Esportes

Exclusivo: Saul quer um clube
vitorioso dentro e fora de campo

DANIEL LIMA - 26/08/2019

Numa entrevista inédita e exclusiva, o empresário Saul Klein revela o que poderia ser chamado de os 10 pontos matriciais, ou seja, mais importantes, que pretende aplicar no clube que vai escolher para investir no futebol. E garante também que, apesar de ter deixado o São Caetano (como CapitalSocial noticiou com exclusividade na semana que passou), não abandonará a equipe na luta para continuar na Série A1 do Campeonato Paulista, conforme determina o próprio regulamento da Federação Paulista de Futebol em caso de desistência do Red Bull.

Conversei pessoalmente com Saul Klein ontem no condomínio em que mora em Alphaville. Prometi que não entraria em detalhes sobre absolutamente nada que ultrapassasse o próprio futebol. O que interessa mesmo aos leitores é repassar o planejamento prévio do que pretende o maior mecenas que o futebol brasileiro já produziu. 

Quem imaginou que fosse obra do acaso ou de forças políticas o fato de o São Caetano sair do anonimato e virar no começo do século a maior sensação do futebol brasileiro não sabe da missa um terço. Já escrevemos sobre isso na semana passada. Seria desnecessário repetir. Saul Klein comandou nos bastidores o período de glórias do São Caetano. E viu o clube-empresa sofrer rebaixamentos atrás de rebaixamentos na medida que se afastou diretamente das decisões. 

Simplicidade e cultura 

A simplicidade de Saul Klein não é surpresa para quem o conhece mais de perto. Esse filho do fundador da Casas Bahia foge a qualquer estereotipo de milionário. Veste-se com despojamento, fala a linguagem própria de quem não se preocupa com verniz cultural, embora seja um cinéfilo que chega ao ponto de manter catálogo de todas as obras que já assistiu.  

Falar de cinema com Saul Klein é como pretender saber o preço de um entre meia dúzia de guloseimas numa barraquinha de beira de estrada. Ou seja, a resposta é rápida, quase que automática. Ele desfila informações e críticas sobre os maiores produtores. Conhece o enredo dos grandes filmes. Reconhece atores e atrizes num piscar de olhos. Seu senso de observação é apurado. 

Quem conhece mais de perto Saul Klein tem dúvidas sobre se é mais esportista que cinéfilo ou mais cinéfilo que esportista. Há quem defenda que nessa competição o empate é o resultado mais ajustado. 

Núcleos matriciais 

O que os leitores vão ver logo abaixo são os núcleos de ações que Saul Klein pretende ver executadas na agremiação que vai escolher para administrar uma associação empresarial voltada ao futebol. Faço breve exposição desses pontos. Tenho tempo suficiente para textos que reverbarão os objetivos de Saul Klein. 

Certo mesmo, como escrevi há quatro dias, é que Saul Klein não atuará mais como simples (simples?) mecenas, ou seja, alguém que coloca dinheiro e prestígio numa agremiação e praticamente não participa da gestão. Isso faz parte de um passado que já não está em seu horizonte. 

O desencanto com o São Caetano o levou a mudar de trajetória: vai atuar como investidor que controlará e atuará à frente do projeto. Mas não quer trocar a vestimenta de mecenas pelo autoritarismo: pretende trabalhar com executivos especializados no mundo do futebol, com os quais formaria um Conselho Gestor, órgão soberano na hierarquia corporativa. Com isso, quer que o futebol seja tratado como negócio de interesse também social. 

Direito à vaga na Série A1

Dois vetores foram me repassados com voz firme e serena por Saul Klein durante o almoço a que fui convidado num final de semana que, depois de seis seguidos, decidiu não sair de casa. 

No breve retorno físico ao São Caetano ele acompanhou vários jogos da equipe principal na Copa Paulista e até mesmo jogos da equipe que disputa o Sub-20. Foi ali que descobriu uma pérola de meio-campista chamado Cerezo. Já há vários pretendentes ao que todos consideram um craque em gestação.  

O primeiro vetor trata da indissociável decisão de defender o São Caetano até onde for possível para que tenha os direitos respeitados como integrante da Série A1 do Campeonato Paulista ante a mais que provável vacância da vaga do Red Bull. A equipe associou-se ao Bragantino, que também detém espaço na competição. 

A expressão “até onde for possível” foi utilizada por Saul Klein como uma maneira de dizer que abrirá todos os canais legais possíveis para chegar ao resultado que o regulamento assegura àquelas que não têm dificuldades cognitivas ou paixonite clubista. Saul Klein reitera que o regulamento da competição avaliza os direitos do São Caetano. “Sobem dois e descem dois” – diz Saul Klein.   

Saul Klein reitera os termos do Artigo Nono, parágrafo primeiro, do regulamento do Acesso. Repete-os em volta alta. “Quem negar o inegável está sujeito a, além de deixar escapar o bom senso, perderia o juízo”.

Volta praticamente impossível

O segundo vetor é que não há a menor possibilidade de Saul Klein voltar atrás como mecenas ou mesmo incorporando iniciativas de investidor do São Caetano. Saul Klein afirma categoricamente que não haveria condições de retroceder. Decisão tomada, decisão sacramentada. 

Mas deixa uma porta aberta provavelmente apenas por razoes diplomáticas. Saul Klein diz que o presidente-executivo do São Caetano Futebol Limitada, Nairo Ferreira, teria um conjunto de três obstáculos a desativar para que tudo fosse resolvido. Não expõe as questões que o teriam levado a jogar a toalha após constatar detalhadamente os motivos que teriam tornado o São Caetano pouco produtivo em relação às doações financeiras. 

Ou seja: o mecenas decidiu tirar o time de campo porque o time dentro de campo e também no entorno dos gramados não era o que ele imaginava. 

Maionese de batata

Provavelmente os desencantos de Saul Klein com a gestão do São Caetano não seriam nada diferentes do que publicamos na semana passada, após ouvir várias fontes do clube. Nairo Ferreira fez do São Caetano um campo de experiências heterodoxas em relação aos padrões de comando de uma agremiação empresarial.

Saul Klein, sempre discreto, prefere não esticar o assunto. Foi delicado ao me apontar um prato que é especialidade da casa de assessores gastronômicos herdados, na maioria, dos tempos em que tanto a mãe quanto o pai os empregavam: maionese de batata. Imperdível.  

Também não avancei o sinal de bons modos. Pretendia ouvir de Saul Klein um breve relato dos últimos tempos de sua vida. Sei que o empresário viveu período de dificuldades. Um câncer de pele o abateu. De novo ele apontou a maionese de batata. Não havia como resistir ao paladar e ao bom senso.

Entretanto, quando se tratou de alinhavar os principais quesitos em que vai concentrar o planejamento estratégico que pretende tornar realidade no clube-empresa substituto do São Caetano, os olhos de Saul Klein brilharam. Ele reconhece que o mundo do futebol mudou tanto que nada que cheire a filantropia, em forma de mecenato, é socialmente produtivo. Daí a decisão de observar o futuro com lentes de empreendedorismo privado associada a visão social. 

“A melhor maneira de contribuir com a sociedade, quando se tem o futebol como instrumento de incentivo, é traduzir cada tostão em retorno mensurável, quer para reinvestimento e crescimento da marca, quer como forma de colaborar com a sociedade. Fora isso, não teria mais interesse em me entregar ao futebol como uma das grandes paixões de minha vida” – afirmou o empresário. 

Período de decisões 

É por essas e outras razões que Saul Klein afirmou, após o almoço, que nos próximos 10 dias estará trabalhando intensamente para analisar todas as propostas de clubes e cidades que pretendem tê-lo como parceiro no futebol. “Vamos verificar cada um dos nomes e, com assessores, selecionaremos as três alternativas que julgar mais relevantes. O passo seguinte será destacar dois assessores para realizar visitas às cidades e agremiações, levando debaixo do braço o planejamento que já está concebido e sacramentado. E depois, correr para o abraço” – disse Saul Klein, agora mais à vontade na entrevista. 

Na sequência, mostramos os 10 pontos nucleares da proposta formulada por Saul Klein para reinstalar a paixão pelo futebol num novo endereço. Essa espécie de decálogo é a síntese de um projeto que já começou a ser elaborado. Em nenhum parágrafo haverá espaço ao voluntarismo. Saul Klein quer um novo modelo de gestão em todas as dimensões. Sem personalismo e com muita responsabilidade social. Leiam: 

1. Estrutura corporativa enxuta, integrada por profissionais vinculados às áreas de Estratégia, Institucional e de Marketing. 

2. Conselho de Gestão integrado pelos principais executivos da agremiação empresarial e parceiros estratégicos. 

3. Relacionamento sistemático com instituições da sociedade civil.

4. Preocupação constante com a valorização dos espetáculos de futebol, inclusive no campo da segurança e da harmonia entre os torcedores. 

5. Uso intensivo de tecnologias digitais para massificar a imagem da agremiação.

6. Relacionamento permanente com conselheiros e torcedores da agremiação na busca por integração com a sociedade.

7. Profissionalização das divisões de base, provavelmente com parceria internacional.

8. Criação de Centro de Treinamentos para qualificação da divisão de base e também de profissionais.

9. Contratação de profissionais de futebol que remetam à objetividade de ocupar o topo da hierarquia do futebol; ou seja, a Série A do Campeonato Brasileiro.

10. Medidas promocionais junto, principalmente, a estudantes do Ensino Fundamental para inocular paixão pelo clube.  



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