O técnico Pintado será oficialmente demitido hoje pelo São Caetano. Ele vai ser substituído por alguém experiente que, além de comandar a equipe na Série D do Campeonato Brasileiro, que começa no próximo mês, organize-a principalmente para o Campeonato Paulista da Primeira Divisão do ano que vem. O São Caetano trata o rebaixamento em campo, liderado por Pintado, como algo superado.
A incorporação do Bragantino pelo RB Brasil, e o consequente rebaixamento de uma dessas equipes determinado pela desistência da competição na próxima temporada, recompõe a vaga em favor do São Caetano.
A subida do terceiro colocado da Segunda Divisão é uma falácia. Tanto que nos bastidores do São Caetano a situação é dada como resolvida. E na Federação Paulista de Futebol o presidente Reinaldo Bastos já teria dirimido o caso junto ao Departamento Técnico.
Pintado foi demitido tardiamente no São Caetano. Como cansei de escrever a cada novo jogo da equipe na Primeira Divisão deste ano (acompanhei todos os jogos e analisei os resultados nesta revista digital), o ex-volante do São Paulo cometeu série de erros táticos e estratégicos que levaram o São Caetano à penúltima colocação.
Mesmo se o São Caetano houvesse escapado da queda dentro de campo, Pintado não seria mantido à frente do grupo.
Demissão de qualquer jeito
A pífia campanha na Copa Paulista do ano passado e os erros na Primeira Divisão desta temporada minaram o prestígio que ele acumulou na Primeira Divisão de 2018, quando pegou o time na zona de rebaixamento e o levou às quartas de final contra o São Paulo.
A assertiva de que não foi estritamente o rebaixamento que provocou a queda de Pintado é a resposta que a diretoria do São Caetano vai dar em forma de acerto contratual com o substituto dele: o vínculo deverá se estender até o final da Primeira Divisão do ano que vem.
A crítica mais contundente que se faz a Pintado é que ele dispunha de ingredientes para fazer um time melhor no coletivo por conta das individualidades. Ou seja: o elenco contava com jogadores que poderiam dar respostas mais produtivas caso o técnico encontrasse uma fórmula tática adequada. O São Caetano perdeu o rumo e o prumo de resultados porque nem se mostrou monolítico na defesa nem efetivo no ataque.
Os números gerais da Primeira Divisão desta temporada (oficialmente A-1) revelam que o sistema ofensivo do São Caetano manteve nível que não pode ser considerado comprometedor, embora aquém das necessidades, com 12 gols marcados em 12 jogos. Um gol a menos que Ponte Preta, São Paulo, Guarani, Palmeiras e Oeste. Mas o São Caetano só fez mais gols que os oito do rebaixado São Bento e os nove do quase rebaixado Mirassol.
Sistema defensivo falho
Entretanto, nenhum time resiste a desequilíbrios que aparecem no balanço final. O sistema defensivo do São Caetano foi uma catástrofe, com 21 gols sofridos, como o Bragantino. Até o último colocado São Bento foi melhor que o São Caetano: sofreu 18 gols na competição.
Os números revelam um futebol limitado demais quando se tem como perspectiva a ocupação de espaços tanto para atacar como para defender. Diferentemente do que se imaginava, Pintado não colocou em prática um futebol defensivo, como em outras temporadas, mesmo no São Caetano do passado.
O treinador praticamente abdicou em momentos decisivos de uma medida que mesmo os mais famosos adotam para sustentar vantagem no placar: poderia ter reforçado o sistema defensivo com um terceiro volante ou mesmo um terceiro zagueiro. Vitórias parciais e empates convenientes desabaram porque não houve flexibilidade no banco de reservas.
Resolvendo na FPF
A identidade do substituto de Pintado é mantida em segredo pelos dirigentes do São Caetano. O presidente Nairo Ferreira esteve ocupado nos últimos dias em desatar os nós que ele mesmo criou quando, levado por nichos de redes sociais industrializadoras de imprecisões, correu para uma reunião com o presidente da Federação Paulista de Futebol e aceitou passivamente uma interpretação caolha do regulamento da Segunda Divisão (Série A-2) que supostamente garantiria a ocupação da vaga aberta pelo Bragantino pelo terceiro colocado da competição.
Ao descobrir que o regulamento da Segunda Divisão é cristalinamente preciso para quem prefere não enxergar fantasmas, Nairo Ferreira voltou à FPF e teria resolvido a questão, embora o burburinho burro de sempre das redes sociais procure destilar decisão em contrário.
Clareza do regulamento
O Artigo 9º do regulamento da Segunda Divisão estabelece a subida automática dos dois primeiros colocados e abre a possibilidade, no parágrafo 1º, da subida do terceiro colocado. O adendo do parágrafo é desprezado por quem insiste em tratar galinha como se cachorro fosse: “desde que um dos dois primeiros desista da competição”. Ou seja: se um dos finalistas da Segunda Divisão desistir de disputar a Primeira Divisão quando da realização do Conselho Técnico, o terceiro colocado tomará o seu lugar.
Nairo Ferreira caiu no conto da massificação de uma versão ilusionista que não resiste a qualquer instância de julgamento de tribunais esportivos. Situação que não chegará a tanto e sequer foi cogitada pelo São Caetano depois de Nairo Ferreira ser alertado sobre os enunciados específicos de acesso das equipes da Segunda Divisão.
Agora o São Caetano dá tratos à reestruturação do elenco para a Série D do Campeonato Brasileiro, embora esteja mesmo de olho na Primeira Divisão do Campeonato Paulista do ano que vem. Mas não se tome essa projeção como desprezo ao calendário nacional: o São Caetano vai se reforçar para chegar à Série C, mas sabe que o sistema de disputa, de muitos mata-matas, é um convite à resultados lotéricos.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André