Esportes

Vaga da discórdia: Nacional e
Taboão juntos com São Caetano?

DANIEL LIMA - 07/10/2019

Ainda não é uma decisão, mas segue nesse sentido: o Nacional da Capital e o Taboão da Serra podem se juntar ao São Caetano e causar mais complicações à direção da Federação Paulista de Futebol. Essas equipes se posicionaram na 15ª e penúltima colocação nas Série A1, Série A2 e Série A3 do Campeonato Paulista da Primeira Divisão desta temporada. E todos serão protegidos contra rebaixamento se a FPF cumprir o regulamento da Série A1 e rebaixar o Red Bull de Bragança Paulista à Segunda Divisão. 

Essa é uma novidade de CapitalSocial com base em informações preliminares e exclusivas de representantes dos três clubes. Há ainda arestas a ajustar porque há quem tema represálias da FPF. Diferentemente do São Caetano, que decidiu enfrentar o establishment do futebol paulista. 

O efeito-dominó provocado pelo descenso regulamentar do Red Bull não havia sido colocado até agora na mesa de problemas. E deverá ter efeito explosivo caso tanto o Nacional quanto o Taboão da Serra confirmem reação. 

Paralisação geral? 

Uma das repercussões é que as três séries da Primeira Divisão poderão ser suspensas. Bastaria a FPF contrariar o regulamento de cada competição. O potencial isolado do São Caetano é de paralisação das duas primeiras séries. O clube não aceitaria participar da Série A2 e teria as portas da Série A1 fechadas. Daí, recorreria aos tribunais esportivos. E inclusive à Fifa.

No fundo, no fundo, o que vale para o São Caetano, respaldado pelo Parecer Jurídico de André Ramos Tavares, especialista com quilométrico currículo em Direitos Constitucionais e Direitos Desportivos, vale para o Nacional da Capital e também para o Taboão da Serra. 

Tudo por conta de uma operação matemático-jurídico: cada série da Primeira Divisão é disputada por 16 equipes e, diante da queda do Red Bull para a Segunda Divisão, os respectivos penúltimos colocados dentro de campo serão salvos. 

Comunhão normativa 

Traduzindo de forma mais didática: o que vale para o São Caetano na Série A1 vale também para o Nacional na Série A2 e para o Taboão da Serra na Série A3. O terceiro colocado da Série A2 (Água Santa) e o terceiro colocado da Série A3 (Desportivo Brasil) teriam de obter o acesso dentro de campo na próxima temporada, ou esperar que um dos dois finalistas deste ano desista do acesso. 

Embora o regulamento da Série A1 seja diferente do regulamento da Série A2 e da Série A3 em alguns aspectos, há identidade específica quanto ao acesso e ao descenso: sobem apenas duas equipes e descem apenas duas. Ou mais precisamente, seguindo os termos do Parecer Jurídico, abrem-se duas vagas em cada competição, independentemente se dentro de campo, nos Conselhos Técnicos, ou nos tribunais esportivos.  

Há, portanto, uma comunhão normativa para neutralizar os efeitos deletérios da chamada vaga da discórdia, que, para os mal-informados ou pretendentes a mandraquismos, colocaria o terceiro colocado da Série A2 entre os 16 participantes da Série A1 no caso de desistência obrigatória do Red Bull: nos três regulamentos das respectivas séries a viabilidade de acesso do terceiro colocado está vinculada à desistência de um dos dois primeiros colocados, finalistas da competição.

Driblando o regulamento 

Como essa é uma informação da qual a direção da Federação Paulista de Futebol tomará conhecimento apenas quando for informada sobre esta edição de CapitalSocial, é possível que o ambiente se torne mais carregado. O risco é mais abrangente e, portanto, pode provocar medidas reativas. 

Com São Caetano, Nacional e Taboão da Serra remando juntos na mesma direção, é provável que a borrasca interpretativa da Comissão de Assuntos Jurídicos da FPF seja reavaliada. Sobretudo porque dois dos integrantes dessa instância de assessoria ao presidente Reinaldo Bastos são advogados ligados ao Red Bull e ao Água Santa de Diadema. 

O Red Bull quer dar o drible da vaca regulamentar após a negociação com o Bragantino. Pretende garantir uma das 16 vagas da Série A2. Já o Água Santa quer como terceiro colocado sem direito a acesso ocupar a vaga do Red Bull na Série A1.  

Sozinho ou acompanhado

Um dirigente do São Caetano, que atua fora da órbita do presidente Nairo Ferreira, admite a possibilidade de que, com novos parceiros em defesa do regulamento da Primeira Divisão do futebol paulista, a situação do clube ganhará mais impulso e robustecerá eventual ingresso na Justiça Esportiva, inclusive na Fifa, para fazer prevalecer o que foi decidido no Conselho Técnico de outubro do ano passado. Mas adverte, também, que sozinho ou acompanhado, e bem acompanhado, o São Caetano irá até as últimas consequências. 

Desta forma, o Red Bull passou a ser o grande pêndulo da vaga da discórdia. A Resolução da Presidência anunciada mês passado pela Federação Paulista de Futebol mais ajuda do que atrapalha os três clubes em defesa da legitimidade de continuarem nas respectivas competições. 

O presidente Reinaldo Bastos assinou e deu publicidade a instrumento que pretensamente estabeleceria direitos de o Red Bull disputar a Série A2 do Campeonato Paulista. Mas o mesmo documento, redigido de forma imprecisa e confusa, também converte o afastamento do Red Bull da Série A1 a uma vaga automática na Segunda Divisão, a chamada Série B-1.

Centro dos problemas 

O Red Bull é o centro das atenções agora que três clubes querem que o regulamento seja obedecido. Afinal, como faz parte do clube-empresa que também controla o Bragantino, o Red Bull terá de retornar à base do futebol profissional do Estado, a Segunda Divisão. 

O Bragantino é nesta temporada o foco da prioridade da empresa que também controla o Red Bull, cujas ramificações de futebol empresarial se espalham pela Europa. Afinal, a equipe de Bragança Paulista é o caminho mais curto para a multinacional chegar à Série A do Campeonato Brasileiro. 

O Red Bull não consta de nenhuma das quatro divisões do circuito nacional. Há a previsão de que em cinco anos, no máximo, o Bragantino deixaria de ser a embalagem do futebol do conglomerado. Seria apenas um complemento da operação de marketing que colocaria o Red Bull Bragantino como identificação esportiva. 

Quando o presidente da FPF, Reinaldo Bastos, assinou a resolução que, embora confusa, destila intenção de beneficiar o Red Bull com uma vaga na Série A2 da Primeira Divisão, o regulamento da Série A1 foi contrariado e por isso mesmo dá munição à união entre São Caetano, Nacional e Taboão da Serra. 

Atropelando o tempo

Afinal, o rebaixamento ou qualquer verbete que significa a queda de uma equipe na hierarquia do futebol paulista não se dá apenas e exclusivamente dentro de campo. Ocorrências antes, durante e após a competição podem determinar mudanças na classificação final e mesmo na hierarquia estadual. 

A incorporação do Bragantino pela multinacional de energéticos barrou o Red Bull do baile, no caso a Primeira Divisão paulista da próxima temporada.  De imediato, a impossibilidade de disputar a mesma Série A1 do Bragantino desloca a equipe compulsoriamente à Segunda Divisão. Com eventuais acessos no futuro, o Red Bull poderá disputar a Primeira Divisão juntamente com o Bragantino, mas jamais na mesma série. O que a FPF pretende é atropelar a cronologia e instalar o Red Bull de imediato na Série A2. 

O conceito está registrado nas próprias competições da Federação Paulista de Futebol. A Resolução do Presidente procurou burlar o regulamento desta temporada supostamente para sustentar a farsa de vaga na Série A2 para o Red Bull. A medida não tem força substitutiva ao regulamento aprovado pelos clubes há exatamente um ano.

O regulamento da Série A1 (e das demais séries também) só se esgota na legalidade quando forem aprovadas as normas da próxima temporada. E o regulamento desta temporada que só se encerrará durante o Conselho Técnico previsto para este mês determina em todas as séries e divisões do futebol paulista que qualquer equipe está sujeita a rebaixamento (de divisão e não de série) caso não atenda às normas estabelecidas. O Red Bull impedido legalmente de disputar a Série A1 tem lugar reservado na Segunda Divisão. Qualquer decisão diferente é um ato de irregularidade.  

Resta saber se nos próximos dias o Nacional e o Taboão da Serra vão a mesma coragem de lutar pela legalidade como o São Caetano.  



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