Esportes

Barueri e outras cidades de olho
em Saul Klein. Quem vai levar?

DANIEL LIMA - 23/08/2019

Mecenas do São Caetano durante mais de duas décadas, o empresário Saul Klein teve um dia atribulado ontem, após CapitalSocial anunciar com exclusividade o rompimento das relações com o presidente Nairo Ferreira e consequente afastamento do clube que criou para revolucionar o conceito de empreendedorismo no setor. 

Até por volta das 18h de ontem nada menos que cinco equipes e agentes públicos representando cidades procuraram a assessoria do homem que colocou o São Caetano no mapa do futebol brasileiro e sul-americano. Todos querem o que o clube do Grande ABC acabou de perder: alguém que acredite no potencial do futebol como empreendimento empresarial, além dos valores culturais. 

Há informações seguras de que agentes públicos de Barueri já teriam mantido contato com o empresário da família que controla a Via Varejo, conglomerado formado pelas redes Casas Bahia, fundada por seu pai, e a Ponto Frio. A assessoria do empresário prefere descartar a especificidade de uma equipe ou de uma cidade, mas confirma o assédio pelo que chamam de contratação de Saul Klein. 

Proximidade facilitaria

Só o fato de Saul Klein morar em Barueri, num dos condomínios de Alphaville, indicaria a possibilidade de preferir um clube da cidade. Saul Klein é discreto, raramente sai de casa e tem relacionamentos com vários empresários de Barueri. 

Sabe-se que houve mesmo a primeira investida. Provavelmente será desmentida. Sabe-se que Barueri não se sentiria representada pelo Oeste, que disputa a Série A1 do Campeonato Paulista e a Série B do Campeonato Brasileiro. A direção do Oeste não tem ramificações sociais em Barueri. Bem diferente do que seria um clube local com Saul Klein no comando. Até porque, informa-se que o nome do Município seria prioridade na denominação. 

Saul Klein exige discrição em tudo que se relaciona a ele. Raramente aparece na mídia. Foi surpreendente que ainda outro dia, quando retornou fisicamente ao São Caetano, aceitasse um flagrante fotográfico que se espalhou nas redes sociais. Ele posou entre os dois principais executivos do São Caetano, o presidente Nairo Ferreira e o supervisor Genivaldo Leal. 

Até então, recém-saído de um período de enfermidade que o tornou ainda mais recluso, Saul Klein acenava com a possibilidade de dar novo impulso ao São Caetano. Tanto que tomou várias iniciativas. Entre as quais a contratação do técnico Marcelo Vilar, o anuncio de craques do passado que se tornariam auxiliares técnicos e até mudanças radicais na infraestrutura de pessoal, com a contratação de e nutricionista com experiência no futebol. 

Na medida em que conheceu as entranhas do clube, contando para tanto com vários colaboradores, Saul Klein arrefeceu o entusiasmo. Havia sinais rotulados de estarrecedores de uma administração fora dos padrões empresariais que pudessem ser catalogados como produtivos. 

Doações improdutivas

As doações de Saul Klein, sempre volumosas e enquadradas nas exigências da Receita Federal, frustravam a expectativa como geradoras de retornos financeiros para reaplicação nas equipes de base e de profissionais. O mecenato de Saul Klein multiplicava desperdícios quando levado à prática de gestão. 

É certo que Saul Klein continuará a exercitar um dos prazeres da vida: viver as emoções do futebol. Mas há informações que vão muito além disso. O grito de liberdade que proclamou ao deixar o São Caetano por discordar da aplicação dos recursos financeiros doados ao clube abriu uma nova perspectiva. Saul Klein substituirá a condição de mecenas, que terceiriza a gestão de recursos financeiros, pela de investidor com poder compartilhado de gestão. Ele entende que a mudança será muito mais produtiva. 

Ou seja: ao trocar o mecenato de pouca influência nos destinos de um clube pelo viés de investidor financeiro, Saul Klein irá muito além de repassar recursos. Ele participará ativamente da agremiação profissional que escolher para seguir contribuindo no futebol. 

Empresa-parceira

Por conta desse novo foco de atuação esportiva, também existe uma possibilidade de que não se trataria de fantasia a constituição de uma empresa que contasse com Saul Klein e investidores que já estão no mercado da bola. 

Teria sido essa negociação o motivo que supostamente induziu o presidente Nairo Ferreira a dar uma cartada decisiva para impor condições à retirada da sociedade esportiva oficialmente chamada São Caetano Futebol Limitado. 

Nairo Ferreira teria dado um passo em falso. Imaginou que poderia deixar para terceiros um clube endividado e ainda sairia com muito dinheiro no bolso, além de receita mensal líquida de R$ 40 mil. As exigências de Nairo Ferreira soaram como porta principal à retirada de Saul Klein. Ou seja: o projeto de potencializar o São Caetano teria sido, segundo o entorno do empresário, previamente sabotado pelo presidente executivo. Daí ao anúncio de que o mecenato acabara foi um passo. 

A assessoria de Saul Klein é reticente quanto a dar visibilidade à lista de cidades e equipes com interesse pelo reforço do maior mecenato da história do futebol brasileiro. Sabe-se que o módulo benemerência sem monitoramento de ações e cobrança de resultados para reaplicação na equipe mudará de figurino e dará lugar ao um investidor com muita capacidade de traduzir sonhos em realidade. 

Candidatos da região 

Três clubes do Grande ABC estariam na lista prévia de interessados na contratação de Saul Klein. Especula-se que dois disputaram a Série A2 desta temporada. Entretanto, não há mesmo nada de oficial. Certo é que não parece haver restrições ao perfil de gestão que Saul Klein pretende aplicar a partir de agora no futebol. 

Mecenato e investimentos que exigiram resultados teriam a mesma interpretação, segundo avaliou um dirigente de clube local questionado sobre a transformação no modo de atuar de Saul Klein. Há percepção de que existe espaço no futebol para rentabilidade financeira que só seria possível a quem detém poder de fogo.

Um agente público de Barueri praticamente resumiu a expectativa de contar com Saul Klein e eventual parceria com agentes que lidam com o negócio chamado futebol. Ele disse com simplicidade que o surgimento de um clube empresarial comprometido com a cultura da cidade é o suficiente para se obterem ganhos institucionais e de imagem com repercussões incalculáveis. Quem é do ramo precisa ser valorizado. Futebol não é para amadores -- garante. 

GM do esporte

No entrevero que levou Saul Klein a retirar-se do São Caetano, provavelmente o presidente executivo Nairo Ferreira não se ateve a importância histórica do clube em favor da imagem da cidade. E as autoridades públicas que tanto se agitaram para conter a sangria econômica que representaria a saída da General Motors de São Caetano, possivelmente não se deram conta ainda de que Saul Klein é uma espécie de espécie de GM do o esporte da cidade. 

E nessas alturas do campeonato não existia perspectiva de Saul Klein retroceder como a General Motors retrocedeu. A fila já começou a andar. E que fila!



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