Esportes

Primeira Divisão: São Bernardo
fica com a vaga do São Caetano?

DANIEL LIMA - 02/04/2019

O São Bernardo (ou outro clube de qualquer divisão do futebol paulista) poderá herdar a vaga deixada pela fusão do Red Bull Brasil (RBB) e Clube Atlético Bragantino na elite do futebol do Estado. O São Bernardo seria o mais provável porque já estaria em negociações com a direção do RBB, que comprou as vagas do Bragantino na Série A-1 do Paulista e na Série B do Brasileiro. A iniciativa rebaixaria legalmente o São Caetano à Série A-2 (Segunda Divisão) da próxima temporada.

Provavelmente haverá desmentidos da direção do São Bernardo e do RBB, mas a probabilidade de o negócio prosperar é caudalosa. O RBB vai vender a vaga do Bragantino na Primeira Divisão de São Paulo porque já conta com vaga própria após a fusão com o clube de Bragança Paulista.

O regulamento da Primeira Divisão não impede negociações de vagas, assim como o regulamento do Campeonato Brasileiro. Filigranas jurídicas não valem a pena ser esmiuçadas, mas asseguram legitimidade à iniciativa.

Probabilidade antecipada

Ainda ontem escrevi sobre a possibilidade de uma equipe de divisão inferior subir de divisão sem que tenha obtido resultados classificatórios em campo. Fiz referência à incorporação do Votoraty, de Votorantim, pelo Comercial de Ribeirão Preto, no Campeonato Paulista da Série A-2. O Comercial disputou a Série A-3 em 2010 e não se classificou entre os quatro primeiros, mas, por conta de negociação com empresários que detinham as ações do Votoraty, que disputara a Série A-2, subiu bionicamente.

O São Caetano não poderia espernear contra o rebaixamento caso o Red Bull Brasil venda a vaga inócua na competição após a negociação com o Bragantino.

A equipe da região permaneceria na Primeira Divisão apenas no caso de o Red Bull Brasil simplesmente desistir da Série A-1 do ano que vem, o que é mais que improvável porque o clube-empresa precisa reduzir o custo da operação com o Bragantino, que teria chegado a R$ 45 milhões.

Segurando as pontas

É provável que o Departamento Técnico da Federação Paulista de Futebol não se manifestará oficialmente sobre os direitos legais de o São Caetano continuar na Primeira Divisão, contrariando versões fantasiosas de que o terceiro colocado da Série A-2, que está nas quartas de final, herdaria a vaga do RBB.

A FPF preferiria deixar o barco navegar até a realização do Conselho Técnico, em setembro. O Conselho Técnico oficializa, entre outros pontos, as equipes rebaixadas e que obtiveram acesso nas competições da entidade.

Embora qualquer clube possa adquirir a vaga do Red Bull Brasil na Primeira Divisão (inclusive o São Caetano em caso de pretender fugir do rebaixamento que seria compulsório por conta desse novo negócio), o São Bernardo teria tido a iniciativa mais contundente nesse sentido.

Fontes ligadas ao RBB admitem essa alternativa, mas preferem não se manifestar oficialmente. Há quem defenda a ideia de que o RBB poderia fazer espécie de leilão nos bastidores para reduzir o investimento na compra da vaga do Bragantino na Série B do Campeonato Brasileiro.

Mas há outras variáveis que conduziriam os negócios entre o RBB e o clube com o qual negociaria a vaga excedente na Primeira Divisão. Uma das quais é uma parceria estratégica à revelação de jogadores nas divisões de base, com direitos definidos em contrato. Ou seja, o RBB Brasil não se limitaria a vender a vaga, mas também a compor um plano de ação conjunto para o futuro.

Cantando a caçapa

Acho que vale a pena reproduzir os trechos do artigo que produzi para a edição de ontem e que se referia à possibilidade de o RBB (ou Bragantino) negociar a vaga na Primeira Divisão de São Paulo. Leiam: 

 Não há precedente na história recente da Primeira Divisão de São Paulo de equipe que tenha trocado de identidade jurídica e, com isso, favorecido um participante de divisão inferior com a vaga na competição. Houve situações (casos do Oeste que saiu de Barueri e passou para Presidente Prudente, até chegar a Barueri; ou mesmo do Grêmio Barueri que foi para Presidente Prudente e voltou para o berço) sem que houvesse alteração na hierarquia, mas apenas de endereço físico e nominativo. (...). Citou-se o caso do Votoraty, de Votorantim, Município da Região de Sorocaba, que, nem de longe se assemelha à situação atual. O Votoraty disputava a Série A-2 e teve o controle de ações adquirido por empresários que representavam o Comercial de Ribeirão Preto, quinto colocado na classificação final da Série A-3, equivalente à Terceira Divisão. O Comercial ficou com a vaga e o Votoraty foi desativado. Quando pretender voltar terá de disputar a última divisão do futebol paulista. Não há aparentemente obstáculo legal que impeça uma equipe da Segundona do futebol paulista, no caso a Quarta Divisão, suba para a Primeira Divisão de um ano para outro. Basta realizar um negócio semelhante ao que envolve o Red Bull e o Bragantino em nível nacional. O Red Bull, espécie de multinacional de futebol empresarial, com equipes em vários países, comprou a vaga do Bragantino -- é disso que se trata o negócio. O Red Bull não constava de nenhuma divisão do calendário do futebol brasileiro e pretende chegar o mais depressa possível à Série A (Primeira Divisão).  

Cortando caminho

Dessa forma, não é necessariamente uma surpresa a tomada de posição do RBB e o possível acesso do São Bernardo (ou de qualquer equipe filiada à Federação Paulista de Futebol que pretenda cortar caminho rumo à principal divisão do Estado). A surpresa mesmo seria exatamente uma equipe da região em substituição a outra equipe da região.

Isso poderia significar que, mesmo que houvesse sido rebaixado à Série A-3 (Terceira Divisão) na rodada final da fase classificatória da Série A-2 (Segunda Divisão) de domingo em casa diante do Penapolense, o São Bernardo disputaria a Primeira Divisão do ano que vem. Basta que feche negócio com o RBB.

Não custa lembrar que o São Bernardo é um clube empresarial sob o controle de um grupo de agentes de jogadores e investidores. Trata-se da Elenko, empresa do dirigente Fernando Garcia, detentor de dezenas de direitos econômicos de jogadores brasileiros.

E a nova vaga?

Quem ocuparia a vaga do São Bernardo na Série A-2 por conta do acesso que seria proporcionado pela compra da vaga negociada pelo RB Brasil? O regulamento da Série A-2 não deixa dúvida, como no caso do São Caetano que abordamos exaustivamente: o Nacional da Capital, penúltimo colocado, seguiria na competição no ano que vem, porque seria o São Caetano da vez, enquanto o último colocado Linense desceria mesmo para a Série A-3.

Entretanto, e sempre há um entretanto, nada impediria o efeito- rebaixamento do São Caetano se algum clube de divisão inferior resolver comprar a vaga do São Bernardo, que, no caso, seria o RB Brasil da vez. Uma confusão dos diabos?

É assim, afinal, o futebol brasileiro. Até o Nacional, penúltimo colocado da Série A-2 (uma espécie de São Caetano da Série A-1) poderia escapar do descenso, desde que compre a vaga que seria deixada pelo São Bernardo. Durma-se com um barulho desses.



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