Esportes

Vaga da discórdia: forrobodó
da FFP envolve sete equipes

DANIEL LIMA - 10/10/2019

A Federação Paulista de Futebol cavou a própria sepultura de manter-se discreta como gestora da atividade no Estado mais importante do País ao provocar uma confusão dos infernos quando mexeu os pauzinhos para garantir ao renunciante Red Bull uma vaga na Série A2 após concluir que não Série A1 não era possível continuar. 

Como medida conexa e igualmente fora do compasso regulamentar, a FPF anunciou informalmente que o Água Santa de Diadema subiria para a Série A1 sem passar pelo processo normativo. 

Nada menos que sete equipes estão envolvidas no forrobodó que pode terminar, inclusive, na Justiça Comum.

Isso mesmo: nada menos que sete equipes das três séries da Primeira Divisão e da série única da Segunda Divisão de São Paulo se mobilizam para preencher três vagas que se abririam com o rebaixamento compulsório do Red Bull à Série A2 ou à Segunda Divisão. 

As sete equipes em questão são as três que terminaram Série A1, Série A2 e Série A3 na penúltima colocação, ou 15º lugar. Também estão na lista equipes que chegaram em terceiro lugar na Série A2 e Série A3 e a que vai chegar também na terceira colocação na Segunda Divisão, que ainda está na fase decisiva. A sétima é o próprio Red Bull, centro gerador de toda a confusão patrocinada pela FPF. 

Confusão dos diabos 

A pergunta que mais se ouve é a seguinte: como o presidente Reinaldo Bastos e seus atrapalhados assessores jurídicos vão sair da enrascada que, na ânsia de premiar quem não deve ser premiado, eles mesmos se meteram ao enfiar o pé na tábua da libertinagem interpretativa dos regulamentos das quatro competições? 

A bagunça que se prenuncia generalizada pode provocar a paralisação de todas as competições na próxima temporada paulista. Basta que algum dos pretendentes às respectivas vagas faça mesmo o que está anunciando. O São Caetano, é certo, investirá para valer na Justiça Esportiva. O Barretos, segundo matéria da Folha de S. Paulo, vai à Justiça Comum.

Tudo bem que pode existir muita bravata até que se realizem os Conselhos Técnicos, sobretudo quanto à invasão na Justiça Comum, proibida pela legislação até que se esgotem todos os recursos no âmbito esportivo. Tudo bem que exista essa possibilidade de não se confirmarem ameaças. 

No caso do São Caetano parece não existir dúvida: os tribunais esportivos seriam a alternativa inegociável para fazer valer os direitos inalienáveis a que faz jus. Basta, para tanto, que o Red Bull não dispute mesmo a Série A1. E não a disputará porque não existiria possibilidade de desvincular o controle da equipe e também do Bragantino da mesma árvore genealógica de uma holding sob a tutela da companhia de energéticos. 

Blocos antagônicos 

Dois blocos de três equipes com argumentos antagônicos estão no centro do ringue de conflito armado pela Federação Paulista de Futebol. 

De um lado estão São Caetano, Nacional da Capital e Taboão da Serra. Do outro estão Água Santa de Diadema, Barretos e o terceiro colocado ainda não apurado da Segunda Divisão. 

O primeiro bloco é composto de equipes que terminaram na penúltima colocação da Série A1, Série A2 e Série A3. Seriam rebaixados se não houvesse no meio do caminho uma tábua salvadora chamada Red Bull. 

O segundo bloco é integrado por terceiros colocados da Série A2, Série A3 e Segunda Divisão. Seus dirigentes querem ocupar vagas que se abririam por conta do rebaixamento do Red Bull. 

Nas duas situações haveria efeito-cascata. O remelexo geral se daria tanto de uma forma (com o Red Bull sendo rebaixado para a Segunda Divisão, conforme determina o regulamento da Série A1) como também de outra forma (o Red Bull sendo rebaixado para a Série A2).  

Mais antagonismo

Mas há um porém a distinguir o primeiro bloco, dos penúltimos colocados, e o bloco dos terceiros colocados. No caso dos terceiros colocados, apenas o Água Santa se beneficiaria caso a queda do Red Bull se dê à Série A2 e não à Segunda Divisão, a chamada B-1. 

Conclusão da confusão: tanto os três penúltimos colocados quanto os terceiros colocados, exceto o Água Santa, querem que o Red Bull se exploda na Segunda Divisão. Nada mais natural porque, com isso, se abriria uma vaga em cada uma das séries da Primeira Divisão.

Entretanto, quem acha que a confusão dos diabos acabou está muito enganado. O rebaixamento do Red Bull à Segunda Divisão colocará seis equipes em conflito generalizado. O que desune hoje São Caetano e Água Santa na briga pela vaga na Série A1 também colocará no ringue de interpretações o Barretos e o Nacional da Capital na Série A2 e o Taboão da Serra e o terceiro colocado da Segunda Divisão.  

Decifrando a confusão 

Para tentar facilitar o entendimento, vou fazer uma projeção de como esses seis times ficariam distribuídos nas principais séries da Primeira Divisão do Campeonato Paulista caso o Red Bull vá para a Segunda Divisão por força da legislação esportiva que a FPF pretende burlar entre outras razões porque o Red Bull conta com lobby fortíssimo, inclusive nos gabinetes, com um representante jurídico integrando os quadros daquela entidade. 

Se o Red Bull for rebaixado mesmo e legalmente para a Segunda Divisão e a FPF entender que não existe a menor possibilidade de o terceiro colocado da Série A2 e da Série A3 beneficiarem-se do que é proibido pelos respectivos regulamentos, teremos a manutenção do São Caetano na Série A1, do Nacional da Capital na Série A2 e do Taboão da Serra na Série A3. 

Se o Red Bull for deslocado irregularmente à Série A2 e a versão fraudulenta de que o terceiro colocado de cada série da Primeira Divisão e da série única da Segunda Divisão têm direito de subir, teremos o rebaixamento do São Caetano, do Nacional e do Taboão, com os respectivos acessos às séries superiores do Água Santa, do Barretos e do terceiro colocado da Segunda Divisão. 

Tormento no horizonte 

Parece não haver dúvida de que o que parecia uma navegação irregular, mas tranquila da FPF rumo aos respectivos conselhos técnicos da Série A1, Série A2 e Série A3, pode se transformar em tormento jurídico- esportivo e até mesmo comum. 

A situação já se apresenta de tal forma problemática que não faltam rumos no sentido de que a FPF estaria se mobilizando para cortar o mal da controvérsia desnecessária pela raiz de uma nova gambiarra normativa.

Numa primeira versão, busca-se um caminho legalmente seguro para o Red Bull continuar na Série A1. A ação estaria sendo compartilhada com a assessoria jurídica do Red Bull, que também presta serviços à própria FPF, no caso com o advogado André Sica. O Red Bull seguiria com a própria identidade, mesmo em conflito com a legislação esportiva que impede um mesmo grupo controlar duas equipes na mesma divisão.

A segunda versão giraria em torno da negociação da vaga com um terceiro interessado, como o fez o próprio controlador do Red Bull ao incorporar o Bragantino nesta temporada da Série B do Campeonato Brasileiro. Há estudos preliminares, movidos por acordo de bastidores com o Água Santa, que buscaria, caso se utilize a segunda alternativa, introduzir a equipe de Diadema na Série A1 em associação com o Red Bull. 

Mas, nesse sentido, o alerta regulamentar também aparece no horizonte próximo: a emenda seria pior que o soneto porque, caso essa proposta se viabilize, o controlador do Red Bull e do Bragantino também passaria a controlar a equipe de Diadema, mesmo que temporariamente. 

Como se observa, é provável que, quanto mais a FPF mexer na legalidade insofismável do regulamento da Série A2, criando um efeito-dominó, mais o mau cheiro de complicações emergirá. 



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