixamento do São Caetano, juntamente com o do último colocado, São Bento, além do Bragantino engolido pelo Red Bull Brasil?
Os regulamentos dos dois campeonatos estaduais não fazem qualquer referência à situação que seria provocada pela operação RBB. Então, sobra o bom senso. Sem manipulações. O São Caetano reuniria muito mais méritos que o terceiro colocado da Série B para seguir na Série A do Campeonato Paulista.
Durezas maiores
O resumo da ópera é que é muito mais difícil a determinadas equipes que disputam a Série A do Paulista deixar de estar na lista dos dois rebaixados ao final da competição do que uma das 16 equipes da Série B deixar de chegar entre as três primeiras.
Traduzindo: a queda do São Caetano quando se iniciou a Série A do Campeonato Paulista deste ano era mais provável que uma das 16 equipes da Série B deixar de estar entre as três primeiras colocadas.
Como é possível medir essas probabilidades? A Série A do Campeonato Paulista, integrada por 16 equipes, conta com quatro grandes (Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos) que jamais caíram e muito provavelmente jamais cairão.
Então, sobram duas equipes candidatas ao rebaixamento regulamentar entre as 12 restantes. Mas a situação é mais grave ainda: dessas 12 equipes, seis estão na Série B do Campeonato Brasileiro (Bragantino, São Bento, Botafogo, Oeste, Ponte Preta e Guarani). Agora sobraram sete equipes sem calendário anual que as duas competições nacionais oferecem.
Trocando em miúdos: o São Caetano que disputou a Série A do Campeonato Paulista concorreu mais diretamente com apenas seis equipes na luta para fugir do rebaixamento. Portanto, havia duas vagas de descenso para sete concorrentes mais prováveis. Cada uma dessas equipes entrou na competição com potenciais 28,57% de possibilidades de queda. O São Bento, mesmo na Série B do Brasileiro e fora desse grupo de sete equipes, não resistiu à disputa.
Generosidade demais
Por que seria generosidade demais acrescentar as três equipes que subiriam da Série B para a Série A do Campeonato Paulista? Porque as 16 equipes iniciam a competição em condições de forças técnicas semelhantes. Tanto é verdade que uma loteria que desafiasse os especialistas em futebol paulista a apontarem os primeiros colocados ao final da competição seria desafiadora. Já a mesma loteria se fixaria nos quatro grandes como reais competidores rumo ao título da Série A e levaria em conta, na contabilidade de descenso, os investimentos sempre maiores das seis equipes que integram a Série B do Brasileiro.
Praticamente sem recursos de patrocínio oficial, transferidos pela Federação Paulista de Futebol, e também sem calendário nacional (nenhum dos disputantes deste ano da Série B Paulista está na Série A ou Série B do Brasileiro), a situação se torna igualmente difícil para todas. Bem diferente, portanto, da Série A do Paulista, cujos recursos da FPF são relativamente elevados e contemplam diferenciações também ditadas pela hierarquia no futebol brasileiro e na própria competição estadual, de acordo com a longevidade de resistência.
O Ituano, por exemplo, recebeu mais uma vez mais valores da FPF que outras equipes do mesmo porte, porque está desde o ano 2000 como integrante da Série A Paulista.
Realidades desiguais
A distância de infraestrutura e de qualificação técnica das equipes médias do futebol paulista (todas, exceto as grandes) é acentuada não só porque contam com calendário nacional amplo como também porque recebem recursos de patrocínio muito acima das demais.
Um exemplo prático: enquanto o São Caetano disputou no ano passado a Série A do Paulista que durou não mais que três meses no primeiro semestre e no segundo semestre participou da deficitária e sem patrocínio Copa Paulista com equipes de várias divisões, a Ponte Preta disputou a Série A do Paulista e a Série B do Brasileiro. Jogou praticamente toda a temporada. Tantos outros exemplos poderiam ser apresentados.
Não bastasse tudo isso a diferenciar equipes médias e pequenas que disputam a Série A e a Série B do Campeonato Paulista, pesa também a capacidade de formação dos elencos.
Escolhas complicadas
Os jogadores utilizados por equipes da Série A e da Série B do Campeonato Paulista que não integram o calendário nacional geralmente são os que restaram dos reforços pretendidos que preferiram optar por equipes que contam com o chamado calendário cheio, de janeiro a dezembro.
Os agentes dos jogadores sempre optam por contratos com equipes que agregam jogos do calendário estadual seguido do calendário nacional. Com isso, a distância de qualificação entre as equipes com calendário completo e com calendário apenas residual tem se intensificado. Ou seja: a manutenção de elenco por uma temporada cheia é muito mais viável às equipes com jogos praticamente em todos os meses do ano, não somente nos dois ou três primeiros meses.
A queda do São Bento para a Série B do Campeonato Paulista é uma exceção de probabilidade que confirma a regra. Ou seja: é preciso errar demais para uma equipe com calendário nacional destacado como a Série B não se sustentar na Série A do Paulista.
O São Bento passou por crise diretiva no futebol, com a saída do técnico Paulo Roberto. Os estilhaços se consumaram no campeonato estadual recém-encerrado. O técnico Paulo Roberto e a comissão, responsáveis por seguidos acessos nacionais do São Bento, deixaram a equipe durante a Série B do Brasileiro do ano passado. As consequências mais duras se confirmaram agora.
Não se tem conhecimento de jurisprudência esportiva sobre consequências que se darão com a consumação do Bragantino fora de combate em favor do RBB. Certo mesmo é que o São Caetano dispõe de um arsenal de argumentos técnicos que tornaria inexplicável qualquer decisão contrária da Federação Paulista de Futebol.
A matemática e a realidade do futebol brasileiro estão ao lado do São Caetano. Só restaria torcer para o RB Brasil e o Bragantino virarem RBB.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André