Esportes

Será que Saul Klein gostou
da vitória do São Caetano?

DANIEL LIMA - 22/07/2019

Duvido muito que o empresário Saul Klein, conselheiro especial e mantenedor do São Caetano, tenha gostado do que viu sábado à tarde no Estádio Primeiro de Maio, na vitória de dois a um da equipe contra o anfitrião Esporte Clube São Bernardo. Foi a quarta vitória seguida do São Caetano, líder do Grupo 4 da Copa Paulista. 

Coincidentemente, foi a quarta partida em que Saul Klein viu a equipe presencialmente. Foi um longo afastamento, período no qual manteve intocável a coordenação do financiamento da agremiação que viveu os melhores momentos no começo deste século com o mesmo Saul Klein a liderar todo o processo de organização do clube, sempre de forma intensa, mas não necessariamente presente. 

Especular sobre a interpretação de Saul Klein quanto ao desempenho do São Caetano e ao resultado do jogo pode ter mais importante do que aparentemente se apresenta. Sabe-se que o empreendedor pouco reconhecido pela mídia do setor esportivo porque sempre manteve discrição absoluta como benemérito permanente tem na agremiação uma paixão ilimitada. 

Primeira vez 

Saul Klein viu o jogo ao lado do presidente executivo Nairo Ferreira e do superintendente Genivaldo Leal. Eles se acomodaram numa das cabines do Estádio Primeiro de Maio. Nunca antes Saul Klein esteve no local que no, fim dos anos 1970, Lula da Silva, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, mobilizava a massa operária. Uma história mais que conhecida. 

Embora da família de acionistas da Via Varejo, complexo comercial que reúne as marcas Casas Bahia (fundada pelo patriarca Samuel Klein) e Ponto Frio, informações de bastidores dão conta de que Saul está mais preocupado no momento com a recuperação do São Caetano no organograma do futebol brasileiro. 

O rebaixamento à Série A2 do Campeonato Paulista (que pode ser revertido caso a Federação Paulista de Futebol considere eventual desistência de Red Bull como rebaixamento) e a ausência no calendário nacional incomodariam o empresário-benemérito. 

É muito provável que é mais fácil avaliar o que Saul Klein assistiu sábado à tarde do que pretender conhecer mais de perto as intenções que cultiva para o futuro próximo tanto no futebol quanto na vida empresarial. Quem o conhece sabe que ele não abre mão de uma equipe competitiva, que exponha qualidades técnicas e táticas. 

Abaixo do esperado 

O São Caetano de sábado não foi nada disso. Teve garra, é verdade, mas faltou quase a totalidade de 15 indicadores centrais da planilha de rendimento coletivo de uma equipe. O São Caetano não preencheu três desse lote.

Faltou tanta coisa que o melhor mesmo é lembrar que a vitória poderia também ter sido derrota. O São Bernardo do presidente Felipe Cheidde Júnior é uma equipe bem mais modesta, mas não se intimidou diante de um adversário que há um quarto de século está ativo no futebol profissional. A longevidade do chamado Cachorrão é quase centenária, de 92 anos, mas só recentemente ativou o futebol profissional com o apoio de alguns investidores.

O que mais pesou para o São Caetano sair com a quarta vitória seguida sob o comando do técnico Marcelo Vilar foi a experiência dos jogadores. Mesmo mal distribuído em campo, mesmo cometendo série de erros, mesmo com exagerados três volantes no meio de campo, mesmo sem profundidade ofensiva, mesmo sem triangulações, mesmo sem posse de bola progressiva, mesmo sem inspiração técnica, o São Caetano soube somar três pontos em jogadas isoladas. 

O segundo gol, de penalidade máxima, quando tudo parecia crer que o empate prevaleceria, mostrou a afoiteza do São Bernardo. Antes disso, o São Caetano fizera um a zero no começo do segundo tempo e o São Bernardo empatou em penalidade máxima desnecessária cometida pelo volante Régis.

Cerezo prejudicado 

Havia certa expectativa com o rendimento de um jovem talento da base do São Caetano que, segundo quem acompanha mais de perto os meninos, superaria no futuro tanto Mateus Henrique quanto Nonato, crias da casa que estão no futebol do Rio Grande do Sul. O meia-atacante Mateus Henrique virou volante móvel no Grêmio, preparado que foi para substituir Artur, negociado com o Barcelona. E Nonato seria o sucessor da Dallessandro na armação do Internacional. 

Cerezo é Cerezo dentro de campo porque lembra o Cerezo original de Atlético Mineiro, São Paulo e Seleção Brasileira. As pernas longas e o tronco levemente fora do prumo ante as passadas largas parecem fazer parte da cadeia de DNA do Cerezo famoso. 

Entretanto, não foi possível diagnosticar com clareza até que ponto pode desabrochar no futebol profissional. Ele dividiu as funções de meio-campista com Ferreira e Régis, notórios destruidores de jogadas. Cerezo flutuou como primeiro volante, segundo volante e até mesmo arremeteu como meia de ligação. Mas não rendeu o desejável. O conjunto do São Caetano foi frágil, com desprezo à posse de bola, às infiltrações, a tudo que signifique potencial ofensivo mais criativo. Também no futebol uma andorinha não faz verão. 

Cerezo acabou substituído no começo do segundo tempo. O técnico Marcelo Vilar o trocou por um outro volante, menos qualificado em mobilidade, mas descansado o suficiente para reforçar a marcação à frente dos zagueiros. Ou seja: o treinador que veio há um mês do Ferroviário do Ceará com a cacife de liderar o grupo da Série C do Campeonato Brasileiro optou pela segurança defensiva. E esse quesito foi um dos poucos em que o São Caetano atendeu à lista de qualidade integrada. Mas, mesmo assim o ponto positivo deve ser relativizado porque o macrossistema tático foi bastante modesto a ponto de o dinamismo da equipe assemelhar-se a uma engrenagem enferrujada. 



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