Esportes

Continuamos bem
nos campeonatos

DANIEL LIMA - 05/03/2001

O futebol profissional do Grande ABC iniciou março imprimindo a mesma toada com a qual ingressou em fevereiro -- oferecendo a perspectiva de que pode transformar 2001 em sinônimo de sucesso. Ao término de seis rodadas entre as 30 previstas para os dois turnos da Série A-2 do Campeonato Paulista, o Santo André contabilizava 12 pontos ganhos e o terceiro lugar, a um ponto do Olímpia e a três pontos do líder América de Rio Preto. E o São Caetano encerrava a oitava rodada entre as 15 previstas da Série A-1 com 15 pontos ganhos, dividindo a liderança com o Rio Branco de Americana. 

O horizonte do São Caetano só não é de brigadeiro porque nuvens carregadas pela sobrecarga do calendário ameaçam o equilíbrio técnico-tático de um grupo de jogadores que tem no entrosamento a melhor explicação para o destaque num futebol brasileiro jamais tão fortemente abalado pela pobreza de talentos individuais. A disputa da Taça Libertadores da América impõe ao Azulão maratonística fase de sete jogos em apenas 20 dias. Parece impossível que o futebol leve, veloz e sem amarras táticas defensivas do técnico Jair Picerni consiga superar as limitações físicas impostas pelo cansaço dos músculos e pela exaustão da mente. O encavalamento de jogos deve cobrar tributo de tropeços que clubes mais bem preparados já sofreram no passado.  

Já o problema do Santo André é outro. Os jogos programados pela Série A-2 são quase semanais, as viagens são curtas e o nível técnico dos adversários é inferior ao da média da Série A-1. A diferença é que o Santo André é um time montado às pressas para a competição, o condicionamento físico está aquém do padrão de excelência para quem quer o acesso ao principal campeonato estadual do País e o conjunto tem a desafinação típica de um palco que recebe grupos musicais que misturam roque, axé, hip hop, funk e outros gêneros. 

A sorte do Santo André, um dos clubes que mais investiu para chegar a uma das duas vagas de acesso, é que a maioria dos adversários vive a mesma situação. Os times pequenos do Interior e os dois da Capital que disputam a Série A-2 sofrem com a falta de um calendário de pelo menos 10 meses de competição e vivem quase que exclusivamente do sonho de disputar os quase cinco meses de Acesso. O Juventus da Capital, considerado um dos concorrentes a uma das duas vagas, levou uma surra de 3 a 0 no Estádio Bruno Daniel, domingo, dia 4, mas nem assim a torcida do Santo André se empolgou. O jogo foi um festival de perde-e-ganha. Não fossem as duas expulsões do Juventus no segundo tempo, o resultado seria outro, bem mais modesto. 

O espetáculo de baixo nível que de maneira geral o futebol brasileiro vem apresentando nos mais diferentes campeonatos só não compromete definitivamente a presença de público em Santo André e em São Caetano porque os ingressos foram barateados ao extremo. No Bruno Daniel o custo é praticamente simbólico, de R$ 1. Provavelmente jamais na história do futebol brasileiro se atingiu indigência extrema em técnica e em tática. Não é à toa que Corinthians e Palmeiras andam disputando ponto a ponto as últimas posições na Série A-1. Jogadores que jamais poderiam ser minimamente mencionados para vestir a camisa da Seleção Brasileira se tornaram convocáveis. O esforço que narradores de televisão fazem para tentar salvar a audiência os colocam entre o patético e o afrontoso. A impressão que se tem é que à frente da telinha há um bando de tolos que não conseguiria distinguir um bom espetáculo de um espetáculo sofrível, um Os Maias de um Ratinho, por exemplo. 

Atingido em cheio por ratos que fazem do futebol o porão de seus movimentos suspeitos, o futebol brasileiro vive dentro de campo o reflexo da corrupção que o abate fora das quatro linhas. Como esperar algo diferente na maior indústria de entretenimento do País, se em Brasília a eleição de Jader Barbalho para a presidência do Senado compôs um réquiem à inidoneidade e à seriedade? 


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