Já que meti a mão na cumbuca, vou mais fundo. A questão envolve a ocupação da vaga do Red Bull na Série A1, Primeira Divisão de São Paulo, na temporada de 2020. Há duas equipes que reivindicam o espaço, e uma terceira que, ainda desconhecida do público, estaria se articulando para dar um drible da vaca na hierarquia do futebol paulista. Seria o Votuporanguense, integrante da Série A2 (Segunda Divisão), mas é possível que existam outros os concorrentes. De qualquer modo, temos uma vaga para pelas três equipes.
Decidi tomar uma iniciativa que a imprensa esportiva já deveria ter tomado ao invés de atuar como torcida organizada. Enviei a dois especialistas em direitos esportivos série de perguntas que tratam do assunto.
Se fosse apenas isso, já seria um avanço na questão. Até agora o que imperou, exceto neste site que procurou esmiuçar o assunto, foi uma bateria barulhenta de palpiteiros que, na maioria dos casos, mal se deram a ler o regulamento.
Tanto não leram que optaram pelo modo mais fácil de se comunicar com o público quando o comodismo impera: martelaram o tempo todo e continuam a martelar até agora que o Água Santa de Diadema, terceiro colocado da Segunda Divisão, teria direito de ficar como a vaga na Primeira Divisão.
Água quer furar a fila
Antes mesmo que fosse identificado o Água Santa como suposto herdeiro da vaga, já tínhamos manifestado oposição à tese que favoreceria quem quer que chegasse em terceiro lugar na competição de acesso.
Portanto, não existe preconceito, regionalismo ou predileção no enunciado que cansei de formular. Existe apenas e exclusivamente o raciocínio lógico de quem leu o regulamento. Um regulamento que, por mais que seja menos explícito do que se pretende, não constrói castelos de areia que subvertem a ordem legal.
É claro que o Água Santa, que não é bobo nem nada, quer furar a fila e para tanto correu para reivindicar a legitimidade de um espaço na Primeira Divisão tão logo lhe tenha escorregado pelos vãos dos dedos da arrogância dentro de campo a classificação para a finalíssima da Segunda Divisão no confronto de semifinalistas contra o Santo André.
O mesmo Santo André que agora, com a camisa do Água Santa, disputa a Copa Paulista. Para quem desconhece a mudanças, repito o que escrevi em primeira mão: praticamente todos os titulares campeões pelo Santo André, além da comissão técnica, inclusive o treinador Fernando Marchiori, se transferiram para a equipe de Diadema. A força do dinheiro faz a diferença em qualquer universo esportivo. A tradição é cada vez mais quesito relativizado.
Situação particularíssima
Mas vamos voltar ao que interessa, ou seja, a participação acredito que elucidativa dos dois especialistas. Eles foram colocados numa situação particularíssima: estão convidados a responder às questões que formulei como eventuais e infatigáveis defensores do Água Santa, como supostos ativos representantes dos interesses do São Caetano, como totalmente também possíveis neutros ou, numa quarta e complementar opinião, como pretensos esgrimistas da terceira equipe ainda desconhecida que poderia ficar com a vaga do Red Bull.
Portanto, o que apresentei aos dois especialistas foi uma exposição fértil ao contraditório, mas com flexibilidade suficiente para que no conjunto de respostas eles se apresentem em defesa de um enunciado próprio que contemplaria ou não individual e coletivamente os agentes esportivos que lutam para disputar a Primeira Divisão do ano que vem.
Para tentar ser menos hermético: é possível defender a legitimidade do espaço em favor do São Caetano até determinado ponto, e esse ponto seriam os direitos esportivos que uma terceira agremiação passaria a usar caso encontre fórmula jurídica que permita atuar como substituta do Red Bull.
Como todos sabem, o Red Bull vai deixar a Série A1 porque incorporou o Bragantino. As duas equipes disputaram a competição este ano. O Bragantino, que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro, seria reproduzido na Série A1 do Paulista do ano que vem.
Difícil mesmo, acredito, seria os especialistas perfilarem ao lado do atrevimento do Água Santa. Um atrevimento legítimo no sentido de que todos têm o direito de espernear. Mesmo sem razão.
Mesmas perguntas
Enviei aos dois especialistas as mesmas perguntas que formulei com o sentido exclusivo de jogar luzes sobre um assunto muito maltratado pela mídia em geral.
Contesto veementemente (e exponho essa posição nas questões formuladas) a viabilidade legal de o Água Santa ficar com a vaga do Red Bull. Não tenho a mínima ideia do que responderão os especialistas. Eles têm tanto direito quanto eu de se manifestarem. Seja lá o que disserem, será sempre elucidativo. Teremos mais base a eventuais debates do que a mesmice repetitiva da parte da imprensa descuidada.
Só cheguei ao estágio da assertividade resoluta sobre o Água Santa depois de ponderar muito sobre os insumos do regulamento das duas competições. Não existe nada, absolutamente nada, que dê guarida à equipe de Diadema.
Balela da terceira vaga
Fiz um cerco geral e acho que consegui apanhar o frango da objetividade nas nove questões que formulei e enviei aos dois especialistas.
Acreditem os leitores que estou muito ansioso, mas muito mesmo, pelas respostas. Torço para que contribuam para o caso da chamada terceira vaga que, na verdade, jamais existiu.
Ou seja: o direito de o terceiro colocado da Série A2 disputar a Série A1 em caso de vacância de espaço é uma balela argumentativa que há muito a Federação Paulista de Futebol deveria ter desqualificada, embora se deva respeitar a estratégia da entidade em deixar o tempo passar e anunciar a decisão somente durante o Conselho Técnico. Até porque, e aí está o pulo do gato da FPF, a saída do Red Bull não implicaria em adotar qualquer dispositivo que não seja preencher automaticamente a vaga pela agremiação que arremataria o CNPJ do time que se fundiu ao Bragantino.
Na edição desta terça-feira vou publicar todas as questões que enviei aos dois especialistas em Direito Esportivo. Eles têm tempo de sobra para responder.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André